Cultivo da mandioca na Ilha de Marajó
O cultivo da mandioca (Jatropha manihot) é a principal atividade agrícola para milhares de famílias que vivem na Ilha de Marajó, no Estado do Pará.
O cultivo da mandioca, juntamente com a pesca e o manejo de açaizais, forma o tripé da produção agroextrativista que garante a subsistência das famílias marajoaras.
Nas centenas de comunidades ribeirinhas do interior do arquipélago do Marajó há uma gama de conhecimentos e práticas tradicionais passadas de geração a geração que tratam do cultivo de diversas variedades crioulas dessa importante planta.
O preparo das áreas de roça para cultivo da mandioca, desde o corte da vegetação nativa até a colheita, envolve longo período de tempo, em geral mais de um ano, e conta com a participação de todos os membros da família, homens, mulheres e crianças.
De modo geral, a implantação das roças segue as seguintes etapas de trabalho: limpeza, derruba, queima, plantio, capina, colheita e beneficiamento.
A limpeza é uma atividade de desbaste dos arbustos, cipós e árvores de menor porte com a finalidade de facilitar a derrubada das árvores maiores. A limpeza e a derrubada das grandes árvores são executadas em regime de mutirão, preferencialmente entre os meses de maio e agosto.
Após algumas semanas ocorre a secagem da vegetação, o que permite a realização da queima, no período de maior estiagem, entre os meses de setembro e dezembro.
O plantio ocorre no início do período chuvoso (entre dezembro e janeiro). Os homens preparam as covas com enxadas; as mulheres preparam as mudas e fazem o plantio; as crianças e adolescentes plantam as mudas nas covas e distribuem água para os trabalhadores.
Após o plantio, ocorre o cultivo de espécies em consórcio, como milho, abóbora, melancia, jerimum, maxixe etc. Ao longo do desenvolvimento da cultura são realizadas capinas para eliminar as plantas invasoras.
A colheita é um momento bastante especial que acontece entre um e dois anos após o plantio. Durante a colheita, toda a família se reúne para participar. As mulheres coordenam os trabalhos puxando o ritmo da colheita com cantorias e muitas risadas. Assim, as manivas são cortadas e separadas para o próximo plantio, enquanto as raízes são arrancadas e transportadas para o local onde serão beneficiadas.
O beneficiamento acontece em pequenas “casas de farinha”, que ficam próximas às residências, e são estruturadas de maneira simples. O beneficiamento é realizado com instrumentos artesanais, como, o rodete, a masseira, o tipiti, as peneiras e o forno de barro.
O principal produto beneficiado é a farinha, e em menor escala o tucupi, a tapioca, mingaus, beijus e bolos.
A maior parte da produção se destina ao consumo próprio, e só o excedente é comercializado para abastecer cidades próximas. Os compradores são atravessadores ou comerciantes locais. O pagamento é feito em menor parte com dinheiro, e principalmente pela troca de mercadorias.
Mesmo sendo amplamente empregada pelas famílias marajoaras ainda é visível a grande necessidade de capacitação dos agricultores, tanto para ampliar a capacidade produtiva e de comercialização dos produtos e subprodutos da mandioca, como para fortalecer o associativismo com vistas a eliminar os atravessadores no escoamento da produção.
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Publicado no Jornal Mesa de Bar News, edição n. 462, p. 15, de 11/05/2012. Gurupi – Estado do Tocantins.
Rosangela Silva Costa Salera
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Giovanni Salera Júnior
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