PERSEGUINDO RITMO E TEMA

Prezado Mestre! Estava eu lendo o seu texto “PLEONASMO NO TÍTULO DO POEMA”, e me veio o soneto que contigo compartilho. Por favor, faz a tua análise. O tema é ocasional e peculiar. Procurei fazê-lo em setissílabo. Celso.

– Via Facebook, em 02/10/2012.

“O VARREDOR DA VIELA

O varredor varre a viela.

Sem tirar o pó da tela

Quem quiser olhar por ela,

não deverá ver a vela.

Que navega solitária,

ao largo desta historia.

Que não fala de vitoria,

nem de derrota notória.

Do que então que se fala?

Daquilo que não se cala,

ou que se perde na bala?

Do tempo que corre lento!

Que traz o melhor momento,

do verbo solto no vento.

Celso Corrêa de Freitas”

Enviado por CCF em 02/10/2012.

http://www.recantodasletras.com.br/sonetos/3912575

Código do texto: T3912575.

Trata-se, a rigor, de um ótimo exercício de ritmo. Não chega a ter a higidez do poema (com Poesia), porque as ideias são fragmentárias e os assuntos abordados nas estrofes não parecem ter correlação entre si, ao ponto de que o poema consiga um "corpus" que o identifique como uma peça com alguma unicidade contextual ou sugestional. É texto típico de quem tem uma observação fática subjacente (haurida na realidade e postada dentro de si) e percebe-se que o observador não quer falar abertamente sobre o assunto, recorrendo à linguagem cifrada que caracteriza a estética poética. Mas o poema com Poesia é mais do que o sincopado exercício de ritmação, que, de certa forma é fácil de ser construído, ainda mais em sete sílabas fônicas, que é a linguagem do versejador popular, mormente a dos irmãos do nordeste e do trovador interiorano do sul do Brasil, porque este acento verbal é compreensível pela maioria dos ouvintes do veio popular. Cai bem ao ouvido do espectador. A terceira estrofe é a mais criativa e de maior carga de sugestão, não meramente alegórica, mas exsurge – parece-me – do asfalto das ruas da grande cidade, onde a violência campeia. E mais: no caso está em jogo o "pacto do silêncio", que vige entre aqueles que, pela violência reinante, não obtêm sucesso e tranqüilidade por meio dos organismos de segurança pública. Nesta estrofe (tão curta) há uma historieta plena de vida suburbana, onde a droga tem o seu nefasto reinado. Como bem pode ver o leitor, quando os versos contêm algo palpável, safa-se o crítico... Viva a Poesia e o poeta Celso, de Praia Grande/SP, que resume em três versos a alegoria do temor dos dias de hoje. Sugiro que com base na estrofe, persiga um novo poema com unidade temática. Parabéns pela carga intuitiva subliminar – o inconsciente – que permitiu a riqueza de proposta. Também porque esse dado propiciou que o analista percuciente adentrasse aos domínios da parapsicologia.

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3913240