Os demônios de Maxwell
Evitando a poesia, (o futuro da terra é dor), um exercício sobre o futuro torna-se necessário. Não há porque considerar o futuro apenas como um desastre. Na verdade, a história da humanidade está cheia desses desastres de fome, pestes, guerras destruidoras. Não somos profetas do já acontecido, nem das obviedades. E é óbvio que muitas foram as ocasiões em que estivemos à beira do abismo e da extinção. E que sempre conseguimos supera-las, ás custas de nossa inventividade e iniciativa, além de muita sorte, é claro, e muitos mortos. Diante de um apocalipse previsível a saída para a humanidade sempre foi a evolução. E hoje temos todas as condições, como nunca antes, para superar as nossas crises.
Sofremos hoje, diante do futuro aterrador, simplesmente porque temos a capacidade de prevê-lo. Não estamos diante do desconhecido, não somos ingênuos e sabemos que as orações ajudam a unir as nossas intenções, mas, por si, não resolverão problema algum.
O que resolverá será o maior conhecimento e domínio das forças naturais colocadas em desordem pela atividade humana. Tais forças se re-arranjam para atingir o estado do equilíbrio possível, isso ocorrerá apesar de nossos esforços e preocupações, somos o produto das leis da termodinâmica, da entropia crescente, da desorganização, somos os pequenos demônios de Maxwell que trabalham na contra-corrente da entropia, somos a informação provinda da cultura e da organização social.
É certo que estamos ao sabor das forças aleatórias do universo. Falamos tanto sobre a poluição, mas um vulcão que entre em erupção de maiores proporções poderá conspurcar inapelavelmente a atmosfera terrestre com suas cinzas e gases de forma a inviabilizar a vida como a conhecemos. O leito dos mares tem tanto metano, que caso uma pequena fração escape, num desses movimentos das placas tectônicas, o efeito sobre a atmosfera será, também, devastador. Estamos, pois à mercê do “Príncipe celeste” e temos que estar preparados para essas eventualidades previsíveis, com ciência e tecnologia.
Não podemos, porém, negar a ação humana. Ela tem sido devastadora, por um lado. Pelo outro, há racionalidade. Como em qualquer empreendimento, há um rendimento em tudo que fazemos. Ou seja, uma perda que pode ser pequena, ou pode se acumular e atingir níveis surpreendentes. Na questão energética, o uso de tecnologias de geração concentrada de energia, a partir de James Watt, permitiu que se dispensasse a energia de origem animal, a primeira bio-energia de que se tem conhecimento, aí incluído a energia dos homens, particularmente, os escravos. A bio-energia é dispersa, difícil de concentrar numa aplicação localizada. O uso do vapor, a partir da queima do carvão fez a revolução industrial e, provavelmente, contribuiu para o fim da “escravatura” que passou a ser ineficiente. Mas qual é o rendimento de uma máquina a vapor? Pasmem, é de menos e 40%, ou seja, mais de 60% do calor gerado é perdido, escoa para o universo e tende a aumentar a entropia.
Entropia é desorganização. E o que estamos começando a compreender, quanto ao aquecimento global é apenas isso: a entropia no planeta aumenta e está dando um salto de qualidade em termos de reorganização de sua estrutura funcional. Está na hora dos demônios de Maxwell se unirem em oração