Orvalho

Até que um outro possa me tocar e tirar do meu corpo e vísceras os sumos do prazer. De minha alma a delicadeza abandonada desde os anos de revolução.

As palavras me chegam fáceis como saliva, que tornam-se sonoras. Estou a pensar, quicá mais sentir do que viver.

Há uma gota fria lá no fundo que é de água translúcida. Atrás desta gota outras se seguem assimétricas, causando estalos no solo quando caem do ar.

Frias gotas, gotas frias numa tarde de inverno de sol e calor azul-amarelo.

Tanto céu, tanto sol e a gota a pingar e estalar num presente constante, para quem vê, para quem sente.

Somente na simplicidade há o perdão. Não há em outro lugar.

Coloco-me a pensar de outros lugares, como que da janela de um trem que corre nos trilhos. Por através das ventanas, paisagens e orvalhos úmidos decaem do ar invisível, somente sensível. Contudo, é meu possível senti-lo gelado sobre minha pele nua, arrepiada e é possível umidecer os dedos para tê-lo, o orvalho, nas mãos.

O orvalhar é na madrugada quando melhor a visão é turvada nas brumas pálidas que antecipam a manhã, já deixando transparecer as luzes da alvorada.

O sol chegará mais tarde. Forte para dissipar as brumas, que espalham-se etéreas na atmosfera solar.

Luzia Vasques
Enviado por Luzia Vasques em 08/08/2012
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