Inconsistência do sentimento! Que hábito estranho esse de se explicar, ilusão de momento... Há vários anos, aliás, uma espécie de especialização... E narro cada momento com tamanha profundidade e entusiasmo, que me parece fugir à vista! Não sei dizer ao certo o tamanho da minha vontade, nem a tal abissalidade do meu momento, mas é certo que a minha vida está um passo à minha frente! As palavras são vãs e se perdem enoveladas no vento, quando as pronuncio sinto-me leve, mas pesa a ausência delas dentro de mim... E escuto música sozinho, sozinho caminho pela calçada e vou deitar-me à noite, sozinho... Alguns fantasmas interrompem o meu “pegar no sono”, e vários deles assistem esse fado noturno! Será então, que continuo sozinho!? Mas que fantasma é aquele de silhueta familiar, de fronte iluminada e de gestos não precipitados?  Que noite foi aquela em que pela primeira vez o vi? De manhã, é como se infartasse todos os dias, depois do almoço, a vida tem parado com certo desdém, no fim de tarde, o tato vespertino é praticamente infantil... É ali naquele momento, o mais profundo que se vive em 24 horas, onde não se tem a noite a acalentar o olhar, nem fantasmas companheiros, é ali que percebemos a terrível fadiga do pensamento, justo ali onde, depois de noite mal dormida e dia todo de pensamento cerrado, perguntamo-nos “o que está acontecendo conosco?” E passamos o eu pelo crivo do planejado... A solidão até poderia ser a sorte para todos os espíritos excepcionais, mas quereria eu viver nesse universo egocêntrico? A solidão é ainda mais indigesta quando não se tem humildade, e ela decorre da suposição de que todos à nossa volta são ou estão idiotas... A que ponto a imbecilidade do íntimo pode chegar... À luz da verdade, o espírito carecereria de solidão, primeiro porque nos abaliza em meio à multidão segundo visão subjetiva e, finalmente, ela encobriria possíveis brechas pelas quais poderíamos perder o juízo. Mas nesse compasso, a vida já deu o seu próximo passo... Ensinou-me que se resistimos às paixões, é mais pela fraqueza delas que pela nossa força... Que só se ama verdadeiramente quando se ama sem razão... Fez-me entender que meu coração é esse vaso chinês que trinca, trinca várias vezes, mas não quebra... “Essa é a parte mais difícil”, ouvir e alcançar o que a vida tem a dizer... Precisamos despertar aquele a quem amamos para toda a grandeza de que é capaz... Precisamos, “assim como o ar, que me parece vital”, não nos assustarmos com a aparência incessantemente hiperbólica do falar, quando se fala de amor.. E a noite, de tão íngreme que fora esse dia, torna extenuante qualquer explicação, escuso qualquer alento. Sabe-se bem a sequência de todos os fatos, mas por isso mesmo não deixam de acontecer sob tormento. Por volta das 21 horas desse mesmo dia, a sensação de fiasco, se antes ocorrera, vai sucumbindo ao constrangimento de um órfão de prática na teoria, e os fantasmas, se aconchegando... O que esperar do próximo dia? E do resto da semana? Aos olhos da saudade, como o mundo é pequeno... E, como que antecipando o fim de tarde vindouro, isto tudo valeria a pena? Falaremos objetivamente, desse imenso e desnorteante sentimento que passa a existir dentro de mim... Quantas rupturas de sentido seria eu capaz de aturar? Inconsistência de sentimento... À noite “sonho” e vejo nele um sinal... Não ao acaso o céu está limpíssimo, as estrelas brilhantes, o silêncio tranqüilo, a atmosfera ideal para tornar aquele instante sinóptico, estou satisfeito por poder estar ali. E durmo, singularmente. Um sinal e vejo nele um “sonho”... Acreditar em um “sonho” e deixar de vivê-lo torna-te então desonesto... Engraçado, como isso é sério!

 Leonardo Faria

*Visite-nos no mindasks.blogspot.com
mindasks
Enviado por mindasks em 21/06/2012
Código do texto: T3736527