A Linguagem e o Homem

1 – Introdução

          a) Sinais naturais: De acordo com Dewey , “os objetivos naturais constituem sinais que recordam outros objetos ou acontecimentos. As nuvens fazem pensar na chuva; um rasto na caça ou num inimigo; o rochedo que aflora indica a presença de minérios no solo. Mas é muito restrito o campo das sugestões que se originam dos sinais naturais”. Por outro lado, certos fatos podem ser inferidos por nós um só de seus aspectos concomitantes. Com um traço ou elemento reconstruímos um todo. Por exemplo, uma sensação de calor pode advertir-nos da proximidade do fogo. Um perfume revela a presença de uma flor, etc. O calor e o perfume são sinais, pois traduzem ao nosso entendimento a existência de coisas que nos são familiares.
          b) Os estímulos provindos do mundo exterior, como as próprias reações que executamos podem servir de sinais. "Um sinal, explica Cuvellier , pode trair simplesmente o nosso estado psíquico, sem que o queiramos, e até mesmo, às vezes, sem o querermos. Ou então podemos nos servir deles intencionalmente, para traduzir exteriormente, para significar a outrem nossos pensamentos, nossos sentimentos,nossas vontades”.
          c) Nos próprios animais podemos imaginar a existência de sinais intencionais: o farejar de um gato é sinal de fome e se ele mia para nós é um sinal com que nos significa essa fome. Entre os homens há uma cópia fartíssima de sinais significativos: o choro, riso, etc. Do convívio social, resultou a multiplicação dos sinais significantes, naturais e artificiais, geralmente visuais e auditivos.
          d) Um sistema de sinais é o que denomina linguagem. A linguagem inclui, além dos sinais naturais, os símbolos, sinais que estão ligados artificial e convencionalmente a fatos e objetos.
          e) Há linguagens visuais e linguagens auditivas, conforme sejam os símbolos percebidos pela vista ou pelo ouvidos. A linguagem mímica (surdos-mudos, por exemplo), a linguagem semafórica, a linguagem escrita, são exemplos de linguagens visuais. A comunicação por meio de sons (apitos, música, linguagem falada) constitui a linguagem auditiva.

2 – A Linguagem Humana

          Os animais também se manifestam por meio de sinais exteriores certos estados afetivos. O cachorro exprime sua hostilidade por arreganhos de dentes, tensão muscular, latidos ferozes. Mas exprime seu agrado por batidas de cauda, relaxamento muscular, etc. Até por meio de vozes, muitos animais são capazes de se comunicar: pássaros, etc.
         Há, porém, grande diferença entre os sinais naturais, ligados aos fatos que os produziram, e os sinais convencionais aprendidos que representam coisas ou fatos por uma relação propositada, artificial, intencionalmente estabelecida. Esses sinais convencionais ou símbolos é que constituem a linguagem humana.
          A linguagem articulada como instrumento de expressão ideológica é apanágio do homem. Só ele é capaz de fundir um conceito de valor geral com uma articulação particular. Não se nega que o animal possua linguagem, pois ele é perfeitamente capaz de objetivar, por meio de sinais, os seus estados psíquicos. O animal pode exprimir uma percepção, um sentimento ou um desejo por gestos e sons; sabe “entender-se com os indivíduos da sua raça e até com o seu dono. Falta-lhe, porém, como acentua Ternus, a faculdade de exprimir a mais simples e primitiva das abstrações, a do “sim” e a do “não". Os sinais feitos pelos animais têm para eles certamente uma significação, mas não podem confundir-se a linguagem humana, mesmo a mais primitiva, com a intercomunicação animal. Entre os animais, os gritos, os sinais, são impulsivos e indicativos; na verdadeira linguagem, são, além disso, descritivos. O poder comunicativo implica conhecimento das relações entre as coisas concretas. Certos dados sensoriais são escolhidos, ligados e adaptados para serem descritos a outrem. Uma linguagem possuindo tais caracteres falta aos animais. Os sinais do animal não para o seu semelhante mais do que um elemento sensorial. Os animais não retiram das suas percepções imagens abstratas, mas somente uma atividade imediata. Assim, por exemplo, os sinais das formigas e dos macacos são seguidos imediatamente de reações.

3- A linguagem e o pensamento

          Como bem dizia Santo Tomás de Aquino .”nada está na mente que primeiramente não tenha estado nos sentidos”. O pensamento nasce da ação. Não é possível uma representação senão daquilo que constitui anteriormente uma experiência.
          Os animais, parece inegável, representam mentalmente coisas e mesmo fatos. O homem, porém, não só reedita mentalmente as experiências que percebe, como as substitui por sinais significativos e significantes, os símbolos verbais. Se considerarmos a ação como forma primitiva de linguagem, assim como a representação é a ação como forma primitiva de linguagem, assim como a representação é a ação interiorizada, vemos que ação, pensamento e linguagem se confundem.
          Os animais, parece inegável, representam mentalmente coisas e mesmo fatos. O homem, porém, não só reedita mentalmente as experiências que percebe, como as substitui por sinais significativos e significantes, os símbolos verbais. Se consideramos a ação como forma primitiva de linguagem, assim como a representação é a ação interiorizada, vemos que ação, pensamento e linguagem se confundem.
          O pensamento é uma linguagem interior, e por mais silenciosa que pareça, o aparelho vocal se encontra em atividade, articulando quase imperceptivelmente as palavras, como se pode confirmar, dizem os psicólogos, por delicados aparelhos registradores.

Teorias referentes à relação entre o pensamento e a linguagem:

          a) A linguagem se distingue do pensamento: a linguagem traduz o pensamento e equivale a ele;
            b) O pensamento existe sem a linguagem: as palavras,
servem para transmitir o pensamento. Pensa-se e depois se procura traduzir aquilo que se pensou por meio das palavras.
          c) Dewey: “se a linguagem não é o próprio pensamento, é graças a ela que este se torna possível e pode ser comunicado”.
Em resumo, para uns o homem pensa porque tem linguagem, para outros o homem tem linguagem porque pensa.

4 – A Linguagem e a Sociedade

          A linguagem não é apenas um fato psicológico, mas também um fato eminentemente social. De acordo com Dewelshaers , a linguagem participa de um estado social determinado, no qual segue o progresso e a decadência. A influência de um só indivíduo é quase nula no quadro geral de uma língua. Os neologismos obedecem a imperativos sociais, como também é a sociedade responsável pela arcaização dos vocábulos, pela transformação semântica, pela diferenciação sintática. Há influências decisivas do espírito coletivo e do esforço continuado de ajustamento dos que falam e escrevem, às exigências ou predileções da coletividade.
          Mas a linguagem é, acima de tudo, instrumento. Como os animais não a possuem, como não possuem instrumentos, não atingem níveis mais elevados de ação e pensamentos.
          Como diz Warrem , nós pensamos por nós mesmos, utilizando certos sinais, sem cuidarmos de produzir efeito sobre os que nos rodeiam. É difícil, porém, compreender como poderia desenvolver o pensamento sem a linguagem, isto é, sem a vida em sociedade, fora da qual nada parece de natureza a tornar “vivo” ou “focal” o elemento simbólico de uma idéia.
 
5 – Conclusões

          Considerando-se que a linguagem é o apanágio do homem e o distingue dos outros animais, bem se pode ver a importância que ela assume na formação da personalidade integral do homem, objeto primário da educação autêntica.
          Dadas as profundas vinculações e interações entre a linguagem e a ação, não é possível exercer-se validamente a função educacional se não se levar em permanente conta a educação da linguagem. Melhor que “o estilo é o homem”, de Buffon, poderíamos dizer “a linguagem é o homem”, não só porque é uma característica de sua personalidade como é, em si mesma, uma geradora de ação e, portanto, de personalidade.
          A escola não deveria cuidar tão somente da pureza, e da riqueza da linguagem de seus alunos, mas deveria, sobretudo, habituá-los a procurar a adequação correta entre as palavras e os fatos ou as coisas. A previsão de linguagem, isto é, a adequação real entre o pensamento e a palavra, é um dos requisitos básicos da cultura humana.

 
Roberto Gonçalves

Referências Bibliográficas:
DEWEY, Jonh – Como pensamos – CENAC – S.P. – 1959
FERRAZ, J.S, -  Psicologia Humana -  Saraiva – S.P. - 1959
HAYAGAWA, S.U, - A linguagem no Pensamento e na Ação - Pioneira- S.P. 1963
HAYAKANA, S.I. - A Linguagem no Pensamento e na Ação – Pioneira – S.P. 1963
KREECH, D. E Crushfield R.S. – Elementos de Psicologia – Pioneira – S.P. 1963
MOULY, George – Psicologia Educacional - Pioneira – S.P.1996
NAYRAC, P. - Manual de Psicologia – Flamboyant – S.P - 1967
WARREN, Howard C. -  Précis de Psychologie - ed. Riviére – Paris - 1958
SANTOS, T.M. – Filosofia da Educação – CENAC – S.P. - 1964
WODWORTH, R.S e Marquis, D.G – Psicologia  - CENAC – S.P. 1967


 
RG
Enviado por RG em 30/07/2012
Reeditado em 24/02/2016
Código do texto: T3804435
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