De cigarras e de formigas
Certamente, você já leu a fábula da cigarra e da formiga.
Lembra-se do final?
A formiga nega ajuda à cigarra, quando esta bate à sua porta com fome em pleno inverno.
“Pois que cantavas, agora dança.” – afirma a formiga com ironia.
E a formiga bate a porta na cara da cigarra.
Forte, não?
Essa fábula pretendia ensinar à criança o valor do trabalho.
Assim?...
E o valor da solidariedade?
E cantar não é, por ventura, um trabalho?
Felizmente, com o passar do tempo, apareceram outras versões dessa fábula.
Surgiu a ‘formiga boa’.
Essa ajuda a cigarra, ofertando-lhe abrigo e comida.
Faz mais.
Confidencia que o canto da cigarra alegrava suas manhãs e lhe dava mais disposição para o trabalho.
Conheço uma versão engraçadíssima em que a cigarra se torna uma cantora famosa e a formiga fica injuriada e que ‘dar uma surra’ no autor da fábula original, pois se sentiu enganada pelo autor, que teria feito a cigarra se dar mal no final da história.
Já tive a oportunidade de coordenar uma oficina de contação de histórias para crianças, na qual apresentávamos a versão da formiga boa e a versão da formiga ‘má’.
As crianças escolheram qual das duas versões queriam contar.
Todos os grupos escolheram a versão politicamente correta.
Eles coloriram as figuras da história.
Colocaram-nas na sequência correta.
Colaram-nas no cartaz.
E recontaram a história em trios com o uso desse material.
Cada um recontou um pedacinho da trama.
Estratégia excelente para se trabalhar com oralidade, não acham?
Adoramos a experiência!
Após, eu poderia ter pedido para que eles reescrevessem a história, para incentivar a produção textual...
Além disso, o professor pode explorar os conceitos de texto base e versão, bem como os de ética e cidadania ao confrontar as duas versões.
Fica a dica.
Afinal, nosso trabalho, como educadores, não é o de formiguinhas?
E das boas!...
Kate Lúcia Portela de Assis é professora, escritora e contadora de histórias.