Lobo. Mau?
O Lobo Mau é, sem dúvida, um dos mais conhecidos antagonistas entre a garotada. Quem não se lembra do Lobo Mau que engoliu a Chapeuzinho Vermelho? Quem não se lembra do Lobo Mau que perseguiu os Três Porquinhos? E quem não se lembra daquela musiquinha ‘Eu sou o Lobo Mau, Lobo Mau, Lobo Mau. Eu pego as criancinhas pra fazer mingau’? Mas... Nem todos conhecem o Lobo Bom. Li algumas adaptações dos clássicos infantis e me deparei com mais de uma história em que se desconstrói a figura do Lobo Mau. Conheci um Lobo Bom, vítima da maldade de caçadores cruéis.... Conheci um Lobo Bom, idoso e doente, ansioso por fazer amigos... Conheci um Lobo Bobo, que não metia medo em ninguém... Conheci Três Lobinhos Bons, que eram perseguidos por um Porco Mau... Conheci um Lobo Bom e Três Porquinhos Malcriados... Enfim, fico fascinada com essas inversões literárias, que permitem à criança rever conceitos, valores. Gosto dessa ruptura de estereótipos... E, de fato, as possibilidades criativas são inesgotáveis, como comprovam tais fenômenos de intertextualidade, de diálogo entre textos. Na Literatura se forma, se informa, se reforma, se transforma... Recentemente, tive a inspiração para escrever o poema “A Chapeuzinho Azul”, cujo fragmento transcrevo: “Era a Chapeuzinho Azul. Como as nuvens do céu, aparecia de várias formas. Até que se transformou em um lobo. Cara de lobo. Jeito de lobo. Coração de criança. Era o Lobo Azul. Lobo que não atacava. Lobo que não ameaçava. Lobo que brincava. Lobo que se vestia de fantasia.” Como em outras versões, percebe-se, nesse trecho, que a aparência nada vale. Vale, sim, o interior de cada um. E, de algum modo, todos temos dentro de nós um lobo bom e um lobo mau, consoante aquela lenda indígena segundo a qual cada um desses lobos vive em constante combate dentro de nós. Qual vencerá? Aquele que nós alimentarmos... (