Um sujeito humano mais avançado

Sabemos que há um vínculo entre a destruição do planeta e a situação econômica atual, e também que para preservar as condições de existência da vida na Terra, precisa haver mudança.

A atitude básica esperada de um sujeito humano mais avançado é a de que ele se contenha no momento de uma compra. É preciso que ele pense no outro, seu semelhante, e num gesto de generosidade para com as gerações que estão por vir, colabore consumindo menos.

Muito do que consumimos é para prover nossas necessidades e encontrar algum prazer. Buscamos reduzir o desconforto da condição existencial humana que abarca uma insatisfação sem fim, pois objeto algum, pode nos deixar completamente satisfeitos.

Essa condição de insatisfação inerente ao sujeito humano faz com que ele tenha que se contentar apenas com momentos parciais de felicidade: no gozo sexual, viajando, ouvindo música, dançando, tendo um filho, enfim, através de coisas com as quais cada um obtém algum prazer.

O grande motivador do consumismo predatório do planeta tem sua origem nas grandes corporações, que criaram o monstro da obsolescência objetivando um volume de vendas duradouro, induzindo no consumidor a aceleração da compra de novos produtos. Com o mecanismo da obsolescência, elas fazem surgir novas necessidades na nossa vida através de várias estratégias, como por exemplo: programar um produto para deixar de funcionar em pouco tempo levando a comprar outro tecnologimente mais avançado.

Em parceria com as mídias, as corporações interagem modificando o sujeito humano, na medida em que incentivam a aquisição de bens, e convencem de que quanto mais podemos ter, melhor será nossa vida.

A repetição é a grande aliada do convencimento. As propagandas se repetem de modo insistente nas tradicionais e nas novas mídias invadindo a subjetividade do sujeito humano, modelando seu desejo. Assim, sem perceber, o sujeito tem suas vontades comandadas pelos imperativos: tenha, compre, gaste.

O que resulta das estratégias das corporações conjuntamente com a mídia é que não é nosso desejo que nos leva a buscar um objeto, e sim é o objeto que gera o desejo de ser obtido por nós.

Considerar a demanda produzida pelo objeto que gera o desejo é uma interpretação, uma leitura que se pode fazer para trazer à tona a existência desse mecanismo no qual o sujeito humano é transformado em objeto sendo consumido pela mercadoria, na medida em que é ela que o comanda lhe impondo a necessidade de possuí-la.

Para ajudar a parar o consumismo predatório dos recursos naturais do planeta, é preciso que se faça uma reflexão que vá além de decidir entre qual a cor do objeto que iremos comprar, e nos voltemos para nosso mundo particular para pensar em como temos buscado a felicidade.

Sabemos que não há medida econômica que possa garantir a satisfação do desejo, portanto a saída está em apostar que um sujeito humano avançado, isto é, que realmente acompanha as evoluções do seu tempo, possa diminuir seu desconforto existencial encontrando alegria e prazer independente dos bens que possui.

Os poetas são leitores da alma, como fez Vicente de Carvalho ao tratar sobre a felicidade nesse poema:

“... Essa felicidade que supomos,

árvore milagrosa, que sonhamos

toda arreada de dourados pomos,

existe sim: mas nós não a alcançamos

porque está sempre apenas onde a pomos

e nunca a pomos onde nós estamos.” (Velho tema)

Leila Seleguini
Enviado por Leila Seleguini em 22/07/2012
Código do texto: T3791301
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