MARX, Karl - Filósofos Modernos e Contemporâneos
MARX, Karl Heinrich
1818 – 1883
A história de todas as Sociedades até hoje existentes é a história da luta de Classes. A “Luta de Classes”, “A Dialética Materialista ou o Materialismo Dialético”, “A Mais Valia”, “O Exército de Reserva”, “a Práxis”, “o Manifesto Comunista”, “O Capital (Das Kapital)”.
Já se disse que tudo que se escreveu sobre Filosofia não passa de simples “notas de rodapé” para os textos que Platão redigiu ao expor o seu Ideário.
Subtraindo-se algum exagero na afirmação, ainda resta a constatação quase unânime acerca da importância que o sábio grego tem para a Cultura do Ocidente.
Ressalvando-se as proporções e as circunstâncias, não será de todo errado dizer o mesmo acerca de MARX. Novamente subtraindo-se algum exagero, vê-se que o seu Pensamento embasou o Ideário de praticamente todos os Pensadores Modernos e Contemporâneos.
Seja como adeptos ou como adversários, o certo é que todos navegaram em suas águas, ao refletirem, investigarem e analisarem as questões Políticas, o Mundo e a própria Humanidade.
Dessa sorte, nada mais apropriado de que iniciar essa OBRA com o Ensaio que focaliza esse genial alemão, cuja soma de Erudição, Cultura, Inteligência e Generosidade, o fez eterno nos anais da história e, mais importante, perene nos corações de todos aqueles que insistem em sonhar com um Mundo e uma Sociedade mais justa e fraterna.
Aprendeu-se com ele que o exercício da “Esperança” pode e deve ser estudado com o rigor da Ciência e que a mudança está sempre ao alcance daqueles que conseguem libertar-se do egoísmo medíocre que a Moral Burguesa forjou como padrão a ser seguido.
Na época em que o Brasil era dado como “oficialmente descoberto”, florescia na Itália o gênio de Nicólo Maquiavel (1469 – 1527) que em c. 1513 já aludia sobre a questão da “Luta de Classes” que permeava as antigas sociedades e, especialmente, a romana, conforme se lê em sua obra “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”.
E vários outros exemplos a pena de Maquiavel poderia relatar com facilidade, pois o embate sempre esteve presente em todos os Agrupamentos Sociais.
De um lado a “Classe Dominante”, do outro, a “Classe Dominada”.
Se antes os antagonistas eram Nobres contra Servos, Aristocratas contra Plebeus, Latifundiários contra Camponeses etc. a partir da Revolução Industrial ocorrida no Reino Unido a partir de meados do século XVIII (e espalhada pelo Mundo desde o inicio do século XIX), os adversários passaram a ser englobados em apenas duas categorias:
1. A Burguesia*.
2. O Proletariado**.
Hodiernamente várias subcategorias foram estipuladas e outras nomenclaturas foram criadas, mas o fato é que o litígio continua a ser basicamente o mesmo, pois o que o motiva permanece intocado: a injustiça social.
NOTA do AUTOR – pede-se que o leitor não confunda o conceito de “meritocracia” com o de “injustiça”, pois se é plenamente aceitável que cada qual ganhe de acordo com seu talento e com seu esforço, é profundamente questionável que alguns que vivam nababescamente apenas por terem nascido em lares ricos (e que por isso, tiveram boa educação, alimentação condizente, boas condições de moradia etc.) e disputem com trunfos indevidos os empregos, as vagas universitárias, as posições sociais etc. com aqueles que por infortúnio foram gerados e criados em lares carentes. Ou ainda pior, que vivam em fausto injusto apenas porque herdaram a sua fortuna sem terem feito absolutamente nada para merecerem a vida confortável que levam. Note-se, pois, que o conceito de “Injustiça Social” não implica em fazer com que todos sejam nivelados por baixo, mas justamente o contrário. “Justiça Social” é dar oportunidades efetivas para que todos possam buscar a própria realização.
Aqui chegados, será oportuno uma palavra acerca da gênese da citada “Injustiça Social”. O que leva o Homem a comportar-se como um simples animal, cujo interesse é apenas a sua própria satisfação?
Provavelmente é exatamente essa sua condição de “animal”. Milênios de civilização não foram suficientes para apagar em nossa psique alguns instintos animalescos. Ainda continuamos a preservar com ferocidade o “nosso espaço”, a “nossa comida” e a satisfação de nossas necessidades mais básicas, físicas, materiais.
É certo que tais instintos, por força da repressão social, foram atenuados e alguns sentimentos mais nobres afloram em algumas ocasiões. Mas no intimo somos escravizados por nossas ambições, por nossa ganância, por nosso medo de sermos rejeitados se nada possuirmos. Somos, ao cabo, escravizados pelo pavor de nos sabermos frágeis e de que só existimos quando refletidos em posses e propriedades.
A partir, então, dessa constatação é possível ver que a “Justiça Social” nunca poderia ocorrer de forma voluntaria, espontânea, pacifica, pois quantos se disporiam a abrir mãos de seus bens em favor da coletividade?
Logo, a “Luta de Classes” será perene, pois aqueles que possuem os “Bens Materiais” tudo farão para mantê-los e aumentá-los; enquanto aqueles que não os possuem, tudo farão para conquistá-los.
É como uma sina da humanidade, permeada por violências de toda sorte, que certamente ainda terá um longo caminho a percorrer até que consiga se libertar da bestialidade de seu comportamento atávico.
Alguns otimistas veem, ou querem ver, um abrandamento dessa natureza selvagem. Alguns pessimistas, ou realistas, julgam-na em aumento constante devido ao endeusamento ao Poder Material que a cada dia mais se consolida em nossa sociedade.
São pontos de vista que derivam e se deixam à escolha, mas o certo é que os motivos de antes ainda estão presentes e atuantes e com isso se vê a atualidade da obra marxista. Aliás, tanto quanto a necessidade de estudá-la sem pré-julgamentos, ou pré-conceitos, pois talvez a apreensão da nossa verdade seja o único caminho que poderá nos oferecer alguma perspectiva positiva.
Karl foi o segundo a nascer em uma prole de nove filhos. Veio ao Mundo no seio de uma família judaica, de classe média, na cidade Tréveris, na Prússia, então parte do Império Alemão.
Henriette Pressburg, sua mãe, era judia holandesa e seu pai, Herschel MARX, descendia de uma linhagem de Rabinos, mas teve que abandoná-la e se converter ao Cristianismo em decorrência das restrições que se faziam ao ingresso de hebreus no Serviço Público, onde ele, advogado por oficio, exerceu o cargo de Conselheiro de Justiça.
Apesar dessa apostasia, o cargo permitiu-lhe oferecer boas condições materiais ao jovem Karl e aos seus irmãos e irmãs que desfrutaram de uma infância confortável e do acesso a boas escolas. Ele iniciou seus estudos no Liceu de Friedrich Wilhelm, na cidade natal, e como nesse mesmo ano eclodiram rebeliões em várias nações europeias, pode-se dizer que sua entrada no “Mundo exterior, ou adulto” foi marcada pela ocorrência daqueles Movimentos Políticos que no Futuro embasariam o cerne de seu Pensamento.
Posteriormente o jovem MARX ingressou na Universidade de Bonn para estudar Direito, mas logo no ano seguinte transferiu-se para a Universidade de Berlim onde teve contato com a Filosofia de Hegel (Georg W. Friedrich, 1770 – 1831, que foi Professor e Reitor da Instituição) que exerceu uma influência decisiva em seu Ideário posterior.
Na capital alemã, MARX ingressou no Clube dos Doutores, liderado por Bruno Bauer e abandonou definitivamente o estudo das Leis para abraçar o de Filosofia.
Também nessa ocasião participou ativamente de Movimentos Políticos Filosóficos como Os Jovens Hegelianos e começou a exercitar de maneira sistemática seus dons literários.
Em 1841, obteve o titulo de “Doutor em Filosofia” após defender a tese sobre “As diferenças da Filosofia da Natureza em Demócrito e em Epicuro”. Porém, tendo sido impedido de seguir a carreira acadêmica, tornou-se em 1842 o Redator-Chefe da “Gazeta Renana”, um pequeno jornal da Província de Colônia, Alemanha.
Também em 1842 conheceu Friedrich Engels com quem manteve fraterna amizade e parceria política e literária por mais de quatro décadas e que chegou a lhe sobreviver, pois foi o amigo Engels quem se incumbiu de Editar suas obras, após o seu falecimento.
Sobre a amizade de Engels é oportuno que se diga que em várias ocasiões ele atuou como um verdadeiro mecenas ao socorrer MARX que vivia em constantes apuros financeiros. E, também, que não são poucos os Eruditos que lhe creditam um papel essencial no desenvolvimento do Pensamento Marxista, já que além de sua importante participação no campo teórico e literário – tendo sido inclusive o coautor de vários textos – foi graças à sua generosidade que o brilho de gênio de Karl não terminou sufocado pelas preocupações menores das exigências do cotidiano.
Envolvimento Político
Em 1843 a Gazeta Renana foi fechada por ordem do Governo, em represália a uma serie de artigos que criticavam duramente a Administração Prussiana.
Desempregado, MARX e a família emigraram para a França. Família, aliás, que ele iniciara em Junho desse ano ao se casar com Jenny Von Westphalen, filha de um barão prussiano, com quem mantivera um noivado secreto em virtude da desaprovação que as famílias de ambos tinham do relacionamento.
Em Paris, MARX assumiu a direção da revista Anais Franco Alemães e manteve contato com diversas organizações secretas de Socialistas.
Na vida pessoal (primeiro em França e depois em Londres) as condições eram dificílimas e em virtude da penúria recorrente em que vivia a família, o casal perdeu quatro dos sete filhos que gerou. Outro filho de MARX – o fruto de uma relação extraconjugal com uma empregada da casa e militante socialista chamada Helena Demuth – foi assumido por Engels, que pagou pensão à criança e a entregou para uma família Proletária londrina em adoção.
No terreno da Política, ainda em 1843, MARX fez contato com a Liga dos Justos, que depois foi rebatizada como Liga dos Comunistas; e em 1844 iniciou efetivamente a parceria de trabalho com o amigo Engels.
Também nessa ocasião inicia uma série de debates com o Filósofo Proudhon (Pierre Joseph, 18909 – 1865, francês) e um proveitoso relacionamento com o Anarquista russo chamado Bakunin (Mikhail Aleksandrovitch, 1814 – 187, Rússia), ativo militante Socialista que havia se refugiado na França do Czarismo russo.
Esses encontros, debates e relacionamentos completavam os estudos que MARX realizava continuamente sobre a Economia Política, os Socialistas Utópicos Franceses e a História da França e foi desse conjunto de informações e reflexões que nasceu a sua primeira obra de reconhecida importância – Manuscritos de Paris, posteriormente chamados de Manuscritos Econômico Filosóficos, e, segundo Engels, a sua convicta adesão às Ideias Socialistas.
Ainda em Paris, MARX ajudou a editar um pequeno jornal – Vorwarts! – que tinha como linha editorial a critica constante ao Governo alemão. E por causa dessa postura, MARX acabou sendo expulso do país em 1845, a pedido da Prússia.
Da França emigrou para a Bélgica e em Bruxelas encontrou-se com Engels que também se mudara para lá. Ali, a dupla redigiu o célebre Manifesto Comunista, que traz a essência do Pensamento Marxista.
Porém, em 1848 o Filósofo também foi expulso da Bélgica e junto do amigo e parceiro mudou-se para Colônia onde fundaram um novo jornal – Nova Gazeta Renana – cuja linha editorial era a mesma das publicações anteriores, não poupando de censuras as autoridades locais que em resposta os expulsaram no ano seguinte, 1949.
Apesar das mudanças, MARX pôde dar nos últimos anos boas condições materiais para a família graças aos rendimentos que auferia com suas publicações e com as doações que recebia de amigos e aliados, além da herança que recebeu com a morte do pai.
Porém, ao deixar Colônia, a penúria voltou a lhe assombrar e só a muito custo a família conseguiu retornar a Paris, mas ali o Governo proibiu a sua permanência. Foi necessária, então, uma campanha de arrecadação de fundos, promovida por Ferdinand Lassalle (considerado o precursor da Social Democracia alemã, 1825 – 1864), na Alemanha para que com os recursos obtidos a família pudesse chegar a Londres onde se fixaram em definitivo.
A partir de 1881, deprimido pela morte da esposa, MARX viu seus problemas de saúde se agravarem até que em 1883 veio a falecer.
Foi enterrado no cemitério londrino de High Gate, na condição de apátrida. Ironicamente, porém, o fato de lhe terem negado uma nacionalidade fez justiça à universalidade de se gênio. Uma inteligência como a sua não poderia ficar restrita a um só País. Pertence a todos os povos.
O Pensamento de MARX
Para não fugir à regra das ideias brilhantes que só fulguram após a morte de quem as teve, às de MARX tiveram pouca repercussão enquanto o Filósofo viveu.
O interesse mais significativo ocorreu na Rússia que já vinha experimentando uma série de contestações ao Regime Monárquico dos Czares, mas sem que houvesse uma ideologia capaz de catalisar todas as insatisfações.
Ali, em 1872, foi publicada a primeira tradução de O Capital – Tomo I. Na Alemanha, porém, só em 1879 é que a sua obra começou a ser conhecida graças ao estudioso de Economia Política Adolph Wagner, que comentou o Ideário Marxista ao longo de sua obra, Allgemeine Oder Theoretische Volkswirthschafts Lehre.
Contudo e graças a esse impulso inicial, o Pensamento Marxista ganhou fôlego e pouco após a morte do Filósofo, as suas teorias já obtinham crescente influência intelectual e política entre os Movimentos Operários que ao final do século XIX tinham no Partido Social Democrático Alemão a sua principal arena de debates.
Influência que também crescia, embora com menos ímpeto, entre os círculos acadêmicos ligados aos estudos das Ciências Humanas (Filosofia, Antropologia, Sociologia, Política, História etc.), principalmente nas Universidades de Viena e de Roma, que foram, aliás, as pioneiras em ofertar cursos sobre o Marxismo.
É consenso que MARX é legitimo continuador da grande Filosofia alemã, ombreando com Kant e Hegel e aproximando-se de Pensadores do porte de Aristóteles, de quem era adepto. Todavia, embora ele seja comparado a Hegel e sendo dele um sincero admirador, MARX discordava de sua Filosofia Idealista, através da qual se afirmava que “da Realidade se faz Filosofia”; ou seja, a Filosofia é apenas uma reflexão passiva sobre uma conjuntura colocada.
Afinal, para ele, MARX, a “Filosofia deve incidir sobre a Realidade”; isto é, não basta que ela divague ou que especule, ou que pense sobre a Realidade. Cabe à Filosofia alterar essa Realidade.
Segundo ele, para “mudar o Mundo” é imperioso vincular o Pensamento, a Teoria, com a Prática, com a Ação Revolucionária (aqui no sentido de revolucionar, ou mudar drasticamente, completamente, os valores, os costumes, os padrões etc.). Vinculação que MARX conceituou, ou definiu como Práxis: a união entre a Teoria e a Ação, como veremos adiante.
Com o avanço nos estudos sobre as Ideias de MARX, inúmeras variantes surgiram e sua Teoria ganhou uma série de novos conceitos, subconceitos, variantes etc. Contudo, o cerne de sua Tese é a censura radical às Sociedades Capitalistas.
Todavia, a sua genialidade criou o diferencial que não a deixa cair na vala comum das criticas que se esgotam em bravatas estéreis.
MARX, aliás, se posiciona contra essa inútil rebeldia e avança em sua oposição ao combater qualquer separação entre a Teoria e a Prática, entre o Pensamento e a Realidade, pois essa divisão é uma mera abstração, já que o corpo e a mente estão indissoluvelmente ligados e perfazem uma totalidade complexa.
Para ele, a Revolução pensada, sonhada, desejada deve ser realizada concretamente sob a pena de não ter passado de uma tola e infantil, senão covarde, rebeldia. E justamente por conta desse apego aos fatores físicos é que o Marxismo é formado segundo a ideia de que a História Humana foi e é determinada pelas circunstâncias materiais, físicas, concretas e Não pelo “progresso do espírito”, pela “evolução da mente”, pelo “desenvolvimento do pensamento”.
Contudo, apesar de conceder essa supremacia à Matéria em detrimento das Ideias, a Doutrina rejeita qualquer noção de Determinismo (ie, a noçao de que os fatos, os objetos, os Seres são da maneira que são por um desígnio “divino”, ou da “natureza”, independentemente da vontade e da participação humana).
Dessa sorte, não é possível entender os conceitos Marxistas (por exemplo – “Força Produtiva”, “Mais-Valia” etc.) sem se considerar que o Processo Histórico* é feito pelo movimento dos fatos e circunstâncias concretas, materiais e Não por conceitos abstratos, já que estes são apenas o reflexo da Realidade física, ou uma “Abstração do Real”.
Para MARX, o Trabalho (intelectual, braçal, primário, complexo etc.) é o centro da atividade humana. É a base, a fundação sobre a qual se assenta a própria humanidade, já que é das Relações de Trabalho, ou Relações de Produção, que surgem todas as outras relações (as “Relações Sociais”) entre os indivíduos, embasando, por sua vez, todo o processo de formação da humanidade. A História, pois, é o registro das Relações de Produção, ou de Trabalho, posto que essas que governam todas as demais.
A partir da importância dada ao Trabalho é que o Filósofo desenvolveu sua tese que identifica a Alienação* do trabalho como a alienação básica que acontece em todas as outras áreas.
Alienação* - é um processo relacionado à ação, à consciência e à situação do Homem, cujo objetivo é ocultar ou falsificar essa relação ou ligação entre “Ação e Consciência” e com isso fazer parecer que o produto, ou a mercadoria produzida, é superior, independente, indiferente ao Homem que a produziu. Mais especificamente, é a situação resultante de fatores e circunstâncias materiais, concretas que são dominantes nas Sociedades Capitalistas em que o trabalho do Homem é feito de modo que produza coisas (objetos, mercadorias, produtos) que são imediatamente separadas de seus interesses e colocadas além de seu alcance (o operário que produz um carro de luxo é um exemplo clássico dessa situação), para se transformarem indistintamente em simples mercadorias.
A partir dessa base filosófica é que MARX pensa sobre as outras Ciências, cujo estudo, aliás, foi profundamente influenciado pela sua compreensão da Realidade, a qual, aliás, é sobejamente reconhecida por sua consistência.
As Influências
Para formatar seu Ideário, MARX sorveu partes dos Pensamentos de alguns Eruditos. Dentre outros, citaremos a seguir aqueles de maior importância:
- A Filosofia alemã de Kant, Hegel e a dos chamados Neo-Hegelianos, com ênfase em Feuerbach.
- o Socialismo Utópico de Saint-Simon, Robert Owen, Louis Blanc e Proudhon. Sobre este último, aliás, paira a dúvida sobre o acerto de incluí-lo na malta dos Utópicos, haja vista sua posição favorável à radicalização política.
- a Economia Clássica dos britânicos, Adam Smith, David Ricardo e mais alguns.
Adiante abordaremos estas influências separadamente, embora devam ser compreendidas como complementares na formação de seu Sistema Político Filosófico; bem como outros aspectos relevantes do Sistema.
A Formação das Classes Sociais
No berço da civilização os indivíduos eram os responsáveis diretos por produzir tudo de que necessitassem (comida, roupas, armas, utensílios etc.) para si mesmos e para os seus mais próximos.
Quando as primeiras Sociedades começaram a se organizar, as pessoas passaram a contar com o labor das outras e cada qual passou a fazer aquilo que melhor se lhe adaptava.
Essa estruturação levou ao surgimento do “escambo” e/ou das “barganhas” no qual fulano trocava o que produzira por aquilo de que necessitava e que fora produzido por sicrano. Uma forma rudimentar de “Relações Comerciais” que foi magistralmente descrito pelo Economista Adam Smith (Escócia, 1723 – 1790).
MARX concordava com a afirmativa do escocês de que foi justamente nesse momento que se iniciou a “Especialização no Trabalho”, mas ressaltava que essa mesma especialização também passou a lhes servir como rótulo, ou classificação. Passou a definir as suas posições dentro do contexto social.
Qualquer que seja a especialização, ou ocupação, ou profissão (desde a de um humilde lavrador até a de um iminente Jurista) passou a servir (e em alguns casos para justificar conceitos e pré-conceitos) como indicativo de como seria a vida física, material, de seu titular. Passou a servir para ditar onde e como esse indivíduo moraria, o quê comeria, o quê vestiria etc.
Ademais, impunha com quem o sujeito poderia, ou não, se relacionar, compartilhar seus interesses. E contra quem os seus interesses colidiriam. Passou a determinar quem seriam os seus aliados e os seus adversários.
Estava, pois, arquitetado o “Sistema de Classes Socioeconômicas” que é à base de todo Regime Capitalista, pois nele o que diferencia um indivíduo do outro é a quantidade de Capital (oriundo inclusive da profissão que se tem) que cada qual possui.
De acordo com MARX, houve quatro estágios na história humana que se vinculam às quatro diferentes formas que teve o Regime de Propriedade. A saber:
1. Sistema Tribal (a propriedade era comum, da coletividade)
2. Sistema de Propriedade Comunal e Estatal (onde teve inicio a Propriedade Privada e a Escravidão).
3. Sistema Feudal de Propriedade (onde a titularidade da propriedade era de um único Senhor).
4. Sistema Capitalista Moderno (em que a propriedade está concentrada nas mãos de quem detém o Capital).
Cada um desses estágios, segundo o Filósofo, representa uma forma diferente de Sistema Econômico, ou de Modo de Produção e as transições de um para o seguinte são marcadas por acontecimentos políticos turbulentos – como guerras, revoluções etc. – que levaram às quedas de Classes Dominantes com as previsíveis substituições pelos vencedores dos conflitos.
Valores da Burguesia
Além das óbvias implicações econômicas, para MARX, outra característica dessas alterações no Regime de Propriedade é o fato de que a Burguesia – enquanto a máxima controladora desse processo – não deixou sobreviver nenhuma ligação entre as pessoas que Não fosse o “interesse próprio, escancarado”. Forçou a substituição da antiga solidariedade, pela acirrada competição. Impôs que doravante só existiria o “desumano pagamento em dinheiro”, com o consequente fim do escambo, ou da simples troca de favores.
Anteriormente as pessoas eram valorizadas, estimadas, queridas pelo que eram e pelo que faziam. O exercício do trabalho artesanal, aliás, era uma das principais fontes desse reconhecimento, pois a habilidade do indivíduo ao prestar o seu oficio e a serventia do mesmo para a coletividade, garantiam ao mesmo o respeito e a valorização dos demais.
Porém com a ascensão burguesa o valor da pessoa reduziu-se a um mero “valor de troca”. Valores morais, éticos, religiosos e até os sentimentais foram eliminados, esquecidos, enquanto se dava o Processo que transformava a todos (de Cientistas a Poetas, de Engenheiros a Padres) em simples e anônimos “trabalhadores assalariados”.
Segundo MARX, onde havia “ilusões religiosas”, a Burguesia as substituiu pela “exploração descarada, direta, brutal de um homem por outro homem”. Decretos e Leis que antes protegiam as “Liberdades Individuais” foram sumariamente atropelados por uma falsa e irracional “Liberdade de Mercado”, pela noção de “Livre Comércio”.
Desse modo, para o Filósofo, a única solução seria que todos os “Meios de Produção” – a terra, as fábricas, as máquinas, as ferramentas, o Capital etc. – fossem transformados em “Propriedade Coletiva”, pois, então, cada indivíduo poderia trabalhar conforme a sua capacidade e sua habilidade e poderia consumir conforme a sua real necessidade, sem os penduricalhos fúteis que a Propaganda Capitalista torna “necessários” através da “lavagem cerebral” que faz no Proletariado, o qual, novamente, torna-se vitima devido a essa outra forma de exploração.
Instituições Culturais
Segundo MARX, uma análise da base econômica de uma Sociedade nos permite saber que quando o Sistema de Propriedade se altera (quando, por exemplo, as riquezas passam das mãos da nobreza para as da burguesia) também se altera a Superestrutura* da mesma.
NOTAS do AUTOR - *Superestrutura – a política, as leis, a Filosofia, a arte, a religião etc. O conjunto de elementos e valores abstratos pertencentes e diretivos de uma Sociedade.
Tomando-se o exemplo de Nobres e Burgueses vê-se com clareza, no campo das Artes esse tipo de alteração. A música, por exemplo, da Nobreza caracterizava-se por certo requinte, densidade, elegância e outros atributos considerados superiores. Já a da Burguesia passa a expressar nas “modas populares” a indigência intelectual e artística que a falta de educação e de cultura ocasiona no gosto e na sensibilidade das pessoas. Ainda que as tais sejam as novas detentoras do Poder Econômico. Aliás, é comum o sarcasmo com que é visto o gosto duvidoso dos chamados “novos ricos”.
Como se sabe, a Superestrutura (enquanto conjunto de ideias, valores, conceitos etc. que norteiam uma Sociedade) se desenvolve para servir aos interesses da Classe Dominante, promovendo as “suas verdades” e “legitimando” as suas aspirações e os seus atos, enquanto desvia a atenção do Proletariado das efetivas questões socioeconômicas.
Todavia, nem mesmo essa Classe Dominante é quem, de fato, determina os acontecimentos ou as próprias Instituições.
O que efetivamente controla, organiza e determina os fatos de uma época é aquilo que Hegel chamava de Zeit, ou “Espírito da Época”, o qual, ao cabo, seria o resultado da soma, ou da média, das noções individuais dos cidadãos do lugar e do momento.
MARX concordava parcialmente com a ideia hegeliana, mas onde Hegel via o Zeitgeist como um “Espírito Absoluto (ie, o predomínio absoluto das ideias, da mente, da abstração)” que se desenvolve ao longo do tempo, ele enxergava esse “Espírito da Época” como a resultante das Relações Socioeconômicas existentes entre os indivíduos e os grupos que nela habitavam. Tais Relações é que formavam de fato o Ideário daquele momento, ou a Consciência (ou conscientização) de indivíduos e Sociedades. Para MARX, as pessoas Não deixam uma marca pessoal em seu tempo, moldando-o segundo sua vontade. Ao contrário, é o momento, ou a época, que moldam os indivíduos e os Grupos Sociais.
Essa revisão que Max fez na Filosofia Hegeliana – do “Espírito Absoluto” para os “Modos de Produção” e as “Relações Socioeconômicas” como a formadora do “Espírito da Época” – foi seguramente influenciada pela Filosofia de outro alemão, Feuerbach (Ludwig, 1804 – 1872), cuja tese central consistia na crença de que a Religião é uma sórdida farsa, que não pode ser amparada por nenhum Pensamento Lógico Racional, e que contribui decisivamente para manter a miséria humana.
Para Feuerbach, as pessoas criam “Deuses” ou “Deus” à sua imagem e semelhança (a ironia do mesmo não foi aleatória) e lhes atribuem as grandes virtudes (generosidade, inteligência, justiça etc.) da Humanidade. A partir de então se apegam a estas Entidades Divinas que inventaram e optam em viver “sonhos” ao invés do Mundo Real.
NOTA do AUTOR – outro Filósofo, Nietzsche, sobre essas invenções, disse que eles “são humanos, demasiado humanos”; ou seja, sua gênese nada tem de Divina, pois não passam de meras criações da mente humana, cujas origens, com o tempo são esquecidas e, então, atribuídas ao Divino. As pessoas se alienam de si mesma por meio de uma comparação sempre desfavorável entre seu próprio “eu” e o “Deus” que elas criaram.
A Influência do Idealismo (ou de Hegel)
Dois pontos na Filosofia hegeliana influenciaram deveras o jovem MARX: a Filosofia da História e a Dialética.
Hegel, como se sabe, adotava o conceito de Devir criado pelo Filósofo pré-socrático Heráclito. Assim, para ele, nada no Mundo é estático, fixo, imóvel. Ao contrário, tudo está em constante movimento, em perpétuo processo de vir-a-ser. Portanto, tudo é histórico.
O Sujeito desse Mundo em Movimento é o Espírito do Mundo (ou a Superalma, ou a Consciência Absoluta) que, em essência, é a soma ou a média das Consciências Individuais (ie, a Consciência de cada homem).
É a representação da Consciência Humana Geral, comum a todos os indivíduos, pois inobstante as diferenças pontuais, todos os homens possuem uma essência em comum. Representação que também é expressa no formato de Deus.
A história, segundo essa teoria, é entendida como o desenvolvimento, ou o progresso das Ideias, do Espírito, da Mente. É o desenvolvimento, ao cabo, da Consciência da Liberdade*, já que após percorrer uma trajetória – ou a sua história – a Consciência individual liberta-se do jugo da matéria e da servidão ocasionada pela ignorância.
Consciência da Liberdade* - conceito que pode ser mais bem entendido da seguinte maneira: a formatação da Sociedade em seus aspectos concretos, físicos, materiais, obedece às normas ditadas pelas Ideias; ou seja, a Realidade é formada pelas ideias e concepções humanas que concebem como deve ser a Vida Social em função do conflito existente entre Ideias de Liberdade versus Ideias de Coerção, que são as imposições que o remanescente instinto animal impõe ao Homem. O Ser Humano se liberta progressivamente desses baixos instintos através de um processo de espiritualização, ou de evolução mental. Processo que em resumo é um conjunto de reflexões filosóficas que o leva a perceber que é o Sujeito efetivo da história (ou da realidade, da sua própria existência).
Durante algum tempo, MARX seguiu a Corrente dos hegelianos de esquerda, mas rompeu com o grupo e efetuou uma severa revisão em seus conceitos baseados na Teoria de Hegel, após se aproximar das teses de Feuerbach*.
Ludwig Feuerbach – Filósofo materialista que gozou de muita popularidade entre os Intelectuais que lhes foram contemporâneos. Em 1841, publicou a “Essência do Cristianismo” que teve influência decisiva sobre MARX, sobre Engels e outros “jovens hegelianos”. Nessa obra, Feuerbach critica duramente o Ideário de Hegel e afirma que a Religião não passa de uma projeção dos desejos humanos e numa forma de alienação. Foi através de sua leitura que MARX concluiu que a “Dialética Hegeliana” estaria de “cabeça para baixo” porque mostra o Homem como um atributo do Pensamento, ao invés de ser o Pensamento um atributo humano.
Porém, de antes, MARX conservou a concepção de que a história é uma marcha, uma caminhada dialética (ie, o Mundo está em movimento contínuo graças aos atritos entre os opostos [tese x antítese = síntese] não sendo, portanto, estático), mas passou a rejeitar peremptoriamente a ideia de que o Espírito ou Mente do Mundo é a essência, ou o sujeito do mesmo.
Propôs que a origem da Realidade Social (ou seja, os fatos, as circunstâncias, as situações que comandam o Grupo Social) Não está nas Ideias, na Consciência que os Homens têm dessa Realidade. Está, sim, na ação concreta, física, da humanidade, ou no Trabalho do Homem.
Afinal, a existência material vem antes de qualquer Pensamento e não há a menor possibilidade de se Pensar em algo que não existe concretamente.
NOTA do AUTOR – note-se nesse último parágrafo uma das sementes do futuro Existencialismo.
NOTA do AUTOR – alguns discordam dessa afirmativa de que é impossível pensar em algo que não existe concretamente, pois alegam ser viável pensar sobre um Sentimento como, por exemplo, a “saudade”. Outros rebatem, dizendo que não se pensa sobre a “saudade em si”, mas apenas sobre quem ou o quê a causou; reflete-se, portanto, sobre um Ser, um Lugar etc. que são físicos, concretos, materiais.
Como se disse anteriormente, MARX disse jocosamente sobre a Dialética de Hegel de que ela estaria de “cabeça para baixo” e que era necessário inverter o eixo da mesma, colocando na Materialidade e não nas Ideias a gênese do Movimento Histórico que forma o Mundo.
A partir dessa inversão é que ele elabora um dos conceitos chaves de seu Pensamento: A Dialética Materialista, também chamada de Materialismo Dialético.
A Influência do Socialismo Utópico.
Na época de MARX, costumava-se chamar de Socialismo Utópico o conjunto de Doutrinas (algumas antagônicas entre si) que tinham em comum as seguintes características:
1 – A base do comportamento humano é determinada pela Moral e pela ideologia
2 – O desenvolvimento da Civilização Ocidental já permitia o aparecimento de uma “Nova Era”, na qual imperariam a harmonia e a Justiça Social.
MARX foi severo em suas censuras aos Socialistas Utópicos (particularmente com os franceses como o Conde de Saint-Simon de quem, aliás, foi um acirrado polemista), a quem acusava de serem excessivamente ingênuos e românticos e de serem inertes e omissos pelo pouco, ou nada, que faziam para se ter um estudo sério e profundo sobre a conjuntura social e a consequente alteração que fosse necessária.
Segundo ele, os Utópicos eram pródigos em falar sobre como deveria ser a Sociedade Ideal, porém, eram mesquinhos em apontar as maneiras efetivas que levassem àquela Sociedade harmônica e justa.
Contudo, não obstante suas criticas, MARX adotou (implícita ou explicitamente) algumas concepções desse grupo de Pensadores, das quais se pode citar, entre outras, a ideia de que o aumento na oferta dos produtos por obra da Revolução Industrial permite maior conforto ao homem; ou, a noção de que as crenças ideológicas do indivíduo influem em seu comportamento.
A Utopia Marxista
O termo Utopia foi criado por Thomas Morus ou More (Inglaterra, 1478 – 1535) e aqui será usado com um significado diferente do pretendido original, mas consagrado pelo uso popular. Originalmente o termo significava “lugar nenhum”, mas o estilo coloquial transformou-o em sinônimo de “quimera”, “ideal”; ie, algo extremamente positivo, desejável, embora inatingível.
O fato é que as pretensões de MARX demonstravam certa ingenuidade ao supor que o Homem poderia evoluir de seu egoísmo animal para uma solidariedade angelical, ou pelo menos humanitária, que permitiria o bem-estar geral.
Todavia, essa ingenuidade, para muitos, não deve ser vista apenas como algo negativo, pois foi esse sonho idílico que embalou – e ainda embala – as aspirações de um vasto número de admiradores e de adeptos ao “Ideal Socialista”, permitindo a existência de uma alternativa à rudeza do Capitalismo.
E também, apesar de sua insuficiência, por ensejar o avanço em algumas práticas e costumes que tiveram o mérito de suavizar em alguma medida os horrores da miséria em vive o Proletariado sob o jugo da Burguesia.
A Influência da Economia Clássica
Devido à importância que dava ao aspecto material como formador e condicionante das relações entre os membros de um grupo de pessoas, MARX não titubeou em estudar com afinco as Teorias Econômicas Ocidentais – desde as da Grécia antiga até as que lhe eram contemporâneas – pois intuía a necessidade de conhecer sobejamente tais fundamentos para, num segundo momento, modificar-lhes em consonância com o seu ideal de Justiça Socioeconômica.
Dentre outros, o Filósofo mostrou-se admirador dos Economistas Políticos britânicos, Adam Smith (Escócia, 1723 – 1790) e David Ricardo (Inglaterra, 1772 – 1823), a quem, aliás, coube a sua predileção e de quem ele sorveu algumas ideias que posteriormente revisou e reinterpretou.
Dessa re-elaboração é que provieram, por exemplo, conceitos como o da Mais Valia, do Fetiche (ambas oriundas da “Teoria do Valor”, elaborada pelo inglês), da Divisão Social do Trabalho, da Acumulação Primitiva etc.
Lisonjeiro, MARX se referia a Ricardo como “o maior dos Economistas Clássicos”. Elogio que não estendia a Smith, embora dele também houvesse tomado algumas concepções.
O grau de influência que ambos, especialmente Ricardo, exerceram sobre o Ideário Marxista nunca encontrou consenso. Eruditos neo-Ricardianos consideram que há uma enorme semelhança entre o Pensamento de seu guru e o de MARX, mas os estudiosos do Marxismo minimizam essa similitude e apontam diferenças cruciais entre os dois Sistemas.
Metodologia
Uma critica recorrente que se faz à obra de MARX refere-se ao fato de que ele não criou (tampouco seguiu, é óbvio) um Método para expor suas reflexões sobre seus Objetos de Estudo; ou seja, as Ciências Sociais (Filosofia, Política, História, Sociologia etc.).
Com efeito, o Filósofo nunca se preocupou em seguir um roteiro, preferindo consignar suas dispersas reflexões em obras variadas.
Com isso, arriscamos dizer, criou o seu próprio método (tão heterodoxo e singular quanto suas ideias) através das criticas que fez ao Idealismo Especulativo de Hegel e à Economia Política Clássica.
Como já se disse, para MARX, Hegel e seus seguidores criaram uma Dialética Mistificada cuja intenção era explicar especulativamente (ie, apenas por meio de ilações, deduções, divagações, reflexões sem quaisquer dados concretos que apoiassem essas “operações mentais”) a história mundial, afirmando que a mesma era uma autodesenvolvimento da Ideia Absoluta (ou do exclusivo desenvolvimento mental, espiritual da humanidade).
Em relação aos Economistas Clássicos, a censura se concentrava no fato de que eles naturalizavam e desistoriciavam o Modo de Produção Capitalista enxergando-o como se ele fosse natural (ie, como se fosse uma imposição inquestionável da natureza); assim como a exploração que a Burguesia praticava contra o Proletariado. Para tanto, apoiavam-se em um conceito abstrato denominado de “Homo Economicus”.
Conceito que além de abstrato era eivado de questionamentos. Por esse motivo, esses Pensadores da Economia Clássica recorriam amiúde a “Robsonadas (de Robson Crusoé e suas narrativas sobre o escambo primitivo entre caçadores e pescadores)” para ilustrarem um presumível primarismo econômico do Proletariado, que justificaria, ao cabo, a sua exploração (sic).
NOTA do AUTOR – essa visão de que seria justificável a dominação e a exploração de um homem por outro homem é filha do antigo conceito do “Direito Divino”; ou seja, por razões desconhecidas um suposto “Ser Supremo” escolhe a seu critério um indivíduo, ou um grupo deles, para dominar e explorar os outros Seres. Mesmo que os tais não tenham a menor qualificação para tanto. Assim, segundo essa “Lei”, o felizardo não precisaria ser hábil, nem probo, nem inteligente, nem generoso etc. Bastar-lhe-ia ter tido a sorte de nascer na “Classe Social Correta (sic)”.
Todavia, inobstante a discordância que mantinha de suas teses, MARX não considerava os Economistas Clássicos como mal intencionados. Afirmava que a mistificação que faziam era oriunda do “Fetichismo à Mercadoria”, ou da adoração mística a um produto. Um comportamento irracional, mas tão atrelado ao espírito humano que acabou sendo considerado normal.
Em oposição a essa irracionalidade, MARX propunha um estudo aprofundado, sério, objetivo, sobre a história (ou sobre a trajetória, marcha) do desenvolvimento das Formas de Produção, enquanto organizadora das Relações Sociais, para que através desse conhecimento fosse possível alterar o que houvesse de errado e se pudesse atingir a justiça e a harmonia desejada.
A Crítica da Religião
Ao contrário do que se pensa habitualmente, MARX não dedicou grande esforço na censura à Religião.
Pode-se, inclusive, pensar que ele a via com mais condescendência que intolerância.
Basicamente ele seguiu a concepção do filosofo Feuerbach (porém, de modo mais suave) para quem a Religião não expressa a vontade, ou a Palavra, de nenhum “Deus”, ou qualquer outro Ser metafísico. Não passaria, portanto, de uma mera criação humana. De uma fábula inventada pelos homens, os quais, cônscios de sua fragilidade buscam no Sagrado as ideias e noções que tendem a desresponsabilizá-los pelas consequências de seus atos. Afinal, é sempre mais fácil culpar a “Vontade de Deus” que assumir a própria negligência, ou inércia, ou inabilidade pelos fracassos ocorridos.
A ideia vulgar de que ele seria um inimigo feroz dos Religiosos originou-se, provavelmente, mais da contundência de suas criticas de que da extensão e insistência das mesmas. Contundência, aliás, que pode ser exemplificada em sua célebre afirmativa de que “a Religião é o ópio do povo”, inserida no texto denominado de Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, que também ostenta outras definições que o Filósofo consigna acerca do tema, tais como: (a Religião) é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um Mundo sem coração, assim como é o “Espírito” de uma situação carente de “Espírito”.
Como já se disse, MARX concordava que as pessoas se apegam à Religião porque desejam um lugar em que o “eu” não seja desprezado, ou alienado (e nada melhor que um “Deus bondoso” para aceitar esse “eu” que noutros campos enfrenta continuas restrições por acharem-no “pobre”, “feio”, “medíocre” etc.), mas alertava que essa fuga é inútil, pois as restrições que a Sociedade impõe permanecem inalteradas e a quimera religiosa, ao cabo, acaba apenas aumentando os motivos para as oposições na medida em que o indivíduo deixa de lutar para sanar as injustiças, resignando-se a um falso conforto.
Todavia, o fim puro e simples da Religião não seria a resposta efetiva para os problemas sociais. Apenas a mudança total nas questões de ordem Social e Política é que poderiam elevar o indivíduo, após ele ter enxergado a inutilidade daquela crença dogmática e alienante, bem como a necessidade de perseverar nas lutas sociais.
NOTA do AUTOR – o (a) leitor (a) nota por essas últimas definições, que a observação que fizemos acerca de sua condescendência é correta. Embora ele a visse como uma reles fantasia, podia compreender a necessidade humana que a faz existir.
A Revolução
Apesar de ter recebido o epíteto de “Teórico da Revolução”, MARX não consignou em suas obras qualquer definição, ou conceito, especifico sobre o tema.
Oferece apenas descrições acerca das Revoluções Francesa, Inglesa e Estadunidense, bem como projeções e prognósticos para as eventuais Revoluções futuras.
Um claro exemplo de tais “Prognósticos Históricos” pode ser encontrado em Contribuição para a Crítica da Economia Política, onde ele afirma que: “numa certa etapa do seu desenvolvimento, as “Forças Produtivas” da sociedade entram em contradição com as “Relações de Produção” existentes (ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas) e com as “Relações de Propriedade”, pois, estas relações transformam-se em grilhões das primeiras ensejando, então, uma época de revolução social”.
Por isso MARX considerava que toda Revolução é violenta, embora o grau e a intensidade dessa violência sejam variáveis, já que estão em conformidade com a maior ou menor truculência com que o Estado reage contra quem lhe ameaça.
A existência imperiosa da violência é, pois, uma decorrência direta do fato de o Estado tender a sempre usar a coerção e a repressão para salvaguardar os seus interesses; ie, para manter a organização em que se assenta o seu Poder Político. Dessa sorte, não resta alternativa à Insurreição que não seja responder violentamente.
NOTA do AUTOR – é nesse cenário que normalmente ocorrem os excessos de ambos os lados.
Para MARX, ao contrário do que imaginavam os “Contratualistas”, o Poder Político do Estado não provem de um “Contrato Social”. Não emana de um acordo, de um consenso entre os cidadãos.
Na verdade, é o Poder Particular de uma determinada Classe que o conquista e o mantém através da ardilosidade, das falcatruas e da violência explicita (via Policia, Judiciário etc.) e da violência implícita (regulações, burocracia sufocante etc.) que não vacila em usar contra as Classes Subjugadas.
Todavia, para MARX, embora a violência seja indissociável da Revolução, ela não deve transformar-se em um instrumento de aniquilação total, pois a termo “Revolução” não pode ser sinônimo de “reconstrução a partir do zero”.
Em sua Crítica ao Programa de Gotha, por exemplo, ele alerta que a instauração de um Novo Regime só é possível se o mesmo for sustentado pelas Instituições que já existiam no Regime anterior.
Por isso, a Revolução Proletária que instauraria um novo Regime Sem Classes só poderia lograr êxito se concluísse satisfatoriamente um período de transição que ele chamou de Socialismo.
A Crítica ao Anarquismo
Como se sabe, o Anarquismo é um Sistema Filosófico que prega o fim do Estado e doutras Instituições que normatizam a vida do homem (tais como a família, a Igreja, o Partido Político etc.) já que todas as formas de governo interferem negativamente na liberdade individual e devem ser substituídas pela cooperação entre os cidadãos. Para MARX, essa visão ingênua de se acabar o Estado “por decreto” não se sustentava por sua própria ingenuidade.
Para ele não se deveria propor o fim do Estado, mas sim o fim das iníquas condições socioeconômicas que o fazem ser necessário para que a Classe Dominante possa exercer o seu predomínio utilizando-o como ferramenta e instrumento de pressão e de opressão com o intuito final de preservar o Poder, e as benesses do mesmo, de que goza.
O Filósofo Proudhon escreveu uma importante obra para defender o Anarquismo – A Filosofia da Miséria – que MARX contestou compondo a antítese que jocosamente chamou de “Miséria de Filosofia (aludindo a certo primarismo intelectual que norteariam as propostas anarquistas)”.
Nela, além de censurar o Pensamento anarquista de Proudhon, ele crítica o Blanquismo (de Louis Blanc) por sua visão elitista sobre o Partido e, também, por sua tendência autoritária e superada.
Ainda nessa linha de contraponto, MARX posicionou-se a favor do Liberalismo Político e Econômico, sem, no entanto, admiti-lo como a solução definitiva para o Proletariado. Apenas como uma sustentação para o processo de maturação das Forças Produtivas (ie, os Trabalhadores) e de homogeneização da condição do Proletariado em todo o Mundo, gerada pela internacionalização do Capital.
Afinal, a “Globalização” e as empresas “Multinacionais” tendem a uniformizar o comportamento de seus empregados – e de seus consumidores – nas mais diversas regiões do Globo, como se pode observar, por exemplo, quando um hindu utiliza um carro semelhante ao usado por um estadunidense, fazendo com que seja criada uma Consciência de Classe do Proletariado internacional.
A Práxis
Termo oriundo do grego cuja significação original remete à ideia de ação, de fazer, de atividade prática. No Marxismo significa o conjunto de ações humanas que tendem a criar as condições indispensáveis à existência da Sociedade, principalmente no que se refere à Produção física, material. À atividade concreta.
Destarte, a palavra Práxis se torna o título de um dos fundamentos mais importantes da Doutrina de MARX, haja vista que é a ação humana que cria, ou que produz a história.
O Marxismo se baseia na Ideia de que a história é Materialista (ie, feita de fatos concretos e não de ideias abstratas) e que a Realidade Não se altera por moto próprio. A esse propósito, MARX disse em sua obra “O 18 Brumário de Luis Bonaparte” que: “não é a Realidade que move a si mesma, mas comove os atores. Trata-se sempre de um drama histórico...”.
Mas esse Materialismo não deve ser visto como um Determinismo Histórico (ou seja, algo ou alguém determinou que a história acontecesse de tal modo) que cairia num Materialismo Mecânico, ou Positivista, o que estaria em completa oposição à concepção Marxista do Materialismo Dialético (cujas transformações ocorrem por conta dos atritos entre os opostos [tese x antítese = síntese]) que ocorre devido às Ideias e atitudes dos homens.
Materialismo Dialético ou Histórico que também poderia ser entendido como uma “Dialética Realidade – Idealidade Evolutiva” onde as relações entre a Realidade (concreta) e as Ideais acontecem e se juntam precisamente na Práxis, pois sendo a história um produto das ações humanas e sendo as Ideias produto das circunstâncias materiais em que brotaram a grande meta a ser atingida é fazer com que a História seja Lógica e Racional, ie, que as ações humanas sejam coerentes, justas e que por isso criem condições materiais favoráveis que proporcionem o surgimento de Ideias também Lógicas, Racionais e Favoráveis.
Com essas reflexões, MARX encerra suas teses sobre Feuerbach afirmando que não se trata de interpretar o Mundo de forma diferente, mas, sim, de transformá-lo efetivamente, haja vista que a interpretação ocupa-se “apenas” de estudar, de pensar, de refletir sobre o Mundo que já existe concretamente, enquanto que a a Ação Revolucionária será capaz de produzir a transcendência, ou ultrapassagem, desse mesmo modelo de Mundo.
A Mais Valia e o Exército de Reserva
O conceito da Mais Valia foi empregado por MARX para explicar a obtenção de lucros no Sistema Capitalista.
Para o Filósofo, Mais Valia é o valor extra da mercadoria, ou seja, a diferença entre o que o empregado produz e o que recebe. É aquilo que o patrão deixa de lhe pagar e que ele não cobra, porque sabe que será prontamente demitido e substituído por um desempregado lotado no Exército de Reserva, que nada mais é que um “Estoque de Mão de Obra” ie, um grande contingente de pessoas desempregadas e desesperadas por qualquer emprego e qualquer salário, que a Burguesia mantém para usar como instrumento de coação.
Como não poderia deixar de acontecer, essa sua proposição encontrou ácidas oposições, dentre as quais a de Benedetto Croce (1866-1952, Itália) que afirmou ser “O Capital” um texto que não poderia ser considerada como um livro “Científico”, mas apenas como uma obra “Moral”, cujo objetivo seria caracterizar a Sociedade Capitalista como perversa e injusta, ao contrário da Sociedade Comunista que concretizaria o Ideal de plena justiça social.
Também alegou que a carência de cientificidade no Ideário de Marx já é demonstrada pelo conceito da Mais Valia, haja vista que só por uma perspectiva moralista se pode falar da mesma, pois através do rigor de um ponto de vista lógico e cientifico tal noção não se sustenta.
GRAMSCI e vários outros Eruditos saíram em defesa da tese Marxista afirmando que a opinião de Croce não passaria de reles sofisma, posto que os Conceitos de “Mais Valia” e de “Valor” são idênticos; ou seja, é a diferença entre o valor da Mercadoria Produzida e o valor pago à “mão de obra” que a produziu.
E que essa tese de Marx derivou diretamente da Teoria do Economista Davi Ricardo (1772-1823, Inglaterra) que não enfrentou qualquer censura ao publicá-la, porque à época ela não representava nenhum perigo à Burguesia, já que não havia a menor conscientização do Proletariado sobre a exploração que sofria.
Na ocasião, a tese de Ricardo foi considerada apenas como uma “constatação puramente objetiva e cientifica de uma Realidade econômica”.
Dessa sorte, entre críticas e elogios, a tese passou para a história e se firmou como uma das bases do Pensamento Socialista, ainda em voga nos dias atuais, apesar da hegemonia do Capitalismo.
O Manifesto Comunista
Na década de 1830, MARX estudou Filosofia Acadêmica na Universidade de Berlim. Dentre seus colegas estava Friedrich Engels (XXXX), que além de se tornar amigo fraterno por toda a vida do Filósofo foi, também, o coautor dessa primeira publicação de Karl MARX e seu constante parceiro nos assuntos literários e políticos.
Engels deu suporte financeiro ao amigo e contribuiu com ideias e com a sua habilidade literária para o trabalho, mas coube a MARX o reconhecimento pela genialidade do texto.
As ideias que foram expostas nesse livreto, de cerca de quarenta páginas, já viviam na mente do Filósofo desde as décadas de 1830 e 1840, que as transcrevia aleatoriamente em manuscritos privados, os quais, posteriormente, foram compilados pela dupla de Pensadores e embasaram o texto final de O Manuscrito.
Nele, em linguagem coloquial e pragmática – pois, segundo ambos, a função da Filosofia não era explicar o Mundo, como fora o objetivo dos antigos, mas sim reformá-lo – Engels e MARX procuram explicar os Valores, as Ideias, os Ideais, os Conceitos, os Planos Políticos etc. do Comunismo.
Comunismo, diga-se, que à época não passava de um Sistema proposto e adotado por um reduzido número de pessoas, geralmente oriundas de Regimes Socialistas Radicais, que existiam na Alemanha.
Segundo o texto, a Sociedade reduzira-se a duas Classes Socioeconômicas que convivem em perene confronto: a Burguesia* e o Proletariado*:
Burguesia – palavra derivada do francês “burgeois” e que significa etimologicamente “o habitante do Burgo, ou vila ou cidade”. Em Política passou a significar o Indivíduo que é proprietário dos “meios de produção”; ou seja, das máquinas, das terras, das fábricas, do Capital etc. O Homem que ascendeu socialmente e passou a ocupar, graças à sua fortuna, o espaço que antes era destinado aos nobres, ao alto clero, à elite militar etc.
Proletário – etimologicamente significa o indivíduo que gera uma prole. Em Política essa capacidade de gerar filhos passou a significar a capacidade de gerar mais mão de obra, que seria agregada à força de trabalho do pai. É o indivíduo que não possui “os meios de produção” que são indispensáveis para se produzir algo. Dispõe apenas de sua força de trabalho (ie, de sua capacidade de trabalhar), a qual vende em troca de um salário, ou ordenado.
E essa estrutura dividida em apenas duas classes pôde existir com relativa tranquilidade (inobstante algumas revoltas pontuais, localizadas que os Senhores Feudais não tiveram dificuldade para esmagar) até que os seguintes acontecimentos alterassem a Estrutura Social:
1. O descobrimento das Américas.
2. A abertura dos mercados indiano e chinês aos produtos fabricados em série com o advento da “Revolução Industrial” e o consequente êxodo rural que esvaziou o Poder da “nobreza feudal” e ensejou o surgimento de um Proletariado urbano, mais aglomerado e cônscio de sua miséria e de sua capacidade de luta.
3. O próprio desenvolvimento da Indústria e do Comercio (também como consequência do exposto nos itens acima) que decretou o fim do trabalho artesanal, pois este modelo já não era capaz de suprir a demanda sempre crescente.
NOTA do AUTOR: Esse fim, aliás, também ocasionou uma das contradições do Capitalismo: ao suprimir a presença do Artesão, suprimiu a presença de um Capitalista, embora de pequena dimensão, que se tornou um simples Operário, talvez até mais desmotivado que aquele que chegou do campo.
Pela ênfase dada aos assuntos Políticos e Econômicos resultantes dos fatores acima, o Manifesto tornou-se mais conhecido pelo seu conteúdo de Filosofia Política de que pelo seu valor literário, mas mesmo nesse quesito esse ela não fica a dever a seus similares. Além das teses já citadas, o Manifesto Comunista também aborda outros temas relativos à Sociedade e à Economia com clara e rara erudição, o quê o torna uma Literatura de primeira linha.
Foram essas qualidades que tornou acessível ao público em geral a ideia de que através da compreensão do Sistema de Propriedade (privada, ou coletiva) que uma Sociedade prática, é possível entender a forma como seus cidadãos se relacionam. Como eram, ou são, as Relações Sociais daquele grupo de indivíduos.
Destarte, tornou-se um divisor de águas na cena política do Mundo. Pela primeira vez um texto alardeou de forma clara e direta que a Burguesia tinha, sim, que temer o espectro que avança sobre a Europa. E que os antigos conceitos, as velhas noções e os valores do Passado seriam irremediavelmente rompidos. Popularizou a ideia de que seria possível compreender os mais íntimos meandros da Sociedade, independentemente da época em que a mesma existiu, ou existe.
MARX argumenta, por exemplo, que o Sistema Capitalista não é apenas injusto e explorador, mas, é, também, inerentemente instável, o que leva a ocorrência de frequentes crises comerciais e financeiras (como a que assola a Europa nesses dias atuais, o que, aliás, comprova a atualidade da versão marxista) que serão cada vez mais severas e deletérias, ocasionando um agravamento na miséria da Classe Explorada e a consequente radicalização do Ideário revolucionário que é despertado em seu seio.
O progressivo empobrecimento da Força de Trabalho, ou Proletariado, resultará no aumento da agressividade de suas respostas e o configurará como um efetivo segmento social genuinamente revolucionário.
E, observa MARX, pela primeira vez na história, essa Classe Revolucionária representará a maioria da humanidade.
Para o Filósofo, essas condições são originadas e sustentadas pela crescente “Complexidade do Processo de Produção”, pois à medida que a tecnologia avança, mais agudo se torna o desemprego, vez que a máquina substitui com vantagens inúmeros trabalhadores.
Em consequência, cresce o afastamento das pessoas de seus “Meios de Produção” que lhes garantia, bem ou mal, o sustento e, ao cabo, consolida a iníqua Concentração de Renda que divide a Sociedade em dois grupos crescentemente antagônicos: a Elite e o Proletário.
O Capital – “Das Kapital”
Das Kapital é seguramente a criação máxima de MARX, que para realizá-la contou com a inestimável ajuda de Engels, o coautor da obra-prima.
Nela, os Filósofos fazem uma extensa, profunda e elaborada análise da Sociedade Capitalista. É predominantemente um livro sobre Economia Política, mas a sua abrangência atinge várias outras áreas.
Nessa obra monumental, MARX discorre sobre a Economia, a Cultura, a Sociedade, a Política e a Filosofia. É um trabalho tanto analítico quanto sintético, pois traz análises minuciosas sobre determinados temas, enquanto oferta inspirados resumos sobre outros assuntos, apresentando vários estilos literários. É, simultaneamente, uma obra crítica, descritiva, científica, filosófica e, de certo modo, romântica por embutir entre tantos conceitos técnicos a esperança de se construir um Mundo mais justo e harmônico.
Decerto que a sua leitura é difícil, mesmo que não tenha a característica de ser tão especulativa e abstrata quanto às obras de Hegel, pois a linguagem em que foi escrita é insípida e complexa. Não é um livro para ser apenas lido. Deve ser visto, muito mais, como um objeto de estudo. Contudo, a recompensa vale à pena, pois a sua compreensão traz um acréscimo de Saber cujo valor é inestimável.
Em conformidade com o Pensamento Marxista, “O Capital” é a principal fonte de conhecimento - tanto para a humanidade em geral, quanto para o Proletariado em particular – para que se atinja a desejada Conscientização de Classe.
Só através da análise inovadora, profunda e correta de “sua” Realidade é que a “Classe Explorada” poderá enxergar para além da Ideologia Dominante que a Elite lhe impõe. E só assim é que poderá obter uma base sólida para as suas reivindicações. Para a sua Luta Política.
Alphonse de Waelhens (Filósofo belga, 1911 – 1981) afirmou sobre a abordagem que MARX faz acerca dos fatores econômicos para a formação das Sociedades humanas que: “o Marxismo é um esforço para ler, por trás da pseudo-imediaticidade do Mundo econômico reificado (ou coisificado, ie, tudo é tratado como se fosse uma simples coisa, inclusive o Ser Humano), as relações inter-humanas que o edificaram e se dissimularam por trás de sua obra”.
Por fim, é importante lembrar que apesar do sucesso que alcançou e do prestigio de que ainda goza, O Capital é uma obra incompleta no que tange à autoria de MARX, já que apenas o primeiro volume foi publicado enquanto ele vivia. Os outros Tomos foram organizados por Engels e publicados posteriormente.
Outras Obras de MARX
Além das obras-primas O Capital e O Manifesto Comunista que vimos com mais acuidade, MARX escreveu outros trabalhos de enorme importância.
Na sequência falaremos brevemente sobre cada um deles. A saber:
A Ideologia Alemã – nele, MARX apresenta com minúcias os pressupostos de seu Sistema Político e Filosófico.
Questão Judaica – onde MARX expõe as suas críticas às Religiões, afirmando que não se deve apresentar questões humanas como se fosse teológicas. Mas justamento o contrário, ie, mostrar que as questões teológicas não passam de simples questões humanas. Também afirma que a ótica correta a ser empregada será a de ver as Religiões como reles reflexo do Pensamento humano sem que exista qualquer coisa de Sagrado, ou de Divino nas mesmas, pois, afinal, elas são apenas e tão somente fantasias que o homem faz de si mesmo, o que, de certo modo, representa a mísera condição a que ele é submetido.
Crítica ao Programa de Gotha – aqui o Filósofo faz uma extensa e sistemática apresentação sobre o que seria uma Sociedade Socialista. No texto, além da excelência literária, é possível notar o esforço que MARX faz para se afastar de qualquer ranço de “Futurologia”, já que ele não a considerava uma Ciência crível por lhe faltar o embasamento característico a tal estudo.
A Guerra Civil na França – MARX ultrapassa nesse texto, as suas tendências jacobinas e defende com vigor a tese de que só com o fim do Estado é que o Proletariado ofertará a si próprio as condições necessárias para manter o Poder recém conquistado. Também afirma que o fim do Poder Estatal equivale à situação do “povo em armas (ie, o próprio povo assegura a ordem pública)”, pois o Monopólio da Violência, que havia sido delegado ao Estado sucumbirá com o mesmo.
O 18 Brumário de Luis Bonaparte – onde MARX desenvolve uma profunda análise sobre o “terror da burocracia” e comenta a questão do campesinato como aliado do operariado na Revolução iminente (tese que depois, grosso modo, foi adotada por Mão Tsé Tung, na Revolução Chinesa). Ademais, investiga o papel dos Partidos Políticos no âmbito da Sociedade e comenta com acuidade a essência do “bonapartismo”.
Epílogo
Em 1954, o Partido Comunista Britânico construiu uma lápide com o busto de MARX sobre sua tumba, até então de decoração muito simples. Na pedra, além de uma citação de Feuerbach, escreveram: “Proletários de todos os países, uni-vos!”.
São Paulo, 12 de Outubro de 2012.