OS ANOS NOVENTA
A ERA COLLOR
O presidente José Sarney terminou seu governo patinando numa das mais profundas crises econômicas da nossa história. Em meio a uma inflação que beirava a 5000% ao ano foram realizadas as primeiras eleições diretas para a presidência da República, após a queda da ditadura.
Fernando Collor de Mello, ex-governador do estado de Alagoas, com um discurso populista e demagogo venceu as eleições, depois de uma disputa de segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva, líder dos trabalhadores do ABC. Lula encarnava a temida esquerda que havia sido amordaçada e reprimida durante todo o período do regime militar. O medo de que, através de meios constitucionais, a esquerda finalmente chegasse ao poder arregimentou em torno de Collor toda a direita reacionária do país mais os novos eleitores, ávidos pela modernização que ele lhes prometia.
Collor ganhou a disputa fazendo uso inteligente do marketing político e com o apoio que lhe foi dado pela mídia. A televisão fez mais por ele do que todas as coligações políticas. Era a primeira vez que um presidente chegava ao poder mais pelo voto popular do que pelos conchavos eleitorais. Prometendo um amplo programa de reformas políticas, principalmente a moralização da máquina pública, a erradicação da inflação e uma “nova “abertura dos portos”, trazendo modernização para a indústria brasileira, ele conseguiu ganhar as eleições e tornar-se o primeiro Presidente eleito pelo voto direto no país, após o período do regime militar.
Seu primeiro ato foi lançar o plano "Brasil Novo”. Esse ambicioso plano tinha como objetivo debelar a crise deixada pelo governo Sarney, ajustar a economia, acabando com a inflação, modernizar a administração e levar o Brasil, de um salto, do terceiro para o Primeiro Mundo. O cruzado novo, instituído no governo anterior, foi substituído pelo "cruzeiro"; toda a reserva monetária do país foi bloqueada para fins de ser substituída pela moeda nova. Os preços foram congelados de início, para serem liberados gradualmente. Os salários foram pré-fixados e depois negociados entre patrões e empregados. Impostos e tarifas públicas tiveram consideráveis reajustes e outros tributos foram criados. Antigos incentivos fiscais foram abolidos. Um grande corte nos gastos públicos, destinado a reduzir a máquina do Estado, provocou uma onda de demissões no funcionalismo público federal, reduzindo a qualidade dos serviços públicos.
O plano promoveu, concomitantemente, a abertura do mercado interno, com a redução gradativa das alíquotas de importação e a eliminação das barreiras alfandegárias proibitivas da importação de vários produtos industriais.
O Plano Collor pegou de surpresa a maioria das empresas do país, que ficaram sem liquidez. Isso obrigou o governo a liberar o dinheiro retido mais rapidamente do que previa o plano, especialmente para o pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas de pagamento e contribuições previdenciárias. Logo o governo teve que liberar os investimentos dos grandes empresários, e manter retido somente o dinheiro dos poupadores individuais.
De início o plano foi eficaz contra a inflação, mas logo uma enorme recessão tomou conta do país. Aumentou o desemprego, e as empresas, sem liquidez e sem preparo para enfrentar a concorrência estrangeira, diminuíram a produção. Muitas fecharam as portas. Em menos de um ano a produção industrial diminuiu 26%.
O PIB nacional reduziu cerca de 5% no primeiro ano do governo Collor. Alheio ao desastre que a sua política econômica provocava no país, Collor procurava se apoiar no marketing pessoal, tentando passar uma imagem de homem moderno e ativo, capaz de vencer todos os obstáculos através de uma atitude positiva e desafiadora.
A par das medidas econômicas tomadas através do Plano Verão, Collor deu início também a um ousado programa de privatizações das empresas públicas do país. Até o fim do seu governo já haviam sido privatizadas 25 empresas, algumas delas verdadeiros ícones da indústria nacional, como a Usiminas, A Cia Siderúrgica Nacional, as grandes empresas do setor petroquímico e telecomunicações, e outras.
Mas já em fins de 1990 a inflação havia voltado com força, acumulando quase 2000% ao ano, o que obrigou o governo a lançar o Plano Collor II. Esse plano teve como objetivo controlar a ciranda financeira que havia tomado conta do país, e que segundo os técnicos do governo, era a principal causa da inflação.
Mas esse plano também falhou, pois a inflação, embora tenha baixado para patamares inferiores a 500% ao ano, continuava extremamente alta. A par disso, porém, as medidas de modernização do parque industrial brasileiro começavam a dar seus primeiros frutos. As empresas brasileiras se tornaram mais competitivas pela adoção de métodos mais modernos de produção e administração. Essa modernização, no entanto, substituindo mão de obra por mecanização aumentou o desemprego no país.
Caia vertiginosamente o prestígio do Presidente. Logo se verificou que havia um grande esquema de corrupção na máquina pública, liderada pelo seu amigo e tesoureiro de campanha Paulo César Faria. Uma CPI foi montada no Congresso para apurar os casos de corrupção e o Presidente acabou sendo envolvido. Sem poder provar a falsidade das acusações que foram lançadas contra ele, Collor acabou sofrendo o primeiro e único “impeachment” que um Presidente da República já sofreu na história do Brasil.
O GOVERNO ITAMAR FRANCO
Itamar Franco, o Vice – Presidente eleito assumiu a presidência após o “impeachement” e a renúncia de Collor. Diferente de Collor, que governou com muito pouco apoio político, Itamar assumiu contando com bastante força no Congresso. Após vencer um plebiscito em que a nação optou por continuar com o regime presidencialista ao invés do parlamentarismo, ele pode afinal aplicar ao país um novo plano econômico, dirigido pelo seu novo Ministro da Fazenda, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
Em seu governo também funcionou uma CPI para investigar casos de corrupção envolvendo políticos do Congresso Nacional que manipulavam verbas orçamentárias em proveito próprio. Esse escândalo ficou conhecido como o caso dos “anões do orçamento.” Esse caso quase levou o país á uma grave crise institucional.
O PLANO REAL
Na área econômica a grande realização do governo Itamar Franco foi a implementação do Plano Real. Esse plano, encabeçado pelo Ministro Fernando Henrique Cardoso, chamava-se Plano Real e visava o controle da inflação e a estabilização econômica através de uma reforma monetária que substituía o cruzeiro pelo real e criava uma âncora fiscal e cambial para dar suporte à nova moeda.
Para sustentar a concretização das medidas monetárias o governo adotou várias outras estratégias para conter os gastos públicos. Além de continuar o programa de privatização iniciada no governo Collor, o governo mexeu nas taxas de juros, aumentou tributos e abriu definitivamente o país às importações.
Assim, num prazo consideravelmente curto o Plano Real ocasionou a queda da inflação e aumentou o poder aquisitivo da população com a queda da inflação. Com base na popularidade do plano, o Ministro Fernando Henrique Cardoso venceu as eleições de 1994 em primeiro turno, com larga margem votos.
A MAÇONARIA NESSE CONTEXTO
No plano nacional e estadual, as novas lideranças maçônicas, aproveitando o clima de descontração política e as novas perspectivas que se apresentavam ao país, trabalharam principalmente para consolidar o patrimônio da Ordem e desenvolver os projetos já em andamento. Em 4 de dezembro de 1992 inaugurou-se o Palácio Maçônico do GOB, em Brasilia, na gestão do Grão-Mestre Jair Assis Ribeiro; Desenvolveram-se ações no sentido de apoiar a juventude maçônica, através dos De Molay
as Filhas de Jó e as APJs. Decidiu-se que a Maçonaria deverá se pronunciar e até poderá se envolver nas soluções de problemas sociais, porém não apoiará ações isoladas de Ir.’., nem se envolverá em questões políticas partidárias. No campo das relações internacionais, uma maior aproximação com as potências internacionais. No terreno político interno os anos noventa não registraram grandes conflitos, reinando na família maçônica um ambiente de paz que permitiu á Ordem um expressivo aumento nos seus quadros.[1]
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Waldemar Costa Filho (1/1/1989-1/1/1993 e 1/11997 – 1/1/2001), Francisco Ribeiro Nogueira (1/1/1994- 26/5/1994) e Manoel Bezerra de Mello (26/5/1994- 1/1/1997) governaram o município nos anos noventa. Destes, os dois primeiros, Waldemar Costa Filho e Francisco Ribeiro Nogueira, como já informado, eram maçons.
Os anos noventa foi uma década de grande desenvolvimento para Mogi. O Mogi Shopping foi inaugurado, colocando a cidade na era dos “shoppings centers”, mudando inclusive uma tradição da juventude mogiana, que antes costumava se encontrar no calçadão das ruas Dr. Deodato e Paulo Frontin, e agora passava a fazer ponto no shopping. Grandes magazines, como a Riachuelo, Casas Bahia, Marisa, Casas Americanas, etc. se instalam no município. Essa mudança na estrutura política e econômica da cidade forçou também uma mudança no controle político do municípo. Como bem observa o historiador Mário Sérgio de Moraes, os anos noventa assistem aos derradeiros suspiros das antigas oligarquias na luta pelo poder político da cidade.[2]As campanhas políticas, agora com novas fontes de financiamento, oriundas principalmente das grandes empresas, colocaram no poder uma nova classe de líderes, com interesses diferentes daqueles defendidos pelas antigas famílias que dominavam a cena política no município. Essa tendência seria observada principalmente a partir do inicio do terceiro milênio, a com a eleição de Junji Abe para a prefeitura.
A redemocratização do país levou a Maçonaria nacional a rever algumas das suas posições. Se durante os anos da ditadura militar, a estratégia foi a do silêncio e da adesão passiva aos ideais revolucionários, e durante os anos oitenta ela se concentrou em projetos de interesse interno como a construção das sede central em Brasília, e a APJ, projeto educacional que visava promover mudanças importantes na educação dos jovens brasileiros, o enfoque agora voltava para a política, com a elaboração do Projeto Estratégico, uma espécie de plano de ação, através do qual a Ordem buscava recuperar a sua função como importante centro de discussão e orientação de soluções para os principais problemas nacionais. Esse plano foi expresso no decreto 267 de 9 de agosto de 1991, no qual se pugnava por uma orientação central, oriunda do Grão-Mestrado, evitando a proliferação de “vozes individuais”, falando pela Maçonaria.
Nesse sentido foi criada uma estrutura que deveria operacionalizar essas idéias, composta por um jornal e um grupo de Assessoria, os quais escolheriam os assuntos nos quais a Maçonaria, enquanto instituição, deveria se envolver e quais as estratégias que adotaria para instrumentá-la. [3]
Outra decisão do Poder Central foi o fortalecimento das APJs, que embora tivesse sido iniciada nos anos oitenta, pouca coisa de prático tinha realizado até então.
Por outro lado, buscou-se uma maior integração com a Maçonaria mundial, com assinatura de vários tratados de amizade com potências maçônicas estrangeiras. Tudo isso visava recuperar aquele lastro de poder e representatividade que a Ordem havia perdido nas décadas anteriores, graças principalmente aos seus próprios conflitos internos.
Refletindo também o ambiente político favorável que se instalou com a redemocratização do país, o GOB aproveitou para anistiar todos os Orientes estaduais, Lojas e Irmãos, que desde as grandes cisões de 1973, tinham sofrido sanções e se encontravam em situação irregular. Essa medida objetivava pacificar a família maçônica e buscar novos rumos para a Ordem.
Na esteira dessas ações foi criada a Loja de Pesquisas do Grande Oriente do Brasil destinada a desenvolver a pesquisa e o estudo da cultura maçônica em todo o Brasil.[4]
A UNIÃO E CARIDADE IV NOS ANOS NOVENTA
Em 3/7/1989 toma posse a Diretoria para a Gestão 89/91, composta pelos seguintes Irmãos:. V:.M :. Alfredo Casella Junior; 1º Vig:. José Carlos de Almeida Carreiro; 2º Vig:. Hamilton Sanches Arias Sec:.Miguel Sanches.
Houve muita agitação em virtude das eleições presidenciais de 1990 e as primeiras providências do Plano Collor, que pegou de surpresa vários Irmãos, principalmente aqueles que exerciam o comércio.
Sai o tesoureiro Ayres Simões, substituído pelo Ir.’.Joaquim dos Santos Netto.
Em 1 de julho de 1991 nova diretoria composta pelos Ir.’. Ademir Pinto de Faria (V.’.M.’.); Hamilton Sanches Arias (1º Vig.’.); Henrique Borestein (2º Vig .’.); Ricardo Strazzi (Or.’.); Cláudio Servo (Secr.’.); Rivaldo Algarves Fernandes (Secr.’ .); Ayres Simões Filho (MC.’.).
Repercute na Loja os acontecimentos que levaram ao “impeachment” do presidente Collor. É lida em seção a manifestação do GOB, emitida pelo Grão-Mestre Moacyr Salles, em relação a esses acontecimentos, enfatizando o caráter democrático, progressista e pacífico da Maçonaria, e a sua responsabilidade na defesa do Estado de Direito e das Instituições democráticas.
Vários Irmãos manifestam suas opiniões em relação a esses eventos, destacando a necessidade da Ordem se posicionar em defesa da moralidade da coisa pública, da ética e da manutenção da ordem. [5]
Em 5 de julho de 1993 nova diretoria com os Ir.’. José Ferreira filho (V.’.); Nilton da Silva Oliveira (1º Vig.’ .); Eli Nepomuceno (2º Vig.’); Ricardo Strazzi (Or.’.); Rivaldo Algarve Fernandes (Tes.’.); Jorge Cândido da Rocha (Sec.’.) José Roberto Indalécio ( Ch.’.); Ayres Simões Filho (MC..).
Em 3 de julho de 1995, nova diretoria com os Ir.’. Nilton da Silva Oliveira (V.’.M.’.); Ayres Simões Filho(1º Vig.’.); José Roberto Indalécio (2º Vig.’.); Antonio Tadeu Caravieri (Or.’.); José Carlos Del Fiori (Tes.’); Arthur dos Santos Coutinho Neto (Sec.’.);Edgar Suenoto (Ch.’.); Eli Nepomuceno (Ch.’.);
Em 07 de Julho de 1997, nova diretoria composta pelos Ir.’. Aires Simões Filho (V.’.M.’.); Antonio Tadeu Caravieri (1º Vig.’.); José Carlos Del Fiori (2º Vig.’.);José Ferreira dos Santos (Or.’.); José Tadeu Candelário (Tes.’.); Miguel Sanches (Sec.’.); Mario José Calderaro (CH.’.); João Montes (MC.’.)
Decreto Legislativo nº 28/98 de autoria do Ir.’.Vereador Marco Aurélio Bertaiolli institui o Dia do Maçom.
Em 12 de julho de 1999 nova diretoria composta pelos Ir.’
Álvaro de Oliveira Arizza (V.’.M.’.); João Montes (1º Vig.’.); Miguel Sanches (2º Vig.’.); Nilton da Silva Oliveira (Or.’.); Francisco C. Aguiar Del Poente ( Tes.’.); Edson Collado de Brito Gomês(Sec.’.); Mario José Calderaro (CH .’.); Manoel do Nascimento Filho (MC.’.).
Em 23 de agosto de 1999, visita a Loja o Eminente Grão-Mestre Cláudio Roque Buono Ferreira.
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Resumo do Capítulo X do Livro CEM ANOS DE MAÇONARIA- A SER PUBLICADO EM COMEMORAÇÃO AO CENTENÃRIO DA LOJA UNIÃO E CARIDADE IV DE MOGI DS CRUZES- QUALQUER COMENTÁRIO OU INFORMAÇÃO SOBRE OS FATOS ACIMA DESCRITOS PODERÁ SER POSTO NESTE SITE OU ENCAMINHADO DIRETAMENTE PARA O E mail jjnatal@gmail.com.
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[]1 Em 1999 somente o GOB tinha 61.446 Irmãos filiados, num total de 1937 Lojas em todo o território nacional. Fonte: História do Grande Oriente do Brasil, op citado, pg. 366.
[2] Mario Sérgio de Moraes-Nova História de Mogi das Cruzes, Ed. Mogi News, Mogi das Cruzes, 2010.
[3] O Jornal foi o “Esquadro”, e o grupo ficou conhecido com GPAS- Grupo de Assessoria ao Poder Central. Vd. Castelanni e Carvalho, op citado pg. 293.
[4]História do Grande Oriente do Brasil- op. citado pg. 298 e ss.
[5] Essa manifestação se deu através da prancha GAB 95/92 DE 2/10/1992.