Filosofia, Historicidade e Transistoricidade
A filosofia é infinita, por ser uma busca contínua de si mesmo e a partir dela o homem alcança um nível de reflexão e encontra conceitos sobre ele mesmo, mas nunca consegue atingir o todo, pois o ser é movido por mutações internas e externa (mundo circundante), que o impedem de se entender. Todavia, esses problemas que impedem o homem, só fazem com que o mesmo entenda sobre si mesmo, afinal, se tudo muda, o homem também muda e quer saber o porquê dessa mudança, essa busca vira um caminho tortuoso e que não tem respostas, nem fim.
O ser humano não consegue se autoconhecer completamente, porque todos os dias ele muda, o reflexo dele no espelho de hoje, não será o mesmo de amanhã, pois “tudo passa, tudo sempre passará” e “tudo que se vê não é igual ao que a gente viu a um segundo, tudo muda, o tempo todo, no mundo”. É por isso que viver em filosofia é viver em paradoxo, pois o filosofo pretende dá a última palavra sobre o real, no entanto, essa ultima palavra lhe é negada, já que esse real se renova sempre.
Esse fator faz com que o homem observe tudo que está em volta dele, para que ele assim possa questionar o próprio ser olhando para si mesmo e encontrando respostas que o levam a entender-se mais e mais.
Entretanto, a maioria das pessoas vive experiências superficiais, uma vida que não se desenvolve, que não vê a filosofia e nem a aceita, sem ficar sabendo que a principal filosofia mora dentro dele. Homens que vivem “vegetalmente” e que são capazes de passarem a vida inteira sem terem consciência e nem reflexões realmente profundas e sérias. Se pelo menos o homem se preocupasse com si mesmo, mas não, ele não se preocupa com si próprio, ele vive ocupado demais com outras obrigações, com obrigações formadas por outras pessoas, por obrigações e normas de uma sociedade que impões e ele apenas tem o dever de cumprir.
Além disso, o ser que vive dentro de uma vida pré-reflexiva, simplesmente não vive, porque não sabe o que é viver e ter consciência de que está dentro de um espaço e de um tempo, ele se torna um robô de uma sociedade normativista e sair dessas regras seria cavar a própria sepultura. O problema é que ele nem pensa em sair, pois acredita que não tem saída.
Por causa de quadros como este, poucos homens vivem reflexivamente; a partir daí, há a necessidade de criar uma ciência encarregada de revelar o homem ao homem (de encontrar o seu terceiro olho) denominada de Filosofia. Porém, essa ciência não se reduz aos grandes nomes e nem as grandes obras histórias dela.
A filosofia entra para criar algo que já existia, mas que o homem desconhecia e quando o homem possui a consciência e passa a conhecer esse “outro mundo”, enxerga que o ser humano não está dentro de um determinado tempo, mas que ele é o próprio tempo e percebe que não existe um relógio cronológico e linear dentro dele.
Sabendo que ele é o tempo em que vive, o homem consegue observar mais, consegue observar que ele é histórico, unicamente porque ele é história e a história não caminhou ou passou, ela caminha e caminha para sempre, ela caminha enquanto houver pessoas capazes de ver isso, capazes de saber sentir a verdadeira beleza de viver, que não se resume a utopia de “ser feliz”, mas de se conhecer dentro de uma história, cujo quadro não trás essa felicidade aleijada.
O homem percebe que está dentro de uma linha histórica, uma linha que nem sempre é reta e objetiva, mas pelo menos o faz caminhar com os próprios pés. Ele passa a “viver vendo” um mundo diferente, aprendendo que nas pequenas coisas é que são encontradas as grandes respostas e passa a entrar no próprio mundo observando que para encontrar-se, precisa ter uma visão da totalidade, ou seja, ele precisa ver o que ocorre em todo o redor dele.
Quando o ser humano passa a enxergar mais do que simplesmente via, percebe que essa linha história que ele anda é o eixo fundamental, pois ele pode ir e vir quando quiser. O homem se vê entrando em trânsito, ele consegue transitar no passado (lendo, refletindo com suas fontes de pesquisa, imortalizando filósofos com teses que não passavam de poeiras ou folhas velhas e rasgadas), consegue pôr os pés no presente (afinal ele precisa viver a própria vida) e possui os olhos voltados para o futuro. Afinal, “ o logo caminho dele começa a partir de seu primeiro passo” e esse passo é dado no hoje, no aqui e agora.
Ao descobrir que o homem tem necessidade de viver em história , ele pode mais, ele pode entrar em transistoricidade (caminhar pelos fatos históricos da vida; o ir e vir para se auto-conhecer) para poder crescer dentro de seu mundo filosófico que é contínuo, tortuoso e infinito.
22/10/03