O HAICAI E O POEMETO

Chega o poema com uma carinha de haicai, e gosto dele. Vamos examiná-lo frente aos cânones da Poesia?

“Brotando amor

nos corações humanos

é primavera.”

Maria de Lourdes Werlang.

– via Facebook, em 27/09/2012.

Todo o espécime de Poesia clássica submete-se à contagem de sílabas fônicas ou poéticas (escansão), cuja aferição não é a mesma das sílabas gramaticais, e, sim, obedece ao ritmo, nos versos. Portanto, divisão silábica é diferente de divisão poética. Na chamada Poesia moderna ou da contemporaneidade não se faz a contagem das sílabas poéticas, por esta razão chamamos VERSOS BRANCOS OU LIVRES. No Brasil, o culto aos versos sem rimas ocorre, como novidade, a partir da Semana da Arte Moderna de 1922. E desde a década de 60 do século passado, passa a ser cânone dominante. O haicai (ou haikai) é um formato poético nascido no Japão, que tem cerca de 700 anos (a idade similar ao soneto de Petrarca), o qual entrou no Brasil no início do séc. XX, sendo atualmente muito apreciado. Guilherme de Almeida, paulista, príncipe dos poetas brasileiros (em eleição ocorrida em 1958) foi um dos seus principais cultores, e criou um haicai adaptado ao espírito brasileiro, que ficou conhecido pelo nome de haicai “guilhermino”, no qual foram incluídas rimas e título, o que não se encontra no haicai japonês É uma das espécies do gênero poesia clássica, portanto se aplicam a ela as regras da contagem das sílabas fônicas. Na contagem silábica acontece a ELISÃO, que é o fenômeno linguístico pelo qual se faz a fusão de duas vogais em um som exclusivo, formando-se assim uma só sílaba, como nos ditongos. No HAICAI, o esquema de silabação é de 05-07-05, num total de 17 silabas. Percebo que no tua bonita arquitetura de haicai, buscaste esta contagem, só que te esqueceste de que a contagem silábica só se dá até a última sílaba fônica. A sílaba sobrante (a que sobra) é chamada sílaba morta, porque não entra na contagem. Acima na tua bela e inspirada peça, tu terias, ao se fazer a escansão: “Bro/tan/doa/mor” = 04 sílabas; “nos/co/ra/ções/hu/ma...nos” (esta última é sílaba morta) = 05 sílabas; “é/ pri/ma/ve... ra” (silaba morta) = 04 sílabas. Portanto, em vez de 17 sílabas, no total, teríamos somente 13 sílabas, faltando 04 pra que se pudesse reconhecer o haicai. E três versos do “pé-quebrado”, por não obedecerem à risca a silabação fônica. No entanto, mesmo que não se verifique o espécime nascido no Japão, temos um interessante exemplar de poesia. Um sintético e enxuto poemeto ou “poemínimo” minimalista. Enfim, um belo exemplar da modernidade poética. Singelo e sugestivo.

– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3905182