Foste... a verdade é que nunca esteve.
Adornou a casa, mas esqueceu de colorir o caminho. Ela se foi... Sem aviso nenhum pôs-me a caminhar com meus próprios pés para qualquer norte, para qualquer direção. Impiedosamente levou a perpetuidade de todo o sempre e deixou a perenidade da dor, da perda, da incompreensão.
Difícil acreditar, penoso aceitar.
Um dia fui totalmente dependente de ti, em teu ventre ganhei vida, me fiz gente. Em teus ensinamentos amoldei virtudes, em teus conselhos trilhei caminhos retos, em teus braços repousei, em suficientes carinhos moldei minhas melhores características, as receitas de vida foram tiradas dos teus livros. A dor me visita todos os dias com pitadas de incompreensão.
Agora explica pro coração que foi mentira, obriga a não doer. Faça justiça, devolva minha esperança, passe esses dias onerosos de fardo pesado com vigor e deixe que eu cure minhas feridas. Não me envolva de beijos doces envoltos em lágrimas salgadas, não sou digna. Eu só quero uma dose homeopática de paz, não peço demais. Deixe-me implorar suspiros e pulsos, enquanto houver existência para isso.
Talvez nunca saibas, talvez eu nunca queira honrar a aflição dos dias que escoaram. Exausta de sentimentos herméticos, apreendida de dores indecifráveis, escravizada por lembranças e sedada por mentiras, quis ser audaz combativa e seguir, mas sabia, estava arrancando raízes do peito com as próprias unhas a cada dia.
Às vezes, sinto falta do tempo que a perfídia era impecável e eu crédula. Sentia-me refugiada e cálida por ela, não a identificava por este nome, para mim era amor e isso a tornava exímia, era alimento completo a alma, vacina contra solidão. Pena dar conta de que o amor não esgota e o enredo teve fim.
Foste... a verdade é que nunca esteve.