PITAGORISMO E MAÇONARIA- UMA VISÃO CÓSMICA
Pitágoras- As teorias de Pitágoras-A Tetractys- Pitagorismo e Cabala- O Pitagorismo e o Tarô- Pitagorismo e Maçonaria.
Pitágoras
Pitágoras, cuja vida se situa entre 572-497 a.C., nasceu provavelmente na ilha de Samos e morreu, segundo algumas fontes, em Metapontum, cidade da chamada Magna Grécia, situada no sudoeste da Itália.
Sua vida está cercada de lendas. De acordo com certas tradições, Pitágoras era filho de um ourives chamado Mnesarco. Teria estudado com Tales de Mileto e Anaximandro, fundadores da escola Jônica e pais da teoria evolucionista, que afirma a origem da vida se deu na água.
Dizem também que viajou pelo Egito e Mesopotâmia, onde teria aprendido as ciências dos hierofantes egípcios e a sabedoria dos magos babilônicos. Essa mesma tradição sustenta que ele conheceu Zaratustra, o codificador da doutrina Mazdeísta, e com ele teria aprendido a teoria do universo gerado a partir do embate entre os dois princípios – luz e trevas − idéias essas que teria aproveitado em seus trabalhos.
No Sul da Itália, mais especificamente em Crotona, ele fundou uma comunidade sectária que se propunha a estudar os fenômenos da natureza. Um de seus discípulos, Nicolau de Crotona, teria divulgado essa doutrina, que deveria ser secreta, e em razão dessa inconfidência de um de seus discípulos, a escola foi fechada e os pitagóricos foram expulsos da cidade.
A doutrina desenvolvida por Pitágoras e seus discípulos sempre foi rotulada de esotérica. Em razão disso ela ficou relegada a um plano secundário pelos filósofos e estudiosos acadêmicos da antiguidade e da Idade Média, só ganhando notoriedade e importância a partir da Renascença, movimento intelectual, político e sociológico, iniciado em princípios do século XVI. Juntamente com os ideais da época clássica, e a filosofia dos gnósticos dos primeiros séculos do cristianismo, também o pitagorismo foi recuperado pelos filósofos hermetistas, e aplicado às novas idéias divulgadas pelos reformistas, especialmente João Reuchelin Jacob Bhoeme, e Giordano Bruno.
As teorias de Pitágoras
Para os adeptos do pitagorismo, o cosmo é regido por relações matemáticas muito precisas. Esse pressuposto lhes foi sugerido a partir da observação do movimento dos astros, o que sugere que a sua aproximação com as idéias defendidas pelos astrólogos caldeus pode ter algum fundo de verdade, como afirmam a maioria dos estudiosos desse sistema de pensamento.
Dessa observação os pitagóricos tiveram a intuição de que há uma ordem na estrutura do universo e que ela seria demonstrável em termos matemáticos e geométricos. A alternância entre dia e noite, as estações do ano e o movimento circular e perfeito das estrelas num plano perfeitamente delineado eram uma clara evidência desse pressuposto. Com isso eles cunharam o termo κόσμος (kósmos), para mostrar que o universo era regido por essa ordem númerica/geométrica.
Cosmo o significa "ordem", "organização", "beleza", "harmonia", ou seja, é a totalidade da estrutura universal, incluindo o macro e o micro (o imenso e o ínfimo). O cosmo é, portanto, a totalidade de todas as coisas existentes no universo, ordenado em grandezas, desde os grandes conjuntos estelares (nebulosas, galáxias, sistemas planetários) até as mais ínfimas partículas subatômicas. Na definição do famoso astrônomo Carl Sagan, o Cosmo é “tudo aquilo que já foi, tudo que é e tudo que será”. Assim, somente a matemática pode oferecer ferramentas seguras para o estudo das realidades cósmicas, e esse foi o grande interesse que aproximou novamente os pitagóricos dos modernos estudiosos dessa matéria.
Uma das conclusões extraídas das especulações pitagóricas foi a de que a matéria universal é granular, e em conseqüência, a sua forma seria esférica. Dessa forma, todos os corpos celestes também seriam esféricos. Nessa cosmovisão os pitagóricos concluíram que a Terra também era esférica e que ela girava ao redor de um centro. Alguns discípulos dessa escola chegaram até a intuir a rotação da Terra em volta de um eixo, mas o caráter esotérico que se atribuía á esse sistema filosófico impediu que suas idéias a respeito da astrologia fossem levadas a sério pelos codificadores da doutrina cristã e assim o pensamento pitagórico foi relegado à vala comum das heresias e codificado como pernicioso para o espírito humano.
Com a abertura proporcionada pelo Renascimento, porém, o Pitagorismo, junto com outros sistemas filosóficos censurados pela Igreja, ressurgiu. Os intelectuais renascentistas redescobriram-no e perceberam quem nem tudo nele, como afirmavam os teólogos da Igreja, eram heresias ou superstições inspiradas por pensadores influenciados pelo demônio.
A maior influência da escola pitagórica aconteceu no domínio da geometria e foi aplicada no estudo da astrologia e da astronomia, sendo também muito útil na arquitetura e nas ciências matemáticas. Uma das mais importantes descobertas dos pitagóricos se refere às relações entre os lados do triângulo retângulo. Essas descobertas, até hoje estudadas na maioria dos currículos escolares, foi enunciada no famoso teorema de Pitágoras.
Pitágoras afirmava que o número representa o princípio fundamental que demonstra a essência do universo. Ele não distingue forma, lei e substância nos elementos. Considera ser o número o elo que liga todos os elementos do universo.
Para eles existiam quatro elementos na natureza: terra, água, ar e fogo, todos com suas correspondências numéricas. Desses quatro elementos, toda a matéria cósmica era feita e das interações entre eles se formatava o universo.
O principal símbolo da escola pitagórica era o pentagrama. Essa figura geométrica era um algorítimo importante na geometria porque ele possuía algumas propriedades fundamentais que se projetavam em outras formas.
Um pentagrama é obtido traçando-se as diagonais de um pentágono regular; usando as intersecções dos segmentos dessas diagonais, é obtido um novo pentágono regular, que é proporcional ao original pela aplicação da chamada razão áurea, que se expressa pela equação a+ b= a = √5. Essa equação mostra a relação entre o número e a forma. Assim todas as formas universais, inclusive a do ser humano, podiam ser reduzidas a um número, que representaria a sua matriz fundamental, da qual derivariam todas as propriedades e funções do homem. Essa idéia seria amplamemente aproveitada pelos filósofos gnósticos e pelos cultores das doutrinas místicas, na elaboração da doutrina do homem universal, ou Adão Kadmo (ou Kadmon), protótipo celeste segundo o qual, segundo esses estudiosos, o ser humano teria sido copiado.[1]
O HOMEM VITRUVIANO, DESENHO DE LEONARDO DA VINCI SOBRE UM MODELO DE CLÁUDIO VITRÚVIO
Já dissemos que apesar da exatidão com que os pitagóricos trataram a matemática e a geometria, sua filosofia sempre foi classificada como esotérica e tratada com desconfiança pelos estudiosos, o que a relegou ao ostracismo acadêmico durante muitos séculos. Isso provocou também a sua rejeição pela Igreja católica e prejudicou sua aceitação nos círculos científicos. Da mesma forma, a concepção pitagórica de que todas as coisas são números e que o processo de libertação da alma seria resultante de um esforço feito basicamente pelo indivíduo, nunca agradou aos teólogos cristãos porque punha a descoberto os verdadeiros valores que se devem cultivar para a obtenção da chamada iluminação. Tudo isso contribuiu para que o pitagorismo fosse relegado a um segundo plano no terreno das doutrinas e até considerado, em certos círculos da Igreja, como uma heresia das mais perigosas.
A tetractys
Os pitagóricos afirmavam que a purificação da alma era resultado de um trabalho intelectual que se dava através do estudo da estrutura numérica das coisas. Esse conhecimento faria da alma uma unidade harmônica com os demais padrões energéticos do universo. Era uma idéia que colocava o processo de salvação nas mãos do próprio homem, excluindo a Igreja como intermediária. Essa foi a principal razão de o pitagorismo acabar sendo colocado no rol das heresias, embora Aristóteles, o filósofo mais respeitado pela Igreja medieval, tivesse incorporado em suas teses muitas ínfluências dessa escola.
Os pitagóricos gostavam de demonstrar as várias propriedades dos números usando figuras geométricas. Um dos números mais importante na cosmogonia pitagórica era o 10, que eles consideravam como sendo um número triangular. Esse número era chamado por eles de Tetraktys, ou, em português, a tétrada. A Tetractys era uma espécie de pirâmide, ou triângulo onde se inscrevia os primeiros numerais, base de toda numeração ordinal, dando como resultado um número místico, representativo dos quatro elementos-base da natureza: fogo, água, ar e terra: ou numericamente 10=1 + 2 + 3 + 4, série que servia de representação para a totalidade do universo.
Assim, a série 1, 2, 3, 4 representaria individualmente a mônada, a dualidade, a trindade e o sólido, que equivalem, de per si, ás quatro fases de manifestações de Deus no mundo da matéria, como ensina a tradição da Cabala.
O sistema pitagórico, em sua idealização do universo, encontra uma estreita relação com o simbolismo da Cabala. Essa relação é demonstrada na mais interessante concepção esotérica dos pitagóricos que é a sua Árvore da Vida, conhecida como a pirâmide Tetractys, ou Tétrada.
A Tétrada, que sempre era desenhada com um alfa em cima, dois alfas abaixo deste, depois três alfas e por fim quatro alfas na base da pirâmide era o principal símbolo do conhecimento, segundo a filosofia pitagórica.
A Tetractys é também uma representação do sistema solar. A partir dela Pitágoras deduziu conhecimentos astrológicos extremamente exatos, só comprovados pela astronomia moderna, embora no seu tempo apenas sete corpos celestes fossem conhecidos: Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e Lua.
Para Pitágoras todos os números tinham propriedades e identidades próprias que se relacionavam, não só às forças da natureza, mas principalmente a valores morais. Assim, numa escala de 1 a 12, que seria a escala própria do universo, partindo do princípio de que haveria 12 regiões cósmicas (os 12 signos do zodíaco), os pitagóricos chegaram a interessantes concepções, muito semelhantes àquelas deduzidas pelos cultores da Cabala numérica.
Uma dessas conclusões era de que a Tetractys simbolizava os quatro elementos — terra, ar, fogo e água. A seqüência 1, 2, 3, 4 simbolizava também a harmonia das esferas cósmicas, pois a soma dos números perfaz 10, que é o número perfeito da mais alta ordem. Dez é também o número das Séfiras que estruturam a Árvore da Vida, conforme a doutrina da Cabala.
A PIRÂMIDE TETRACTYS
A Tetractys é igualmente uma representação do espaço cósmico, onde a primeira linha do primeiro ponto é a dimensão zero. Na Cabala essa é dimensão da chamada Existência Negativa, ou seja, o plano da divindade ainda não manifestada no mundo das realidades materiais. Numericamente ela é representada pelo número zero. Na Árvore da Vida cabalística é representada por Kether, a coroa.
A segunda linha, com dois pontos, representa a primeira dimensão positiva. Na Árvore Sefirótica da Cabala ela representa Chokmah, a manifestação positiva da divindade. Numericamente ela é o 1 e geometricamente aparece como dois pontos, ligados por uma linha paralela.
A Terceira linha, com três pontos, representa a segunda dimensão positiva, que numericamente é o 2, Na Cabala é a séfira Binah, um plano definido por um triângulo de três pontos, que forma a trindade geradora do universo material. A quarta linha representa a Terceira dimensão. Numericamente ela é o três e geometricamente um tetraedro, ou um cubo.
Para os pitagóricos a Tetractys era um símbolo divino. Tanto que os iniciados tinham até uma oração que costumavam fazer em frente a ela. Essa oração dizia o seguinte:
"Abençoa-nos, divino número, tu que dás geração aos homens e aos deuses! Ó divina, divina Tectractys, tu que conténs as raízes da vida e mantém a criação fluindo eternamente! Tu começas com a profunda e pura unidade e chegas ao sagrado quaternário. Então tu te tornas a mãe de tudo, o que comporta, que engrandece, o primeiro nascido, o que nunca desaparece, o fundamental e sagrado número dez, que tudo integra." [2]
Pitagorismo e Cabala
As escolas pitagóricas eram uma espécie de sociedade secreta só aberta a poucos escolhidos e cujos graus eram colados por iniciação. Assim, os iniciados deviam fazer um juramento à Tetractys. Depois disso serviam como aprendizes, em silêncio, durante três anos.
Os pitagóricos sustentavam que existiam 2 quaternários de números, sendo o primeiro obtido por adição e o segundo por multiplicação. Esses quaternários integrariam a música, a geometria e a aritmética, disciplinas segundo as quais a harmonia do universo estava estabelecida. O primeiro quaternário era formado pela seqüência 1, 2 , 3, 4. No total o universo comportaria 11 quaternários. E o mundo que deles resultava era geométrica e harmoniosamente estruturado.
O pitagorismo foi uma das disciplinas mais amadas pelos filósofos gnósticos e pelos amantes da chamada filosofia oculta. Nomes famosos como o de Cornélio Agripa, Eliphas Lévi, Jacob Bohéme e outros se utilizaram de conceitos desenvolvidos pelos pitagóricos para instruir suas doutrinas. Principalmente entre os cultores da disciplina conhecida como aritmosofia, o pitagorismo era a sua principal fonte de influência. O símbolo ao lado foi criado por Jacob Boehme. Ele representa a Tetractys com as iniciais do Tetragramaton, as quatro letras do nome de Deus. É uma perfeita interação simbólica entre o Pitagorismo e a Cabala[3]
Há muita influência do pitagorismo na tradição da Cabala. A Árvore Sefirótica da Cabala, embora não tenha forma triangular como na representação da Tetractys, não obstante, é semelhante à criação pitagórica em sua conformação filosófica. Da mesma forma que as dez séfiras da Árvore da Vida da Cabala, os dez números da Tetractys também se referem às fases de emanação da essência divina no mundo real, e cada fase do quaternário corresponde a cada um dos mundos de emanação da Cabala. As correspondências são as mesmas e as interpretações são semelhantes. Daí a certeza dos estudiosos de que ambas as manifestações culturais sejam oriundas de uma única fonte arquetípica, ou seja, as mesmas idéias que inspiraram os pitagóricos serviram de base para os cabalistas desenvolverem as suas.
O Pitagorismo e o Tarô
A tradição adivinhatória do Tarô sofreu muita influência da Cabala e das idéias desenvolvidas pelos pitagóricos. Na leitura do Tarô, as várias combinações feitas com as cartas correspondem às diversas combinações dos números da Tectractys, as quais são representações de futuros eventos, relacionados com a pessoa que as consulta. Essas correspondências também podem ser obtidas pela leitura da Árvore da Vida cabalística.
A primeira posição, marcada por um ponto, representa a capacidade de leitura das cartas, que dão a habilidade ao leitor para entendê-las. A segunda posição, marcada por dois pontos, representa o cosmo e o indivíduo, com as suas interelações. A terceira fila, marcada por três pontos, representa três tipos de decisão que um indivíduo deve tomar. A quarta fila, marcada por quatro pontos, representa os quatro elementos. Eles estão conectados às forças dinâmicas da criação e suas combinações estão relacionadas aos pensamentos, objetivos, emoções, oportunidades e todas as realidades físicas e psicológicas do indivíduo que as consulta. Essas relações também podem ser deduzidas nos movimentos dos astros, o que liga essa cultura á tradição da Astrologia. Tudo faz parte de um caldo cultural cozinhado ao longo do tempo pelo pensamento mágico e alimentado pelo misticismo sempre presente no espírito humano.
Pitagorismo e Maçonaria
A Maçonaria incorporou em seus ensinamentos uma boa dose dos ensinamentos pitagóricos. A noção de que o universo se explica por uma relação numérica existente entre símbolos geométricos, números e manifestações de espiritualidade, a qual é representada por mitos, alegorias, lendas e princípios presentes na natureza através de leis naturais é uma inspiração tipicamente pitagórica. As proporções geométricas do Templo maçônico, embora se diga que ele é inspirado na planta do Templo de Jerusalém, guarda, não obstante, muitas relações derivadas das teorias de Pitágoras.
Grande parte da simbologia ligada à geometria, trabalhada nos rituais maçônicos também tem essa fonte de origem. Ela está ligada não só a visão cosmológica da Maçonaria acerca das propriedades do universo, como também em relação às conseqüências morais que estão embutidas nessas relações geométricas e matemáticas, já que essas relações são, ao mesmo tempo, materiais e espirituais. Dessa forma, estudar o pitagorismo também nos ajuda a penetrar no âmago dos Mistérios da Arte Real. Não é sem razão que a Maçonaria é considerada a própria ciência da Geometria aplicada ás relações espirituais que o homem estabelece com o universo e suas leis. Daí ela ser representada pela letra G como símbolo arcano da manifestação divina no cosmo.
De fato, a planta do Templo maçônico é um espaço tridimensional (em largura, altura e profundidade) delimitado pela corda dos oitenta e um nós e representado por um plano geométrico oblongo que tem a forma de um retângulo. Esse plano é desenhado nessa conformação justamente para servir ao propósito específico de todo templo, ou seja, o de funcionar como catalizador da energia cósmica através das egrégoras que neles se formam pela comunhão dos pensamentos em perfeita consonância. Essa idéia não é nova nem deriva exclusivamente de interpretações mísiticas feitas por pensadores esotéricos, que em tudo viam manifestações da realidade sutil. Elas são oriendas principalmente dos conhecimentos técnicos desenvolvidos pelos maçons operativos, aplicados nas grandes construções da antiguidade, onde o domínio da geometria e da matemática era fundamental para o exercício do ofício. Esse conhecimento, ainda hoje necessário para quem se ocupa das profissões ligadas á arte de construir, mostra a importância de se estudar mais a fundo a grande arte desse genial filósofo. E para quem se interessa pelas relações mais profundas que o espírito humano tem com as energias que moldam a matéria universal, o pitagorismo é uma disciplina essencial.
Pitágoras- As teorias de Pitágoras-A Tetractys- Pitagorismo e Cabala- O Pitagorismo e o Tarô- Pitagorismo e Maçonaria.
Pitágoras
Pitágoras, cuja vida se situa entre 572-497 a.C., nasceu provavelmente na ilha de Samos e morreu, segundo algumas fontes, em Metapontum, cidade da chamada Magna Grécia, situada no sudoeste da Itália.
Sua vida está cercada de lendas. De acordo com certas tradições, Pitágoras era filho de um ourives chamado Mnesarco. Teria estudado com Tales de Mileto e Anaximandro, fundadores da escola Jônica e pais da teoria evolucionista, que afirma a origem da vida se deu na água.
Dizem também que viajou pelo Egito e Mesopotâmia, onde teria aprendido as ciências dos hierofantes egípcios e a sabedoria dos magos babilônicos. Essa mesma tradição sustenta que ele conheceu Zaratustra, o codificador da doutrina Mazdeísta, e com ele teria aprendido a teoria do universo gerado a partir do embate entre os dois princípios – luz e trevas − idéias essas que teria aproveitado em seus trabalhos.
No Sul da Itália, mais especificamente em Crotona, ele fundou uma comunidade sectária que se propunha a estudar os fenômenos da natureza. Um de seus discípulos, Nicolau de Crotona, teria divulgado essa doutrina, que deveria ser secreta, e em razão dessa inconfidência de um de seus discípulos, a escola foi fechada e os pitagóricos foram expulsos da cidade.
A doutrina desenvolvida por Pitágoras e seus discípulos sempre foi rotulada de esotérica. Em razão disso ela ficou relegada a um plano secundário pelos filósofos e estudiosos acadêmicos da antiguidade e da Idade Média, só ganhando notoriedade e importância a partir da Renascença, movimento intelectual, político e sociológico, iniciado em princípios do século XVI. Juntamente com os ideais da época clássica, e a filosofia dos gnósticos dos primeiros séculos do cristianismo, também o pitagorismo foi recuperado pelos filósofos hermetistas, e aplicado às novas idéias divulgadas pelos reformistas, especialmente João Reuchelin Jacob Bhoeme, e Giordano Bruno.
As teorias de Pitágoras
Para os adeptos do pitagorismo, o cosmo é regido por relações matemáticas muito precisas. Esse pressuposto lhes foi sugerido a partir da observação do movimento dos astros, o que sugere que a sua aproximação com as idéias defendidas pelos astrólogos caldeus pode ter algum fundo de verdade, como afirmam a maioria dos estudiosos desse sistema de pensamento.
Dessa observação os pitagóricos tiveram a intuição de que há uma ordem na estrutura do universo e que ela seria demonstrável em termos matemáticos e geométricos. A alternância entre dia e noite, as estações do ano e o movimento circular e perfeito das estrelas num plano perfeitamente delineado eram uma clara evidência desse pressuposto. Com isso eles cunharam o termo κόσμος (kósmos), para mostrar que o universo era regido por essa ordem númerica/geométrica.
Cosmo o significa "ordem", "organização", "beleza", "harmonia", ou seja, é a totalidade da estrutura universal, incluindo o macro e o micro (o imenso e o ínfimo). O cosmo é, portanto, a totalidade de todas as coisas existentes no universo, ordenado em grandezas, desde os grandes conjuntos estelares (nebulosas, galáxias, sistemas planetários) até as mais ínfimas partículas subatômicas. Na definição do famoso astrônomo Carl Sagan, o Cosmo é “tudo aquilo que já foi, tudo que é e tudo que será”. Assim, somente a matemática pode oferecer ferramentas seguras para o estudo das realidades cósmicas, e esse foi o grande interesse que aproximou novamente os pitagóricos dos modernos estudiosos dessa matéria.
Uma das conclusões extraídas das especulações pitagóricas foi a de que a matéria universal é granular, e em conseqüência, a sua forma seria esférica. Dessa forma, todos os corpos celestes também seriam esféricos. Nessa cosmovisão os pitagóricos concluíram que a Terra também era esférica e que ela girava ao redor de um centro. Alguns discípulos dessa escola chegaram até a intuir a rotação da Terra em volta de um eixo, mas o caráter esotérico que se atribuía á esse sistema filosófico impediu que suas idéias a respeito da astrologia fossem levadas a sério pelos codificadores da doutrina cristã e assim o pensamento pitagórico foi relegado à vala comum das heresias e codificado como pernicioso para o espírito humano.
Com a abertura proporcionada pelo Renascimento, porém, o Pitagorismo, junto com outros sistemas filosóficos censurados pela Igreja, ressurgiu. Os intelectuais renascentistas redescobriram-no e perceberam quem nem tudo nele, como afirmavam os teólogos da Igreja, eram heresias ou superstições inspiradas por pensadores influenciados pelo demônio.
A maior influência da escola pitagórica aconteceu no domínio da geometria e foi aplicada no estudo da astrologia e da astronomia, sendo também muito útil na arquitetura e nas ciências matemáticas. Uma das mais importantes descobertas dos pitagóricos se refere às relações entre os lados do triângulo retângulo. Essas descobertas, até hoje estudadas na maioria dos currículos escolares, foi enunciada no famoso teorema de Pitágoras.
Pitágoras afirmava que o número representa o princípio fundamental que demonstra a essência do universo. Ele não distingue forma, lei e substância nos elementos. Considera ser o número o elo que liga todos os elementos do universo.
Para eles existiam quatro elementos na natureza: terra, água, ar e fogo, todos com suas correspondências numéricas. Desses quatro elementos, toda a matéria cósmica era feita e das interações entre eles se formatava o universo.
O principal símbolo da escola pitagórica era o pentagrama. Essa figura geométrica era um algorítimo importante na geometria porque ele possuía algumas propriedades fundamentais que se projetavam em outras formas.
Um pentagrama é obtido traçando-se as diagonais de um pentágono regular; usando as intersecções dos segmentos dessas diagonais, é obtido um novo pentágono regular, que é proporcional ao original pela aplicação da chamada razão áurea, que se expressa pela equação a+ b= a = √5. Essa equação mostra a relação entre o número e a forma. Assim todas as formas universais, inclusive a do ser humano, podiam ser reduzidas a um número, que representaria a sua matriz fundamental, da qual derivariam todas as propriedades e funções do homem. Essa idéia seria amplamemente aproveitada pelos filósofos gnósticos e pelos cultores das doutrinas místicas, na elaboração da doutrina do homem universal, ou Adão Kadmo (ou Kadmon), protótipo celeste segundo o qual, segundo esses estudiosos, o ser humano teria sido copiado.[1]
O HOMEM VITRUVIANO, DESENHO DE LEONARDO DA VINCI SOBRE UM MODELO DE CLÁUDIO VITRÚVIO
Já dissemos que apesar da exatidão com que os pitagóricos trataram a matemática e a geometria, sua filosofia sempre foi classificada como esotérica e tratada com desconfiança pelos estudiosos, o que a relegou ao ostracismo acadêmico durante muitos séculos. Isso provocou também a sua rejeição pela Igreja católica e prejudicou sua aceitação nos círculos científicos. Da mesma forma, a concepção pitagórica de que todas as coisas são números e que o processo de libertação da alma seria resultante de um esforço feito basicamente pelo indivíduo, nunca agradou aos teólogos cristãos porque punha a descoberto os verdadeiros valores que se devem cultivar para a obtenção da chamada iluminação. Tudo isso contribuiu para que o pitagorismo fosse relegado a um segundo plano no terreno das doutrinas e até considerado, em certos círculos da Igreja, como uma heresia das mais perigosas.
A tetractys
Os pitagóricos afirmavam que a purificação da alma era resultado de um trabalho intelectual que se dava através do estudo da estrutura numérica das coisas. Esse conhecimento faria da alma uma unidade harmônica com os demais padrões energéticos do universo. Era uma idéia que colocava o processo de salvação nas mãos do próprio homem, excluindo a Igreja como intermediária. Essa foi a principal razão de o pitagorismo acabar sendo colocado no rol das heresias, embora Aristóteles, o filósofo mais respeitado pela Igreja medieval, tivesse incorporado em suas teses muitas ínfluências dessa escola.
Os pitagóricos gostavam de demonstrar as várias propriedades dos números usando figuras geométricas. Um dos números mais importante na cosmogonia pitagórica era o 10, que eles consideravam como sendo um número triangular. Esse número era chamado por eles de Tetraktys, ou, em português, a tétrada. A Tetractys era uma espécie de pirâmide, ou triângulo onde se inscrevia os primeiros numerais, base de toda numeração ordinal, dando como resultado um número místico, representativo dos quatro elementos-base da natureza: fogo, água, ar e terra: ou numericamente 10=1 + 2 + 3 + 4, série que servia de representação para a totalidade do universo.
Assim, a série 1, 2, 3, 4 representaria individualmente a mônada, a dualidade, a trindade e o sólido, que equivalem, de per si, ás quatro fases de manifestações de Deus no mundo da matéria, como ensina a tradição da Cabala.
O sistema pitagórico, em sua idealização do universo, encontra uma estreita relação com o simbolismo da Cabala. Essa relação é demonstrada na mais interessante concepção esotérica dos pitagóricos que é a sua Árvore da Vida, conhecida como a pirâmide Tetractys, ou Tétrada.
A Tétrada, que sempre era desenhada com um alfa em cima, dois alfas abaixo deste, depois três alfas e por fim quatro alfas na base da pirâmide era o principal símbolo do conhecimento, segundo a filosofia pitagórica.
A Tetractys é também uma representação do sistema solar. A partir dela Pitágoras deduziu conhecimentos astrológicos extremamente exatos, só comprovados pela astronomia moderna, embora no seu tempo apenas sete corpos celestes fossem conhecidos: Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e Lua.
Para Pitágoras todos os números tinham propriedades e identidades próprias que se relacionavam, não só às forças da natureza, mas principalmente a valores morais. Assim, numa escala de 1 a 12, que seria a escala própria do universo, partindo do princípio de que haveria 12 regiões cósmicas (os 12 signos do zodíaco), os pitagóricos chegaram a interessantes concepções, muito semelhantes àquelas deduzidas pelos cultores da Cabala numérica.
Uma dessas conclusões era de que a Tetractys simbolizava os quatro elementos — terra, ar, fogo e água. A seqüência 1, 2, 3, 4 simbolizava também a harmonia das esferas cósmicas, pois a soma dos números perfaz 10, que é o número perfeito da mais alta ordem. Dez é também o número das Séfiras que estruturam a Árvore da Vida, conforme a doutrina da Cabala.
A PIRÂMIDE TETRACTYS
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α α α α α α α α α A ARVÓRE SEFIRÓRICA DA CABALA |
A Tetractys é igualmente uma representação do espaço cósmico, onde a primeira linha do primeiro ponto é a dimensão zero. Na Cabala essa é dimensão da chamada Existência Negativa, ou seja, o plano da divindade ainda não manifestada no mundo das realidades materiais. Numericamente ela é representada pelo número zero. Na Árvore da Vida cabalística é representada por Kether, a coroa.
A segunda linha, com dois pontos, representa a primeira dimensão positiva. Na Árvore Sefirótica da Cabala ela representa Chokmah, a manifestação positiva da divindade. Numericamente ela é o 1 e geometricamente aparece como dois pontos, ligados por uma linha paralela.
A Terceira linha, com três pontos, representa a segunda dimensão positiva, que numericamente é o 2, Na Cabala é a séfira Binah, um plano definido por um triângulo de três pontos, que forma a trindade geradora do universo material. A quarta linha representa a Terceira dimensão. Numericamente ela é o três e geometricamente um tetraedro, ou um cubo.
Para os pitagóricos a Tetractys era um símbolo divino. Tanto que os iniciados tinham até uma oração que costumavam fazer em frente a ela. Essa oração dizia o seguinte:
"Abençoa-nos, divino número, tu que dás geração aos homens e aos deuses! Ó divina, divina Tectractys, tu que conténs as raízes da vida e mantém a criação fluindo eternamente! Tu começas com a profunda e pura unidade e chegas ao sagrado quaternário. Então tu te tornas a mãe de tudo, o que comporta, que engrandece, o primeiro nascido, o que nunca desaparece, o fundamental e sagrado número dez, que tudo integra." [2]
Pitagorismo e Cabala
As escolas pitagóricas eram uma espécie de sociedade secreta só aberta a poucos escolhidos e cujos graus eram colados por iniciação. Assim, os iniciados deviam fazer um juramento à Tetractys. Depois disso serviam como aprendizes, em silêncio, durante três anos.
Os pitagóricos sustentavam que existiam 2 quaternários de números, sendo o primeiro obtido por adição e o segundo por multiplicação. Esses quaternários integrariam a música, a geometria e a aritmética, disciplinas segundo as quais a harmonia do universo estava estabelecida. O primeiro quaternário era formado pela seqüência 1, 2 , 3, 4. No total o universo comportaria 11 quaternários. E o mundo que deles resultava era geométrica e harmoniosamente estruturado.
O pitagorismo foi uma das disciplinas mais amadas pelos filósofos gnósticos e pelos amantes da chamada filosofia oculta. Nomes famosos como o de Cornélio Agripa, Eliphas Lévi, Jacob Bohéme e outros se utilizaram de conceitos desenvolvidos pelos pitagóricos para instruir suas doutrinas. Principalmente entre os cultores da disciplina conhecida como aritmosofia, o pitagorismo era a sua principal fonte de influência. O símbolo ao lado foi criado por Jacob Boehme. Ele representa a Tetractys com as iniciais do Tetragramaton, as quatro letras do nome de Deus. É uma perfeita interação simbólica entre o Pitagorismo e a Cabala[3]
Há muita influência do pitagorismo na tradição da Cabala. A Árvore Sefirótica da Cabala, embora não tenha forma triangular como na representação da Tetractys, não obstante, é semelhante à criação pitagórica em sua conformação filosófica. Da mesma forma que as dez séfiras da Árvore da Vida da Cabala, os dez números da Tetractys também se referem às fases de emanação da essência divina no mundo real, e cada fase do quaternário corresponde a cada um dos mundos de emanação da Cabala. As correspondências são as mesmas e as interpretações são semelhantes. Daí a certeza dos estudiosos de que ambas as manifestações culturais sejam oriundas de uma única fonte arquetípica, ou seja, as mesmas idéias que inspiraram os pitagóricos serviram de base para os cabalistas desenvolverem as suas.
O Pitagorismo e o Tarô
A tradição adivinhatória do Tarô sofreu muita influência da Cabala e das idéias desenvolvidas pelos pitagóricos. Na leitura do Tarô, as várias combinações feitas com as cartas correspondem às diversas combinações dos números da Tectractys, as quais são representações de futuros eventos, relacionados com a pessoa que as consulta. Essas correspondências também podem ser obtidas pela leitura da Árvore da Vida cabalística.
A primeira posição, marcada por um ponto, representa a capacidade de leitura das cartas, que dão a habilidade ao leitor para entendê-las. A segunda posição, marcada por dois pontos, representa o cosmo e o indivíduo, com as suas interelações. A terceira fila, marcada por três pontos, representa três tipos de decisão que um indivíduo deve tomar. A quarta fila, marcada por quatro pontos, representa os quatro elementos. Eles estão conectados às forças dinâmicas da criação e suas combinações estão relacionadas aos pensamentos, objetivos, emoções, oportunidades e todas as realidades físicas e psicológicas do indivíduo que as consulta. Essas relações também podem ser deduzidas nos movimentos dos astros, o que liga essa cultura á tradição da Astrologia. Tudo faz parte de um caldo cultural cozinhado ao longo do tempo pelo pensamento mágico e alimentado pelo misticismo sempre presente no espírito humano.
Pitagorismo e Maçonaria
A Maçonaria incorporou em seus ensinamentos uma boa dose dos ensinamentos pitagóricos. A noção de que o universo se explica por uma relação numérica existente entre símbolos geométricos, números e manifestações de espiritualidade, a qual é representada por mitos, alegorias, lendas e princípios presentes na natureza através de leis naturais é uma inspiração tipicamente pitagórica. As proporções geométricas do Templo maçônico, embora se diga que ele é inspirado na planta do Templo de Jerusalém, guarda, não obstante, muitas relações derivadas das teorias de Pitágoras.
Grande parte da simbologia ligada à geometria, trabalhada nos rituais maçônicos também tem essa fonte de origem. Ela está ligada não só a visão cosmológica da Maçonaria acerca das propriedades do universo, como também em relação às conseqüências morais que estão embutidas nessas relações geométricas e matemáticas, já que essas relações são, ao mesmo tempo, materiais e espirituais. Dessa forma, estudar o pitagorismo também nos ajuda a penetrar no âmago dos Mistérios da Arte Real. Não é sem razão que a Maçonaria é considerada a própria ciência da Geometria aplicada ás relações espirituais que o homem estabelece com o universo e suas leis. Daí ela ser representada pela letra G como símbolo arcano da manifestação divina no cosmo.
De fato, a planta do Templo maçônico é um espaço tridimensional (em largura, altura e profundidade) delimitado pela corda dos oitenta e um nós e representado por um plano geométrico oblongo que tem a forma de um retângulo. Esse plano é desenhado nessa conformação justamente para servir ao propósito específico de todo templo, ou seja, o de funcionar como catalizador da energia cósmica através das egrégoras que neles se formam pela comunhão dos pensamentos em perfeita consonância. Essa idéia não é nova nem deriva exclusivamente de interpretações mísiticas feitas por pensadores esotéricos, que em tudo viam manifestações da realidade sutil. Elas são oriendas principalmente dos conhecimentos técnicos desenvolvidos pelos maçons operativos, aplicados nas grandes construções da antiguidade, onde o domínio da geometria e da matemática era fundamental para o exercício do ofício. Esse conhecimento, ainda hoje necessário para quem se ocupa das profissões ligadas á arte de construir, mostra a importância de se estudar mais a fundo a grande arte desse genial filósofo. E para quem se interessa pelas relações mais profundas que o espírito humano tem com as energias que moldam a matéria universal, o pitagorismo é uma disciplina essencial.
[1]Veja-se, a esse respeito o desenho do chamado Homem Vitruviano, desenho elaborado por Leonardo da Vinci, a partir das idéias do arquiteto italiano Cláudio Vitrúvio. O
[2] Jean Francois Mattei- Pitágoras e Pitagorismo, Ed. Paulus-2009
[3] A aritmosofia é a parte da filosofia esotérica que trata do simbolismo dos números e suas relações com o destino dos homens e do universo. A esse respeito ver Sarane Alexandrian- História da Filosofia Oculta- Esfinge, 1983.