Um romance escatológico


Alguns estudiosos da Cabala costumam interpretar a Bíblia Sagrada como se ela fosse um grande romance escatológico, onde as energias cósmicas e as leis naturais são personalizadas por anjos, demônios e homens, interagindo para produzir as massas, física e espiritual, que formatam o universo e sua história. Nesse sentido, sugerem que as referências bíblicas á uma rebelião de anjos, liderada pelo Arcanjo Lúcifer não é uma mera construção simbólica referente á antigas superstições desenvolvidas por uma humanidade em sua infância mental, mas sim uma metáfora rica em conteúdo científico, que explica a formação do universo em seus primórdios.
Destarte, a chamada Rebelião de Lúcifer nada mais é do que o desencadear das forças cósmicas que foram liberadas na grande explosão do Big-Bang, forças essas que o Grande Arquiteto do Universo (O Principio Criador, o Verbo Divino, Logos), não pode mais controlar. Essas forças se tornaram as grandes leis naturais e passaram a atuar por si mesmas, o que justifica a aparente contradição que se encontra nos livros sagrados, onde Deus, ás vezes, parece ser incapaz de evitar que o seu opositor, o Diabo, faça as suas estrepolias. Essa idéia é francamente paradoxal, uma vez que o Diabo é mostrado, em sua origem, como um Arcanjo, ou seja, um ser criado por Deus, e francamente inferior a Ele na hierarquia celeste.(11)
Essa mesma visão sugere que as entidades que a Cabala chama de Elohins formavam uma grande Fraternidade de Obreiros, cuja missão era construir o universo que o Grande Arquiteto do Universo tinha em mente. Eles se reuniam nos moldes de uma Loja maçônica. Depois da queda eles foram dispersos pelo mundo e muitos deles se tornaram demônios, como Plutão, Satã, Lúcifer, Sethi, etc. Outros se tornaram os heróis que a humanidade cultuou como semideuses (Hércules, Teseu, Gilgamés, Perseu, Arjuna, etc) ou mesmo deuses, como Her-mes, Osíris, Mitra, Jesus, etc. que desceram a terra para civilizar, ou ensinar os homens.  
Na tradução literal da Bíblia os quatro mundos da Cabala são referidos como os quatro reis de Edom, que viveram nos tempos antigos, antes da formação de Israel e foram derrotados pelos hebreus na conquista da terra palestina. Eles “lutam con-tra Israel”, pois este, como povo escolhido, é uma alegoria que significa uma tentativa do Grande Arquiteto do Universo de reorganizar a espécie humana através de um modelo de virtude, dirigido por Ele mesmo. Nesse caso, Israel, como Assembléia Perfeita (Loja), sagrada, seria um arquétipo que permitiria o reencontro do equilíbrio perdido com a revolta dos anjos rebeldes e sua disseminação entre os homens. Pois da mesma forma que o desencadear das forças cósmicas provocou um caos inicial, que requereu um grande esforço por parte do Grande Ar-quiteto do Universo para organizá-lo, também na história das sociedades humanas, o surgimento da capacidade reflexiva entre as espécies vivas gerou um caos no ambiente, que necessitou de um ingente trabalho de organização.
As referências bíblicas sobre esses “mundos arcanos”, com suas leis e reflexos sobre o mundo dos homens são muitas e seria impossível invocá-las todas no contexto deste trabalho. Por ora, é importante lembrar que a própria história do Estado de Israel está implicitamente inscrita nessa estranha arquitetura. Nesse sentido, a Israel bíblica foi um modelo de civilização, uma “maquete” construída por Deus para ser aplicada a toda civilização humana, desorganizada e perdida, em razão de sua dispersão entre línguas, crenças, modos de vida, costumes e outros diferenciais que pulverizaram a raça humana em vários grupos antagônicos e inimigos entre si.  Ou seja a perda da Palavra.(12)
Destarte, a palavra Edom é uma corruptela de Éden, o “mundo perfeito” de onde o homem teria sido expulso em conseqüência da sua desobediência. Esse mundo (Edom, o mundo corrompido) aparece em clara oposição ao “povo eleito”, que deveria ser a matriz da nova raça. E dessa forma se justifica a estranha arquetipia que sempre acompanhou o povo e a nação de Israel durante a sua saga e ainda hoje lança os seus reflexos na história da humanidade como um todo.  
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CABALA-ROMANCE ESCATOLÓGICO(ESTUDOS MAÇÔNICOS)


João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 23/06/2012
Reeditado em 23/06/2012
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