Sugestões para uma proposta de reformulação curricular no ensino médio
Penso que o erro mais gritante no ensino brasileiro seja sua completa falta de seriedade. Em meio a uma farsa gigantesca, com muitos milhões de participantes, finge-se ensinar e aprender disciplinas como física e química. Quase todos os alunos são sempre aprovados, mesmo que não tenham nenhum conhecimento sobre o assunto.
A mim isso sugere fortemente a criação de um curso, a exemplo do que ocorria no passado com o curso clássico, com apenas uns comentários gerais sobre tais assuntos. Física e química permaneceriam no currículo dos que optassem por isso, mas, nesse caso, deveriam aprender algo sobre o assunto, ou seriam reprovados.
O ensino de matemática sofre algo análogo, mas nesse, impera o flagelo do "adestramento" como já denunciei algures no recanto.
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2449395
Nesse caso, sugiro a proibição do ensino de algoritmos pelos professores, e redução drástica do conteúdo de matemática no curso clássico
Para o curso científico, gostaria de sugerir, experimentalmente, a ampliação do conteúdo de matemática no nível médio, com a inclusão do conteúdo do cálculo diferencial, talvez isso seja viável, seria desejável.
O conteúdo do curso de biologia deve ser reduzido drasticamente. De fato, o conteúdo atual é completamente injustificável e compõe um imenso mosaico de temas ultra especializados completamente inadequados ao ensino médio, onde deveriam ser ensinados os conteúdos fundamentais de cada disciplina. O novo conteúdo de biologia, em um curso cientifico, deveria incluir apenas o ensino de evolução, tema genérico que dá coesão a todo o ensino de biologia.
Já denunciei a imoralidade dos conteúdos de história, advogando uma completa mudança de enfoque. Sugiro a proibição do enfoque na história do poder, na história dos políticos imorais, e a substituição desse tema pelo da história das ideias que alicerçaram a construção de nosso mundo. Propus isso aqui:
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3774258
O curso de português, ao meu ver, incorpora um grande erro, que consiste no ensino explícito de gramática. Embora eu mesmo nada saiba dessa disciplina, suponho que os estudantes brasileiros, e mesmo os professores, saibam ainda menos do que eu a respeito desse tema.
Creio ser possível uma espécie de compreensão implícita da gramática, ou melhor, de seu uso, sem a compreensão explícita de suas regras, sendo isso muito mais importante que o conhecimento das regras. Penso que o ensino de português deveria enfocar, fundamentalmente, o uso correto da boa gramática na escrita, e também na leitura, relegando para segundo plano o conhecimento explícito das regras gramaticais.
Por algumas razões, o ensino de inglês não funciona nas escolas brasileiras. Talvez a causa principal disso seja o excesso de alunos por sala de aula, sugerindo que as turmas fossem divididas. Tal providência, no entanto, talvez seja momentaneamente inexequível Caso o seja, e não se vislumbre alguma forma de ensino de inglês que permita algum aprendizado, o curso, penso, deve ser eliminado. Acredito que a farsa, o fingimento de um curso no qual ninguém aprende nada, consiste em atividade nefasta. Caso se constate a impossibilidade do ensino de línguas nos cursos médios, tal conteúdo deve ser retirado da escola.
Existe ainda uma tendência relativamente recente a se incluir conteúdos subjetivos como sociologia ou filosofia. Talvez o propósito maior desses cursos seja o de camuflar o completo fracasso do ensino brasileiro. Conteúdos subjetivos permitem a atribuição de notas altas sem nenhum aprendizado correspondente, acredito que não devemos correr tal risco.
Eu recomendaria ainda, fortemente, a introdução do ensino de programação de computadores no ensino médio, pelas razões a seguir. A programação de computadores pressupõe o bom uso do raciocínio, sera um canal para o aprendizado implícito de lógica e o exercício do raciocínio, fatores fundamentais na formação de um ser humano.
Além disso, o conhecimento de computação, em nossos tempos, vem ganhando uma importância cada vez maior. Como em qualquer outra linguagem, a idade em que se aprende a língua é importantíssima para a fluência do conhecimento. O aprendizado das linguagens de computação por parte dos jovens é muito mais natural e efetivo que o de pessoas com mais idade.
Tudo isso me leva a sugerir então a divisão do curso médio em um curso clássico e outro científico, a exemplo dos que existiram no passado.
O conteúdo do curso clássico seria:
Português, com ênfase na leitura e na escrita, permitindo, talvez, algum vislumbre da gramática. Historia das ideias que acarretaram a construção de nosso mundo, história das artes.
Geografia e estudos sociais.
Inglês e latim, conforme avaliação de adequação e resultados.
Breves pinceladas em matemática, física, química e biologia, tomando o cuidado de evitar o aprendizado automático, o adestramento por meio de algoritmos.
O curso científico deve constar de:
Matemática (despojada do artifício do uso de algoritmos para a solução de problemas, e acrescida do cálculo diferencial).
Programação de computadores.
Física
Química
Evolução
Português (forte ênfase no ensino da leitura e da escrita, esvaziamento do ensino explícito de gramática).
História das ideias (ênfase em história das ciências).
Geografia e geologia (breves pinceladas evitando a ênfase na memorização de conteúdos).
Os vestibulares de exatas e humanas exigiriam conteúdos correspondentes a esses.
As notas das avaliações seriam efetivas, e a aprovação pressuporia um aprendizado mínimo dos conteúdos estudados.