CRONICA – Um estilo complexo de escrever.

Por Carlos Sena


 
Por curiosidade, vi no GOOGLE o significado da Crônica enquanto estilo literário. As melhores orientações foram, claro, de páginas ligadas a literatura. Outras tantas páginas e sites falam da crônica, mas de forma um tanto aleatória. Pensei que quem estiver começando escrever crônicas e quiser ter um “norte” acerca do que ela seja, terá mais dúvidas. Diante de tudo que li e considerando que, como escritor me chamam de cronista, importa-me muito mais saber do sentimento que a crônica conduz. Assim, tomo a liberdade de dizer acerca dela, da crônica – essa forma literária antiga (secular) e que surgiu em função de relatos históricos que fazia. O dinamismo da vida, o urbanismo que assolou o mundo e se transformou em “modo de vida”, teve forte importância na efetivação do sentimento que a crônica deve conduzir. Sentimento social, de amor, de afeto, de tragédia, etc. Enquanto gênero, a crônica contém a subjetividade como sua característica principal, diferente do artigo jornalístico que tem na objetividade seu foco determinante.
Prefiro sentimento a TEMA. Tema é mais dissertativo, mais para artigo do que para crônica. Título! Esse cairá bem carreando uma crônica. Muitas vezes um bom título já se constitui peça importante dela. Contudo, considerando a globalização da nossa sociedade, não se pode ter rigor exagerado na maioria das formas de comunicação. Com a crônica isto não seria diferente. Porém, por mais que se ponha menos ortodoxia numa crônica, alguns elementos dela não poderão ficar de fora, sequer pouco discorridos no seu trajeto. Vejo a crônica ligada ao nosso cotidiano. Acho que aqui está o ponto central dela. Segue-se a isto: elemento surpresa do texto, criatividade, estilo leve, narrativa curta.

A crônica, no nosso entendimento, é como se fosse uma fotografia do cotidiano. Todos veem do jeito que ela se mostra: preta e branca, nublada, escura, clara, etc., mas ao cronista será exigida a parte da foto que poucos vêm: um detalhe que a foto contenha, mas que só a criatividade aguçada do cronista (ou dos poetas) alcança. Algo mais ou menos assim: diante de um cachorro morto, todos os que passam olham e colocam a mão sobre o nariz por conta da podridão. Mas, se um cronista passar poderá observar a linda arcada dentária do cão e, certamente, fazer uma crônica que leve os leitores a reflexão da humanidade – não só seus mistérios e podridões, mas também sua “arcada dentária” bela...
Desta feita, podemos compreender que o processo criativo de uma crônica seja personalíssimo. Mas, ao ser colocado no papel, por conta da natural subjetividade, deve primar pela forma com que o leitor melhor assimile seu conteúdo, dando-lhe, inclusive,  cunho popular. Independente de opiniões ou regras rigorosas acerca da crônica – o que é e o que lhe caracteriza, fundamental é não perder o sentido de que ela é uma “foto” do cotidiano como ele é. Como nosso cotidiano está cheio de novidades tecnológicas, certamente crônica moderna será a fotografia com vários megapixels, até mesmo em 3D...
Muitos, no afã de serem cronistas, misturam certas narrativas pessoais em nome de escreverem crônicas. Uma crônica pode conter narrativas particulares, mas estas não contêm crônicas por si sós. Talvez aí se precisem colocar no texto um pouco de lirismo, de fantasia, mas com o cuidado de não transformar a realidade concreta num conto. Finalmente, o compromisso da cônica é com a manutenção do leitor por inteiro como que querendo saber onde o cronista vai chegar naquela construção...