DEBATE SOBRE PARTILHA DE OPINIÕES - 01

Penso ser positivo assinalar a presente reflexão, resultante da publicação no Facebook de um texto poético que dá pelo título de «O argueiro e a trave», cujo comentário da Dra. Maria Luísa Adães, insigne cultivadora das nossas letras, abriu a porta a este debate.

Dra. Luísa Adães – “O mundo está em mudança e não tem rumo. O intelecto, neste momento, está em vias de extinção. Mas o intelecto também tem de mudar, pois se não mudar se perde cada vez mais. Quem não vê esta realidade vive no passado. Adaptemo-nos aos tempos e ajudemos com humildade a mudança, para que não seja tão trágica. Da poetisa”

Frassino – Pois é, doutora, se o intelecto está em vias de extinção, como diz, isso deve-se à “ditadura do trivial” que leva, como sabemos, ao consumismo e ao abandono da acção produtiva (vulgo criatividade). Entre os agentes corrosivos que promovem este status quo mental avulta obviamente a publicidade. Esta usa como estratégias pretensamente invencíveis a incultura e a desqualificação dos valores que, por sua vez obscurecem, como sabe, o intelecto, matando à partida as emoções que constituem em si mesmas o território genuíno da mente sã. É por isso mesmo que, numa atitude humilde como sublinha, se impõe a progressiva mudança de paradigmas de acção, tendentes à libertação da identidade própria da pessoa.

Quando António Damásio em Ao Encontro de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos (2004), refere que “as emoções ocorrem no teatro do corpo e os sentimentos ocorrem no teatro da mente” teremos aqui matéria-prima psicológica para podermos agir em conformidade, isto é, da ocorrência do fenómeno que nos compete consciencializar (sentir) há que “trepar à mente” e desbravar lá planos de conduta para que possamos iluminar e implementar toda a acção possível. Resultará, estou convicto, na desejada mudança e na sublimação da tragédia.

Viver no passado, quer dizer, ser conivente no conservadorismo balofo (salvaguardando as virtualidades e as prerrogativas que possa conter) terá como resultado a cegueira dos novos tempos, ou seja, as imagens de marca da história.

A atitude que sugere, com propriedade, como seja “a adaptabilidade aos tempos” é, todavia, a postura mais consentânea a tomar na complexidade do nosso mundo. Apenas acrescento que, para tal desiderato se impõe, nas previsíveis circunstâncias a bússola da Cultura. Cultura, sim, mas onde é que ela está?

Recordo aquele actor que, em pleno palco da aproximação da morte, gritou para a plateia: “foi você que pediu um naco de cultura?”.

Frassino Machado

In CAMINHOS DO MEU PENSAR

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 26/09/2012
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