a arte da (autos)suficiência
torna-se suficiente aquilo que sacia, sem carências nem nímias. torna-se suficiente tudo o que não falta e não excede -simultaneamente-. tornei-me, então, suficiente a tudo e a todos os que de mim precisam e a todos os que de mim não necessitam tanto assim. ser suficiente é ser prudente para não deixar faltar e competente para não extravagar.. ainda que aquele seja mais importante (e difícil!) do que este. transformei-me, pois, em suficiente, quando o autossuficiente não era suficiente; quando eu precisei de alguém suficientemente eficiente na mesma ideia de ser nada mais, nada menos.
tornei-me suficientemente diferente quando acreditei que a diferença me faria suficientemente interessante. suficientemente igual quando percebia que a obsessão pela dissemelhança era menos o que da sua essência me atentava do que um complexo para ser notado. tornei-me suficientemente pequeno quando a grandeza sinonimizava prepotência, arrogância e arbitrariedade e suficientemente grande quando o diminuto traduzia obsolescência, servilismo, subalternidade.
tornei-me suficiente, enfim, quando compreendi, vi e vivi o mais do que suficiente e posterior pouquidade. A glória do tudo e o fracasso do nada. ou a glória do nada e o fracasso do tudo. tanto faz. tornei-me suficiente para não presentear expectativas quando o medo da decepção me parecia tão mais forte. maior. tornei-me, por fim, suficientemente suficiente. no mais amplo sentido de suficiência.