PIRAÇÃO , OU VERTENTES
 
      Quando me vi só, a chuva caía lá fora, mas só eu via a chuva.
    Aí ,eu saí na chuva, só eu me molhei, peguei um "baita resfriado" que durou muito tempo, pra curar.
      Quando me ví só a lua já era minguante como os meus pensamentos. Então...
    Tudo começou na sala da terapeuta. Sim. Ela estava certa. Eu tinha todas as respostas pra resolver os meus problemas, mas havia um nó, um maldito nó que eu não conseguia desatar. Por que eu tinha que pagá-la pra me dizer isso? Qualquer um diria de graça.
    Aí, eu saltei da janela do sexto andar para o abismo da minha dor. Você se casaria comigo se me visse assim? (risos) "- Aquele mendigo é mais feliz que eu.", (ironia)
     De repente a música ficou fora do tom. Meu instrumento rangia. A luz saiu do foco. O relógio endoidou...
      É como preparar a mala pra viagem, você enfia um monte de tralhas dentro, e usa quase nada. Morri no dia em que você foi embora... E eu nem fui a sua festa de despedida...Disseram-me que você estava linda. (o tom tem gosto de lágrima).
Destruí-me para reconstruir-me. Quebrei minha imagem no espelho-fragmentos de mim.
   Quando decidi fugir do mundo descobri o contraste entre o morro e a favela...Dessa cidade imensa que engole os sonhos dos homens, onde ninguém tem nome.
        Eu poderia dançar até enlouquecer, andar téti-a-téti com Da Vinci, e os grandes gênios da pintura saltaram da tela dos meus sonhos, poderia repintar a Monalisa e vê-la jogar tudo pra alto e sair, desvairada, como eu.
E ouvi uma voz que dizia: "Você não morreu...você faz o que você gosta.", "O tempo não para." " E agora José? José? José?". Foi o conflito final.
       As idéias surgiram como um arlequim misterioso por trás da caixa de Pandora. Angústias! Gritos! A inspiração fugia fazendo-me de boba; e eu corria atrás dela, mas ainda assim corria, com os pés doendo, com a alma em fragalhos, de repente...congela...um estrondo...cai...
       E as peças foram se moldando ás minhas vistas. O escuro ficou claro. O claro ficou escuro. Sim ou Não? Certo ou Errado? Tempestade ou Calmaria? Verdade ou Mentira? Caminho ou Ponto final?...Ponto final!? Não...
      E eu fui manipulando as peças desse grande quebra- cabeça que é a vida e suas vertentes.

In: OLIVEIRA, Regina. Coração Inquieto. Editora D'Mattos, 2010, p.66-67.
Regina Oliveira Devi
Enviado por Regina Oliveira Devi em 01/06/2012
Reeditado em 01/06/2012
Código do texto: T3700370
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