AMOR (Uma reflexão)

Há no mundo, na vida, no humano, permeando momentos, perpetuando cheiros, propagando sons e espalhando cores, um sentimento, uma emoção. Sensacional sensação, grata carícia, desgastada palavra, delírio e sonho: o vilipendiado amor. Vilipendiado porque usado assim, aqui e ali, sem cuidado, sem sentido, sem peso e sem profundidade. Mas há e é impossível definir a vida sem buscá-lo. Tenho visto e ouvido e pensado sobre. Tenho amado ou não. Será ele como a felicidade? Felicidade, que não se define, que parece não existir e da qual andamos à procura? Andamos às voltas como perus em véspera de festa, sem saber se vale a pena resistir ou se é melhor acolher, como honra, ser o prato principal. Temos sido devorados em nome do amor, esse vampiro que morde e sopra. Sempre Fernet ou Drambouie, como diria um amigo meu. Nunca Champagne. E nos desesperamos com o abandono, com a mágoa, com o flagelo do amor. E nos deliciamos, nos extasiamos, flutuamos com o bálsamo do amor. Nunca teremos paz? Ah, pobre homem que se perde em definições: quando, e se as tiver, seu tempo de amar terá ido embora. Tão profundo e tão amplo é esse amor que escapa às definições. Tão mutável, tão variável...Um brilho fragmentando a luz branca em raios coloridos que, de novo, se reunirão. A mulher que sou hoje olha com ternura e indulgência para a menina que fui ontem. Ainda trago, na boca, o gosto do leite de minha mãe e já trago no seio a marca indelével da boca de meu filho. Tão curta a vida...! é incrível que, na mesmice do dia-a-dia, sucedam-se tantas e tão diversas faces desse mesmo amor. Único. Devastador. Pacificador. Inebriante. Sereno. Diverso. Tão puramente simples, tão inequívoco amor. Pra quem sabe e pra quem nem desconfia.

01/07/1988.