O homem e seu carrapatos.

Ontem passeava com a minha cachorrinha Mel quando, na porta da farmácia, um homem pediu que comprasse remédio para carrapato.

Pedi ao balconista, que informou não ter e que deveria procurar em loja de produtos veterinários.

Pedi que viesse ver o homem, que mostrou várias feridas, já infeccionadas com pus, atrás da orelha, nas costas e na cabeça.

O farmacêutico sugeriu que fosse até um hospital, para que as feridas fossem limpas e recebesse o tratamento adequado.

O homem disse que só tinha R$ 2.

Fui até a padaria, peguei um lanche e entreguei junto com R$ 20.

O homem disse que pegou os carrapatos porque tinha dormido no pasto, ao lado de alguns bichos. E completou falando que tomaria um banho e iria ao hospital.

Despedimo-nos com um "Deus o abençoe", dito com os olhos cheios de lágrimas.

Moro em Campinas e estas últimas noites tem feito frio de rachar, com temperatura na madrugada em torno de 5 graus.

Fiquei imaginando as noites daquele homem, sozinho no pasto ao lado de bichos cheios de carrapatos e com um frio de congelar até a alma.

Ajudei-o da forma que pude naquele momento e fiquei pensando o motivo que leva algumas pessoas a passarem seus dias desta maneira, enquanto alguns esbanjam e se esbaldam usufruindo o que a vida pode ter de melhor, outros são relegados à imensidão infinita de um pasto.

Talvez o único local em que possa passar a noite sossegado.

Talvez, até, o frio seja o menor dos seus problemas.

Exclusão social ao extremo, discriminação pela cor da sua pele, descaso das autoridades, enfim, um calhamaço de causas que o levam à uma existência galgando o pior do pior em todos os sentidos.

Outros milhares como este homem vagam pelos quatro cantos do nosso país à espera de uma mão que os ampare, os ajude, os afague.

Mas quase sempre encontrarão a frieza do desprezo, a aspereza da omissão, a crueldade de ter que cumprir uma pena vitalícia que os jogarão numa lápide fria em vida, na qual só lhe restarão a solidão quixotesca de quem não tem direito a nada.

Até quando cenários como este farão parte dos palcos do nosso país?

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 20/07/2012
Reeditado em 20/07/2012
Código do texto: T3787929
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