Libertando o Socialismo da concepção capitalista de progresso
No Manifesto Comunista, Marx dizia que os trabalhadores tinham que tomar o poder, tomar o Estado e instaurar o seu governo - a ditadura do proletariado. Com a Comuna de Paris, ele percebeu como seria esse governo, o regime da Comuna, uma democracia radical com mandatos revogáveis para os deputados e governantes e o armamento do proletariado, com o fim das funções políticas da polícia e do exército permanente e a criação de uma milícia operária para a defesa da república e a segurança; ou seja, era preciso destruir o antigo Estado e construir um novo Estado, uma nova forma de poder.
Na análise econômica, Marx propunha o controle operário da produção, a planificação coletiva da economia, o trabalho obrigatório e a socialização dos meios de produção. Isso, além de promover a igualdade social e rumar no sentido do fim da exploração do homem pelo homem e da alienação do trabalho, permitiria um desenvolvimento superior das forças produtivas, uma elevação do nível de produtividade e a criação de uma economia de abundância, acabando com toda a miséria material. E por esse caminho seguiram todos os marxistas, desde os social-democratas e stalinistas, que achavam que era preciso desenvolver ao máximo o capitalismo e a democracia antes de uma revolução socialista, até os revolucionários como Lênin e Trotsky. Mas, à luz do novo momento histórico que vivemos, podemos afirmar que seria impossível um desenvolvimento como o que fora pensado pelos socialistas do século XIX e do início do século XX. Não basta que nos apropriemos da economia capitalista e de suas conquistas técnicas. Precisamos mudar a própria lógica de produção e criar um novo sistema de produção e consumo, com novos parâmetros. O capitalismo cria necessidades para se expandir. As necessidades de uma sociedade pós-capitalista serão outras. É preciso rever o próprio conceito de desenvolvimento das forças produtivas, que não pode ser encarado somente por uma perspectiva quantitativa, mas também, e principalmente, qualitativa. As formas de produzir serão e devem ser outras. É preciso revolucionar também o paradigma de desenvolvimento vigente. A sociedade futura não deve ser uma sociedade de abundância simplesmente. Deve ser uma sociedade de bem-estar social e de felicidade geral. Pela primeira vez na história, poderemos conscientemente colocar a economia como um todo a serviço disso. A harmonia com o meio ambiente deve hierarquizar os objetivos e possibilidades do sistema produtivo, num regime social em que as pessoas sejam educadas desde cedo sabendo que o homem também é natureza, que é um ser social e natural, e que não pode degradar o meio ambiente sem se degradar e se alienar junto. O consumismo, a utilização de serviços variados de entretenimento e a busca por artigos de luxo ou supérfluos devem ser substituídas pelo direcionamento da riqueza socialmente produzida para os avanços na saúde, com melhorias na qualidade de vida e aumento na expectativa de vida em graus ainda mais elevados, e para o progresso da ciência, desde os investimentos em educação e cultura até a pesquisa espacial, com escolas públicas para toda a população, bibliotecas públicas em todos os bairros, universidades públicas para todos, expedições arqueológicas e paleontológicas, observatórios astronômicos, lançamentos de foguetes espaciais e de satélites artificiais e construções de estações espaciais. É para isso que deve servir a riqueza social. Os bens de consumo devem ser aqueles que nos satisfaçam no que for mais necessário, havendo não carros para todos, mas transporte público de massas de qualidade para todos, não produtos caros para todos, parafernália tecnológica, mas acesso público à tecnologia de ponta para a pesquisa, a comunicação e o compartilhamento livre de informações, não medicamentos milagrosos para a saúde e a beleza, mas sim alimentos frescos e livres de agrotóxicos, direto da agroindústria ou sítio mais próximo ou da horta do quintal de casa ou da escola e menos estresse com mais tempo livre, com menos horas de trabalho.
Precisamos destruir o velho Estado, destruir a velha burocracia e rejeitar qualquer burocracia em seu lugar, instituindo um governo comunal. Mas isso não basta. A economia socialista deve ser ecologicamente responsável e voltada unicamente para o bem-estar social, livre do consumismo e do produtivismo capitalistas.