Um simplismo gigante
O filme Desafiando os gigantes, à primeira vista, sugere ser um desses típicos filmes sobre esporte e superação mas, à medida que a história vai se desenrolando, termina se parecendo mais com uma cartilha de escola dominical do que com um filme feito para falar de determinação e espírito de união entre os atletas de um time. O roteiro trata da história de um técnico, Grant, técnico de um time de futebol americano, esporte venerado nos Estados Unidos, que vem atravessando uma fase tortuosa. Há seis anos, o time não consegue uma vitória, os atletas têm desempenho pifio, não levam o time a sério e Grant vem enfrentando o descrédito da escola e pais dos alunos, que o querem fora do time.
Além dos péssimos jogos que o time tem enfrentado, Grant se sente um fracasso:não tem dinheiro para comprar um carro novo, a sua casa precisa de reparos e ele descobre que sua esposa e ele não têm filhos porque ele é estéril. Tentando encontrar um rumo para se encontrar e entender porque, apesar de tanto esforço, ele não consegue uma vitória.
Então, Grant se volta para as orações, lendo a Bíblia e pedindo orientação a Deus.Resolve que mudará os seus modos de se aproximar dos jogadores e que o propósito do time será louvarem a Jesus Cristo, que morreu na Cruz pela Humanidade. A partir daí, os atletas vão se convertendo, passando a orar antes de cada treino e Grant consegue o respeito dos rapazes e companheiros de equipe. Uma coisa pode ser perguntada nesse caso. Grant disse que todos deveriam aceitar Jesus Cristo. E se houvesse um rapaz judeu, muçulmano ou budista? O fato do técnico dizer que todos deveriam seguir os preceitos do Cristianismo para que o time tivesse melhor desempenho, pondo todos para orar, não pode levar a uma atitude segregacionista? Um aluno judeu não acabaria se sentindo excluído por não querer orar a Jesus Cristo?
Não se critica o Cristianismo nem a fé. O filme poderia mostrar o técnico orando e pedindo orientação a Deus, mas não impondo isso aos atletas.Seria mais realista se o técnico dissesse que, em vez do propósito do time ser louvar a Deus, deveria ser todo jogador jogar pelo bem da equipe e para desenvolver suas potencialidades. Misturar Deus com esporte chega a ser de um simplismo intolerável. E fica sugerido que basta se converter ao Cristianismo para que tudo comece a dar certo. Sabemos que não é assim na vida real, onde vemos tanta gente errada e que não segue nenhuma crença dar certo. No final, o filme sugere, de nada adianta um time treinar duro e com união, se os jogadores não forem cristãos. Isso é irreal e ingênuo.
Converter-se a uma religião não torna nossa vida mais fácil nem faz com que tudo comece a prosperar. E um técnico que passou seis anos só experimentando derrotas, com certeza, não passaria a ser vitorioso só porque se converteu.