AS ZINÁS.
Quando escrevo não sou eu quem escreve.
Nessa hora, sinto que meus dedos não teclam sob o meu comando.
Entro numa freqüência que pouco conheço e que uns chamam de inspiração.
Mas acho que não é bem isso.
Quando escrevo, dou vazão a todos os fantasmas que vivem dentro de mim.
Criaturas que foram sendo ungidas ao longo do tempo e para as quais rendo todo respeito, porque são os reais mentores dos meus textos.
Tem vezes que essas criaturas se rebelam e transformam minha cabeça numa algazarra só.
Trocam o lugar das coisas, mexem com minhas intenções, fazem o diabo com os meus sentimentos.
Nessas horas, não há cachimbo da paz que as sossegue.
Com o passar dos anos, acabei por estabelecer uma relação bacana com essas criaturas, que chamo de Zinás.
São as Zinás da minha alma.
Engana-se quem pensa que os escritos são obras da criação do seu autor, pura balela.
São as Zinás que mandam, que dão as regras, que dizem a hora certa para parar, prosseguir, recuar, mudar de rumo ou desistir de vez.
São delas as tetas que sugamos nosso néctar de vida, vem delas o suspiro que nos farão voltar à vida, ou sair dela para sempre.
Virão delas os passos que seguiremos feito cães fiéis, como se estivéssemos atados a um amálgama intransponível.
Partirão delas nossos consolos quando o destino decidir por esmurrar cada face dos nossos sonhos, numa sinfonia alucinada que nunca mais terá fim.
Portanto, caro leitor, desista de buscar a luz ou o que for ao final do seu túnel.
Enquanto você não fecundar o âmago da sua Ziná, nada do que você pleitear, ousar ou pretender alcançar com suas mãos terá êxito.
Busque as Zinás que se amotinam nas entranhas do seu coração e as dome com toda força que puder.
E assim, só assim, você será feliz algum dia.
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