DO SURREAL "REAL ITY VIDA"

Que mundo show!

Mesmo sendo eu uma estranha criatura, talvez algo alienígena, que NUNCA assistiu a nenhum episódio dos "reality shows" da atual moda já bem antiga da programação televisiva, faço questão de frisar o fato por considerá-lo algo inusitado para o mundo de hoje (que mundo!), e embora saiba eu que a televisão brasileira aberta, ainda que esteja em explícita decadência entre nós pois IBOPE ALTO QUASE SEMPRE É SINÔNIMO DE PÉSSIMA QUALIDADE DA PROGRAMAÇÃO) ainda configura uma opção bem democrática dos controles remotos universais; todavia, confesso que a notícia da hora que bomba em todas as modalidades de mídia me acelerou o pensamento.

O foco do meu presente ensaio é , portanto, o conceito de HEROÍSMO, denotativamente pensando.

O conotativo está muito descaracterizado, e faz tempo.

Ando meio perplexa com o conceito de heróis da modernidade.

São tantos, que eu que a princípio poderia me considerar uma heroína simplesmente por ter a coragem de expor o que sinto, porém-que é isso!-estou longe de atos de heroísmo, acho mesmo que sou uma chata que pensa...a procurar um sentido nos fatos que me cercam.

Ocorre que, numa determinada roça duma famosa fazenda da televisão, cheia de famosos coitados sofredores sociais, há também uma pobre peoa sofrida que, de repente, é considerada uma heroína por continuar no jogo dos milhões, mesmo depois de sofrer a adversidade de não poder prestar as últimas homenagens ao seu ente querido que faleceu.

"Ela não é apenas uma guerreira, ela é uma JOANA D'ARC", alguém assim a descreveu.

Que mundo D'Arc!

Não que eu acredite que foram apenas dois milhões de reais e toda a possibilidade de manipulação da opinião pública a favor (ou contra?) ( e seria só esse o prêmio a tanto heroísmo?) que segurarariam a mais nova heroína da televisão brasileira ali, encarcerada, a mercê da sua triste sorte.

Eu seria uma pessoa muito insensível e nadinha candidata a heroína dos bons valores se eu sentisse um sentimento pequeno como esse.

E vocês se perguntariam: "Afinal, que mundo insensível seria o meu?"

Até acredito, como foi sugerido, que ficar ali tão duramente confinada no jogo, depois de tanto sofrimento, até configuraria uma homenagem ao falecido.

Não seria justo sair do jogo, que falta de respeito a um potencial herói campeão.

Acredito também que Joana D'Arc nem "en passant" chegaria ao nível duma heroína que se vê na dificuldade de permanecer num jogo por dois milhõezinhos (que troco e que mundo pobre!), sem sequer ter o risco de se perder a cabeça.

Obviamente que nunca perdemos aquilo que não possuímos.

Mas também tenho que admitir que se Joana D'Arc estivesse ali no jogo decerto que ela era já teria perdido toda sua história de heroísmo para os tantos "bundões siliconados!" de hoje em dia.

Que mundo, que mundo bundão!

E frente a tanta poupança graúdamente plastificada eu pergunto: para que se ter cabeça?

Havemos de decapitar literalmente qualquer heroísmo barato, digamos, do mais raso pensamento que tentar se desviar da vida de gado, daquela e das demais "fazendas de mídia" que nos conduzem por aí.

Que mundo! Que mundo siliconado.

Eu, se fosse um candidata a uma reality Joana D'arc da modernidade, já trataria de escolher meu cirurgião plástico para me transformar na heroína do século: muito silicone, muito botox e uma decapitação plástica total.

Seria um sucesso de mídia cirúrgica, a toda prova, não apenas às tantas provas deste surreal show, o da "reality vida" a quem assisto todos os dias, de tantos peões de verdade que aram os nossos inúmeros palcos de duro chão, terras áridas qual à "caatinga social" que vivemos, por um heróico salário- mínimo que lhes vale muito suor.

Em pensar que enquanto isso nossas nada plásticas tragédias sociais nos escapam aos botox políticos e continuam a nos desfigurar.

Avante peões heróis!

Afinal, somos todos do incrível show de mesmo chão...muitos heróis de verdade, nunca siliconados, sempre sem direito a prêmio algum.

Eis o nosso denotativo e bem real heroísmo.