A SOMBRA DE UMA SAUDADE.
Perdi o meu pai, Geraldo Silbiger, há 10 anos.
O tempo vai cuimprindo a sua função de cicatrizar a saudade, embaçando as lembranças e fazendo com que os cheiros, os gostos e as texturas que foram tão presentes se dissipem gradativamente nos recantos atrozes das nossas emoções.
Se por um lado isso é cruel, por outro é a voz da vida dando seus gritos e abrindo espaço, com foices, tacapes e suas unhas fiadas, para que novos frutos se enraizem nos nossos caminhos.
Todas madrugadas, cinco e meia da manhã, lá vou eu, de cachorrinha em punho, passear com a Mel para que faça seu cocô e xixi que tiver direito.
São passeios que adoro, não tenho o menor problema em acordar nessa hora inclusive em domingos e feriados, porque adoro a minha cachorrinha. Por sinal, é ela quem me acorda, vindo até a minha cama toda feliz, abanando o rabinho para dar suas lambidas plenas de paixão.
Nesses passeios, vou observando as nossas sombras feitas no chão pelos reflexos da luz dos postes de rua.
Por várias vezes, são formadas três sombras e posso observar, com absoluta clareza, o contorno do corpo do meu querido pai sendo feito no chão da calçada.
Ele vai me acompanhando em todo o trajeto.
Sinto nessas horas um arrepio fundo, que faz minha alma tilintar. Sensação gostosa, revigorante, perfumada. Acarinhada.
E assim prosseguimos nós três nessa deliciosa caminhada pelas ruas do meu bairro.
Valeu, pai!
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