Quando o morto voltou pra vida.

Imagine uma família normal, casal, dois filhos, cachorro. Vida tranquila, trabalho, escola, rotina do lar. Todos se entendem e se querem muito bem. Até que um dia, acontece: o pai morre de infarto fulminante em casa mesmo, tomando café da manhã com os demais. Cumpridos todos procedimentos de praxe, socorro médico, velório e enterro, a vida vai, no seu ritmo, retomando a rotina original, dentro do possível. Com o passar dos meses, a dor e a saudade vão criando suas cascas, tentando cicatrizar uma lacuna que ainda sangra, ainda grita, ainda respira. Depois de um ano da morte, acontece o inesperado: o pai reaparece. Não na forma de espírito, mas em carne e osso, andando pela casa. O susto inicial, como se estivessem deparando-se com um fantasma, é monumental. Ele não tem a mínima ideia do que aconteceu, não consegue explicar o que rolou nesses doze meses. Mostram o seu atestado de óbito, levam-no a conhecer o seu próprio túmulo, trazem outras pessoas que estiveram no velório e enterro. O próprio médico que atestou sua morte é chamado e fica pasmo. Checam suas impressões digitais e DNA e confirma-se: é o falecido, ou suposto falecido. A imprensa se depara com um prato cheio para matérias que ocuparão capas de jornais e revistas, além do horário nobre na TV. Pedem a exumação do corpo e, pasme: não há corpo no caixão. Especialistas de várias partes do mundo vêm ao Brasil para acompanhar o caso. Teria sido abdusido? Teria sido uma fraude? Teria sido um golpe publicitário? Esgotadas todas possibilidades, chega-se à conclusão nenhuma. Então tenta-se retomar a rotina original, dentro do possível novamente. A mulher, no seu sétimo mês de viúva, ficou mais do que meramente grata ao colega de trabalho que nem mediu esforços para consolá-la. Os filhos já tinham se acostumado com o jeito mais liberal de gerir a casa da mãe. Até o cachorro, outrora visceralmente apegado ao dono, agora já havia escolhido outro chefe da matilha, no caso o filho mais velho. Ele até tinha uma função aparentemente vital na empresa em que trabalhava, de forma que a sua morte fez até avaliarem a possibilidade de interromper suas atividades, pois pensava-se que sem ele o negócio não andaria. Ledo engano. Não só andou, como andou até melhor, por incrível que parecesse. Ou seja, ele voltou do mundo dos mortos, só que para os vivos ainda estava morto, ou deveria permanecer assim. Mesmo para as pessoas que, originalmente, se alojavam na gaveta das mais queridas, das mais importantes, das mais próximas. A vida (ou a morte) havia pregado uma peça em todos. E o desfecho dessa história será mais inesperado ainda.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 16/09/2012
Reeditado em 17/09/2012
Código do texto: T3885154
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