A crônica de um miserável

No recanto de uma viela uma bandeja de ovos estragados. Um ser agachado alimenta-se. Ao redor murmúrios enojados. Outros a passos longos demonstram repulsa aquela criatura 'inferiorizada".

Curva-se ele, pois o instinto fala mais alto. Nem mesmo a decomposição pútrida do alimento o impede a ingestão.

Logo ao lado um depósito de alimentos, repleto e rico em abundâncias de grãos frescos. Porém, ele só pode olhar, pois está além do seu alcance. É privado, onde gira o capital.

Vira-se não olha mais, é expulso por não portar a moeda troca, nem tão pouco de uma "boa aparência" necessária ao crédito.

Á noite, lavado pela chuva fria vaga sem destino a passos lentos, corpo exausto, a alta idade alcançara. Pálido e sem energia alguma, usa o resto de força que ainda lhe resta para encontrar um abrigo qualquer. Enfim o encontra: é seco, é quente e iluminado. Espalha sua carcaça sobre chão. Se contorce, assim a fome o perturba novamente. Gemidos são ouvidos e suspiros de tristeza. Vira-se e dorme vencido pelo cansaço. No subconsciente lembranças de parentes que outrora afagou-lhe. Susto! Fardas e distintivos o abordam, precisa se retirar outros teem que passar, não é digno daquele local. Para ele já não importa mais, àquela velha carcaça de pelos grisalhos já não tem mais vida. No fim toda atenção que a vida não lhe trouxe a morte lhe rouba. Na cova nem lápide e nem uma palavra a declarar, era apenas um mendigo!