Os Fundamentos Sociológicos da Educação Permanente
Para a querida amiga e Professora Rosimary Batista Lopes
 
O papel do educador não é liberar os instintos do homem; mas o homem dos seus instintos,
Usando este tema, vamos tentar mostrar a importância da Sociologia para a Educação. 

Sociologia e Educação estão estreitamente ligadas. Mas, apezar disto ser um fato perfeitamente observável através dos séculos, há pouco tempo relativamente se compreendeu que uma é base e a outra é arma.
Durkheim, define Educação como sendo: "A ação exercida pelas gerações adultas, sobre aquelas que não são ainda preparadas para a vida social. Seu objetivo é suscitar e desenvolver na criança  um certo número de condições físicas, intelectuais e morais necessárias à vida na socidade política em conjunto e no meio especial ao qual ela é particularmente destinada"(1)

 
      A Sociologia é o estudo do fato social.
 
I -  É evidente que a Educação não deveria depender do acaso, que nos fez nascer cada um com determinadas características, neste ou naquele país, de tais ou quais progenitores. Mesmo atendendo às necessidades de cada região, existe um certo  tipo de Educação que prescinde do tempo ou do local onde é ministrado. São os valores morais, até mesmo nas sociedades mais primitivas.Educa-se o índio  principalmente para que ele tenha coragemm e vença - não é básico conhecer técnicas de luta, mas ter coragem.
Vejamos um exemplo citado por Lowie, sobre o esquema educacional do Yaghan, Terra do Fogo: - "cada noviço Yaghan recebe dois tutôres, que supervisionam sua conduta através dos vários meses de reclusão. Fisicamente, cada menino ou menia tem de aprender um rigoroso auto-contrôle... para a instrução moral, os neófitos ouvem em conjunto  as preleções de algum anciâo da tribo. Além da instrução em massa, cada menino ou menina é dirigido por algum parente próximo, que tenha observado defeitos no caráter do discípulo e se empenha em corrigí-lo".(2)
A Educação visa, primordialmente um aprimoramento individual, cuja consequência  será o aperfeiçoamento das condições de um grupo social, de uma sociedade, de um país. Ela visa uma socialização que consiste em elevar a criança do plano das tendência e interesses naturais, a um plano superior. Esta passagem do "indivíduo! à "pessoa", é feita através da vida em sociedade.
Alguns sociólogos americanos, estudaram est
e aspecto social da Educação, inclusive nos povos mais "primitivos", e chegaram a conclusão que o "ser social" é enxertado no "ser natural". Desmente-se então, toda e qualquer teoria de que se deve deixar a Educação se basear em interesses espontâneos, apezar de sempre haver teorias como a que veremos a seguir.
Com o nome de "Educação Moral" e "Educação Ativa", há teorias pedagógicas que negam o dualsmo moral (indivíduo-pessoa), e que considera como finalidade da Educação e do bem estar o desnvolvimento das tendências e interesses naturais da criança (grande divulgação dos aspectos menos corretos das teorias freudianas) É devido a este fenômeno, que não pode ser considerado meramente psicológico, mas principalmente social o estado de anarquia intelectual e moral.

Há em todas as sociedades industriais, e naquelas que estão se industrializando, uma falta de equilíbrio, cuja constatação é encontrada mormente nos problemas dos adolescentes. "Países com a India que estão começando um período de mudanças rápidas, podem experimentar essas dificuldades, de forma intensiva, e há realmente evidências de um conflito entre gerações, no que diz respeito a valores sociais, expresso nas oposições ao acordos matrimoniais, na indisciplina dos estudantes, na delinquência geral".(3)
      Infelizmente, não está espressa neste texto, apenas a realidade da India, mas do mundo industrializado em que vivemos. É impossível ignorar que cada vez mais, a sociedade acelera  seu desenvolvimento. Fatos que há poucos anos seriam encarados com ceticismo ou surpresa, já não chamam mais tanta atenção nas manchetes dos jornais. Tanto se é um acontecimento de ordem técnica (conquista do espaço, transplantes etc.), como se fruto de uma mentalidade perversa (assassinatos escabrosos). Isto porque não há paralelismo nos diferentes tipos de Educação - esta tem se desligado muito dos aspectos formativos, e tem se deixado levar pela transmissão cada vez mais aperfeiçoada das descobertas científicas.
O cinema, a televisão, os jornais, internete, todos estes sistemas maravilhosos de comunicação e educação, têm provocado uma dissolução mental, que impede o recolhimento, a reflexão, a meditação. Os métodos pedagógicos que pretendem ignorar esta realidade, estão destinados ao fracasso, e a preparação de fracassados. A Pedagogia tem que pedir o auxílio da Sociologia para evitar estes erros. Reconhecemos que há consciências individuais que se opoem. Porém é sempre perigoso fiar-ze na consciência individual cmo tal. A imparcialidade é um atributo pouco humano, e muitas vezes, o próprio zêlo em construir algo de bom, é que provoca uma destruição irremediável.
        

 II - Um dos ideais da Educação é a homogeneidade. Se um país conseguir garantir  a seus cidadâos uma Educação semelhante, estará descansado quanto a seu progresso e encarará com tranquilidade o futuro. Por homogeneidade, não  queremos apenas nos referir às qualidades culturais da Educação - e sim a todas as suas facêtas.
Nas sociedades pré-históricas, não havia diferenciação quanto aa Educação. Na Idade Média, tanto os servos, como os burgueses e os nobres, recebiam igualmente a mesma educação cristã. Mas mesmo que os fundamentos de uma sociedade não se baseiem em tão grande homogeneidade, há sempre certos valores, como já foi dito, independem de sociedade e época. 
Sabemos que os indivíduos são imensamente diversos. Há a se considerar, entre os aspectos mais importantes:
        - As vocações individuais;
        - As diferençaa individuais (raça, inteligência, saúde);
        - As diferenças de condições sociais;
        - As diferenças das condições ecológicas.

Mas o homem médio é essencialmente maleável, e como tal ele se adapta à situações. Desta forma, quando há necessidade de ele possuir uma instrução (educação) especializada, ele o faz. Porém, não existe nele esta necessidade de especialização como condição inata. Ela é criada justamente pela sociedade em que vive - uma vez que toda a sociedade para se manter precisa de uma multiplicidade de técnicos, desta ou daquela matéria. Há um problema constante: se o homem se decide a uma especialidade, tornando-se um excelente  técnico, suas outras potencialidades que não são necessariamene exercitadas na realização de atividades concernentes à sua especialização, tornam-se muitas vezes caducas, e inoperantes. É portanto um fato que por mais útil que seja a Educação especializada, esta por si só não é suficiente. Exemplo: um atleta não tem necessidade de ser um semianalfabeto; um intelectual, não é necessariamente um ignorante quanto ao preço dos genêros alimentícios. Nós sabemos que a cultura e educação desejadas e exemplificadas por Rabelais, é praticamente impossível, e exigiia a elite que habitava a "Abadia de Telema"; esta elite de inteligência e de beleza, sob todoas as suas formas, inexiste. O que não impede de se desejar como fez Rabelais, mas desejar com os pés bem firmes na realidade de nossa sociedade.
A Educação é o retrato de um estado social - assim ela foi ascética na Idade Média, liberal na Renascença, literária no sécul XVII; atualmente é uma série de tentativas, porque a humanidade está ensaiando um melhor modo de viver.

Desde 1900, Foiellée reclama uma orientação sociológica para a educação: "É uma lei da história que a importância dos fatôres sociais se relaciona com a dos fatos  naturais, e que esta lei se verifica na mesma ordem da lei moral",
         Durkheim mostra que, a educação moral deve desenvolver sobretudo:
       
  - o espírito de disciplina;
         - o relacionamento com os grupos sociais;
         - autonomia da vontade.

O espírito de disciplina, isto é, é inteiramente indispensável ao homem ser disciiplinado. Montaigne, autor dos "Ensaios", é um exemplo vivo e consciente que pela vontade sempre orientada para o bem, o homem pode se tornar "senhor de si mesmo", e como tal, disciplinado.
Relacionamnto aos grupos, isto é, o homem ao se sentir responsável pelo grupo social do qual faz parte - seja a família, a escola, a cidade etc, descobre em si mesmo um número muito grande de potencialidades das quais 
nem sequer suspeirtava
No fundo estes dois aspectos da educação formam um só.
A autonomia da vontade, que é a terceira finalidade da educação moral, é consequência dos dois itens anteriores. É apenas pelo domínio de si mesmo que ele atingirá a dignidade de pessoa, e como tal ele realizará verdadeiramente sua natureza.


 III - A Sociologia mostra que a educação deve atingir as necessidades sociais das pessoas, ela exprime os sentimentos coletivos de uma sociedade. E naturalmente, o indivíduo em si tem também seu proveito, uma vez que devemos à educação o melhor de nós mesmos, e este melhor de nós mesmos é de origem sociaal. A Educaçâo é principalmente o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições de sua própria vida.
Foram estudos sociológicos que mostraram a inutilidade de uma extensa cultura enciclopédica em detrimento de estudos de ordem mais prática, que atendessem melhor aos interesses de uma região.
Aqui no Brasil, desde as famílias humildes e ignorantes até as mais prósperas e evoluídas, seguiam a tradição, resquício dos tempos coloniais de procurar dar aos filhos educação universitária. "Ter um doutor na família" era e ainda é sonho de muitas famílias desconhecendo que todas as posições são importantes: o médico é tão necessário quanto o padeiro, o eletricista, o chofer As famílias ricas, enviando seus filhos às cidades grandes, de onde eles normalmente não querem voltar, diminuem, involuntariamente, a classe produtora de sua cidade. E, há ainda o problema seríssimo do ceticísmo, quanto a vantagem de estudar: o menino aprende rudimentos de inglês na escolinha da vila, mas quem melhor sabe lidar com o gado é algum emprgadinho ignorante. A menina aprende a localizar no mapa capitais europeias, mas de que lhe serve isto na sua realidade imediata ou futura?

"Educação para o trabalho" é atualmente a palavra de ordem. É evidente que não está ainda bastante estabilizada, suficientemente constituida, que existem erros graves e exageros em suas ações. Mas está aí a ideia, que não pode estagnar devido a sua própria constituição, e a sede de cultura útil, autêntica, para a qual o Brasil despertou.
Estes estudos sociológicos deixaram claro a importância de se adaptar o currículo ao meio. E ainda estes estudos mostraram que é muito mais importante uma pessoa bem formada, do que uma pessoa bem informada. A ciência, a cultura, independem da moral para se desenvolverem, e não necessitam realmente dela, a não ser, para serem realmente produtivas e úteis. Quando se pretendem esquecer este aspecto, caem em uma esterilidade contaminosa. Sócrates considerava que conhecer o bem é sinônimo de fazê-lo, pois, para ele, só o ignorante pratica o mal. Isso não se verifica, nós sabemos que  que impede o homem de agir mal são os seus preceitos morais elevados, e só estes preceitos podem fazer uma sociedade técnica e culturalmente desenvolvida, uma sociedade em que a delinquência, os maus costumes, desapareçam gradativamente.

Para finalizar, uma consideração de Durkheim: "se houve uma época em que o ponto de vista sociológico se impôs de uma forma urgente aos pedagogos, é certamente nossa época".

 
 
Roberto Gonçalves
Escritor

Referências bibliográficas:
1 -  DURKHEIM, E. "Educação e Sociedade" -  ed.Nacional, 5a.ed. São Paulo-SP, 1968 p.42
2 - BOTTOMORE, T.B. "Introdução à Sociologia" - ed. Zahar, Rio de Janeiro-RJ. p.213, 214,
3 - Id. ibid. - p. 220, 231.
         
          
RG
Enviado por RG em 08/09/2012
Reeditado em 25/09/2018
Código do texto: T3871458
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