Parto
Noite passada, num parto dorido, pari um ser disforme
sem anestesia me permiti pela primeira vez
sentir todas as contrações impostas pela desdita.
Não foi fácil ver nascer do meu útero aquilo que
com certeza era um ser chamado Eu.
Adiei este parto por quase toda a vida,
cultivei este ser em minhas entranhas, escondendo-o
somente de mim, agora tenho consciência disto.
Vi nascer um ser vazio, disforme, incapacitado, que
passou pela vida sem produzir, nem mesmo tendo
coragem de rebelar e explodir enquanto ainda respirava vida
Um covarde, fujitivo das verdades, se escondeu em si
como um ser que se esquecendo,
ou fingindo esquecer que precisava da beleza interior,
da realidade escancarada e assim enfrentar as provações infindas.
Nasceu um ser demente, doente, fracassado, sem eira nem beira,
perdido entre seus escombros macabros.
Viu que enquanto estava resgardado no útero, não produziu,
não amou, nem se permitiu ser amado,
foi incapaz de fazer crescer aqueles que estavam em sua guarda,
não prejudicou por maldade, mas por incapacidade.
Vendo este ser inóculado a vergonha cresceu,
chorou todas as lágrimas, agora tardias.
Que restaria para quele ser, matar-se, jogar-se embaixo de
um caminhão qualquer, atirar-se contra a ponte deixando-se acabar no vazio?...
Nem isso este ser tinha coragem tamanha sua covardia nata.
Sem saber o que fazer com esta "coisa" que pari,
adormeci. de medo...
Jataí.GO
04.02.06
Noite passada, num parto dorido, pari um ser disforme
sem anestesia me permiti pela primeira vez
sentir todas as contrações impostas pela desdita.
Não foi fácil ver nascer do meu útero aquilo que
com certeza era um ser chamado Eu.
Adiei este parto por quase toda a vida,
cultivei este ser em minhas entranhas, escondendo-o
somente de mim, agora tenho consciência disto.
Vi nascer um ser vazio, disforme, incapacitado, que
passou pela vida sem produzir, nem mesmo tendo
coragem de rebelar e explodir enquanto ainda respirava vida
Um covarde, fujitivo das verdades, se escondeu em si
como um ser que se esquecendo,
ou fingindo esquecer que precisava da beleza interior,
da realidade escancarada e assim enfrentar as provações infindas.
Nasceu um ser demente, doente, fracassado, sem eira nem beira,
perdido entre seus escombros macabros.
Viu que enquanto estava resgardado no útero, não produziu,
não amou, nem se permitiu ser amado,
foi incapaz de fazer crescer aqueles que estavam em sua guarda,
não prejudicou por maldade, mas por incapacidade.
Vendo este ser inóculado a vergonha cresceu,
chorou todas as lágrimas, agora tardias.
Que restaria para quele ser, matar-se, jogar-se embaixo de
um caminhão qualquer, atirar-se contra a ponte deixando-se acabar no vazio?...
Nem isso este ser tinha coragem tamanha sua covardia nata.
Sem saber o que fazer com esta "coisa" que pari,
adormeci. de medo...
Jataí.GO
04.02.06