Sobre a carência geral ou o fingimento do poeta
A carência ou fingimento do poeta podem ter todas as interpretações possíveis, mas sempre haverá uma, secreta, que nem mesmo o poeta se dá conta.
Viver na atualidade é ser obrigado a estar conectado, participar de todas as atividades, saber tudo o que acontece no mundo todo, estar ligado e antenado ao burburinho da vila e da aldeia global. E esta conexão, o sentimento e certeza de pertencimento, tanto conforta quanto deprime, pois a vida não se resume a coletar e entupir a memória com informações. Viver é mais que ser bombardeado a cada instante e responder instintivamente ao bombardeio. Viver talvez seja, também, poder ficar inerte, se alienar, observar, ouvir, refletir sobre si e sobre o outro, se ver de dentro pra fora e se ver de fora pra dentro, pelo olhar do outro. Viver também é se incomodar, mudar de rumo, se mover.
Movimento pressupõe sair da zona de conforto e buscar algo mais. Fico imaginando sobre o que dá prazer e move as pessoas. Muita gente se movimenta em busca de alimento, sobrevivência, à procura de sentimento puro, esperança de dias melhores, realização de sonhos, suprir carências e necessidades; outras se movem pela fé, instinto, fuga da violência, medo da morte, em busca da cura para doenças do corpo e da alma, para encontrar companhia, festa, sexo, diversão, por vaidade, futebol, prazer, amor, competição, vício, cachaça, exibicionismo, conhecer lugares, conquistar algo que lhes proporcione poder.
O exercício do poder pressupõe embate, debate, riscos, compartilhamento, convivência, perigo de perder terreno. Sem parar para ver e sentir o outro, o resultado pode ser fragilidade das relações, medo das perdas e da solidão, fuga dos sentimentos, banalização dos sentimentos, aumento da baixa-estima e dificuldade para lidar com decepções. Na corrida louca da vida as pessoas querem respostas, fazem perguntas mas, movidas pela pressa, não querem ouvir, não querem escutar. Sem troca, as carências aumentam e, até mesmo os poetas, exímios fingidores, sucumbem na batalha. Quem resistir fará parte do rol de vencedores. Os que caírem no caminho serão esquecidos na sarjeta e acusados de fracos, incompetentes, preguiçosos, indolentes e culpados pela própria sorte.
A TARDE, Populares, 02 de novembro de 2012, pág. 6
Viver na atualidade é ser obrigado a estar conectado, participar de todas as atividades, saber tudo o que acontece no mundo todo, estar ligado e antenado ao burburinho da vila e da aldeia global. E esta conexão, o sentimento e certeza de pertencimento, tanto conforta quanto deprime, pois a vida não se resume a coletar e entupir a memória com informações. Viver é mais que ser bombardeado a cada instante e responder instintivamente ao bombardeio. Viver talvez seja, também, poder ficar inerte, se alienar, observar, ouvir, refletir sobre si e sobre o outro, se ver de dentro pra fora e se ver de fora pra dentro, pelo olhar do outro. Viver também é se incomodar, mudar de rumo, se mover.
Movimento pressupõe sair da zona de conforto e buscar algo mais. Fico imaginando sobre o que dá prazer e move as pessoas. Muita gente se movimenta em busca de alimento, sobrevivência, à procura de sentimento puro, esperança de dias melhores, realização de sonhos, suprir carências e necessidades; outras se movem pela fé, instinto, fuga da violência, medo da morte, em busca da cura para doenças do corpo e da alma, para encontrar companhia, festa, sexo, diversão, por vaidade, futebol, prazer, amor, competição, vício, cachaça, exibicionismo, conhecer lugares, conquistar algo que lhes proporcione poder.
O exercício do poder pressupõe embate, debate, riscos, compartilhamento, convivência, perigo de perder terreno. Sem parar para ver e sentir o outro, o resultado pode ser fragilidade das relações, medo das perdas e da solidão, fuga dos sentimentos, banalização dos sentimentos, aumento da baixa-estima e dificuldade para lidar com decepções. Na corrida louca da vida as pessoas querem respostas, fazem perguntas mas, movidas pela pressa, não querem ouvir, não querem escutar. Sem troca, as carências aumentam e, até mesmo os poetas, exímios fingidores, sucumbem na batalha. Quem resistir fará parte do rol de vencedores. Os que caírem no caminho serão esquecidos na sarjeta e acusados de fracos, incompetentes, preguiçosos, indolentes e culpados pela própria sorte.
A TARDE, Populares, 02 de novembro de 2012, pág. 6