Sejam bem vindas
Parece que elas estão voltando, voltando devagar num ritmo mais lento que o pingar de uma bica mal fechada, mas de tempos em tempos elas me deixam quase todas, ficam só aquelas necessárias a sobrevivência nos dias de hoje, dias em que a voz que sai da boca é menos importante que o que se escreve ou o que se toca. Mesmo para falar é aconselhável que antes se tenha escrito o que vai dizer.
Mas o fato é que estão voltando e a seqüência dessas linhas provam isso. Mas nesta ultima fase “entressafra” pude reparar coisas que antes passaram despercebidas pelos meus olhos.
Palavras, aquelas com alguma pretensão de, juntas, criarem arte, me deixam nos melhores momentos, quando eu deveria escrever belezas elas todas vão embora e me deixam apenas com trechos repetidos do que eu já disse ou já pensei, pouca coisa nova. Mas noto que o gatilho que as trás de volta são, normalmente, pequenas (ou grandes) angustias e questões inúteis.
Pergunto-me qual angustia as fizeram retroceder. Pergunto-me de bobo, pois sem bem a resposta, mas não ouso responde-las nem em pensamento.
Costumo ser vitima dos próprios pensamentos irrefreáveis que tenho, todos eles ruins e a maioria deles inúteis. Pensamentos ou imagens criadas na minha mente de coisas que não vi, que nem sequer aconteceram, mas que não consigo evitar. Qual a utilidade disso? Algum psicólogo por favor, responda.
Por que olhar para um passado que não é meu e flagrar um acontecimento não ocorrido só pra sentir a dor que sentiria caso fosse verdade? Caso eu, de fato, flagrasse? Eu mesmo não tenho fantasmas meus mas sou assombrado por aqueles que vem agarrado aos outros, fantasmas não personificados mas representados por fatos que fiquei sabendo, que imaginei com ou sem base real.
E ai me jogam, cada um deles, pilhas e mais pilhas de palavras para que eu passe mais uma temporada as organizando em parágrafos questionadores e sem resposta e, as vezes, em bons textos.
O excesso de confiança também as trás de volta, percebo agora, a calmaria e estabilidade não, estas as fazem ir embora.
Logo terei mais provas da tolice dos meus pensamentos e não demora muito a retaliação deles virá também, faz parte da minha natureza estar no limiar entre o excelente e o “tem algo errado”.
Quem está comigo, e me refiro a todos, está porque é assim que deve ser, seja nos momentos que me julgo senhor e escritor do próprio destino ou quando me vejo como uma grande pedra entre pessoas, mesmo que uma pedra num momento providencial, uma pedra curtindo bons ventos. Mas, se eu não fosse uma pedra tão boa jogadora, muita coisa diferente teria acontecido.
Ao menos há um lado bom em tudo isso, elas voltaram, palavras, uma a uma vem lotando minha mente e sendo despejadas na ponta dos dedos, rogo que seja uma temporada produtiva.
Bem vindas de volta, queridas.