GONCHARENKO, Serguéi. EL ASPECTO COMUNICATIVO DE LA TRADUCCIÓN POÉTICA _ PARTE II _

Goncharenko divide a informação existente em um texto poético em dois tipos: 1. A informação semântica _ aquela que comporta certos dados que permitem estabelecer uma determinada relação entre o texto propriamente dito e a realidade (uma situação extralinguística), isto é, um sistema de referências ideais; 2. Informação estética _ é o tipo de informação que contém a substância estética no plano extrassistemático, isto é fora e além do semântico, além do significante.

A propósito, se pode exemplificar a partir do signo linguístico, o binômio significante/significado. Isto é, a associação que, mentalmente se faz de determinada palavra que se lê ou se ouve a uma ideia que lhe corresponde; ou, ainda, a diversos e distintos significados. Um signo linguístico pode remeter a diversos significados e contextos. Quando alguém que jamais ouviu ou leu a palavra Goncharenko, não fará de imediato uma associação a uma ideia correspondente a este vocábulo, ou não a fará relativamente ao nome próprio do linguista russo e até poderá associar a várias coisas, livremente. No caso da poesia, e para o leitor que não conhece um idioma estrangeiro em que um poema está escrito, não será mesmo possível a leitura ou a associação de ideias com situações do mundo real ou mesmo do imaginário. No caso de um leitor conhecedor de um idioma estrangeiro, poderá ocorrer que desconheça o significado de determinado termo no interior daquele poema. Então, sua atitude será a de resolver este pequeno entrave até reconhecer-lhe as relações de significados e que em poesia já apresenta outras situações específicas de linguagem poética. Esse desvendamento do poema exige que sejam considerados sentidos denotativos e também conotativos dos termos.

A explicação que dá o autor é que esses dados informativos se fazem presentes no texto por meio de signos verbais, sendo observável que a objetividade nem em todos os casos pode ser igualmente clara, explícita. Ou ainda, a informação conceitual é materializada no texto através de um sistema de sinais ou signos verbais que evocam em outra pessoa determinado conteúdo mental que relaciona o texto com uma situação extralinguística definida. Tratando-se do texto poético, importa assinalar que o ouvinte (o referente) estabelece a relação entre o texto e a realidade não apenas com base em “conhecimentos gerais” que supostamente possui cada indivíduo, mas também com o que chama de “chave poética”, imprescindível para a decifração do comunicado intelectual e emocional. Neste sentido se pode afirmar, com Goncharenko, que a mensagem poética está dirigida a ouvinte ideal e que precisa de conhecimentos ideais.

Considerando esses “conhecimentos ideais” aos quais se refere Goncharenko, não se trata de apenas informações e cultura de alto nível que permitem ao leitor a compreensão de clássicos da poesia, a exemplo de sonetos shakespearianos, camonianos e outros que tais. Por outro lado, e na poesia popular, nos cordéis e outras formas que também podem receber a rubrica de clássicos da literatura popular, conhecimentos especiais não são dispensáveis. Observe-se o exemplo (na peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, da autoria de Firmino Teixeira do Amaral) o quanto de conhecimentos específicos de linguística, história, sociologia, antropologia, economia é necessário a algum tradutor, nativo de outra língua que não a portuguesa, para revelar os versos. Inclusive, diga-se de passagem, para tantos brasileiros a necessidade também existe. Muitos brasileiros podem, eventualmente, ignorar o signo inteiro (significante+significado) tendo em vista a mobilidade da língua, os neologismos, as gírias, os regionalismos.

Cego:

Negro, és monturo

Molambo rasgado

Cachimbo apagado

Recanto de muro

Negro sem futuro

Perna de tição

Boca de porão

Beiço de gamela

Venta de moela

Moleque ladrão

No que diz respeito à informação estética, esta abarca todo o complexo maciço informativo que contém a comunicação poética no plano extrassemântico. Estes dois grupos ou categorias de informação que compõem os textos literários são chamados por outros autores de “lógica e estética” ou “intelectual e emocional”, ou ainda “cognitiva e emocional” _ conforme assegura Goncharenko.

Retornando à informação semântica, esta se subdivide em “informação factológica” e “informação conceitual”. A primeira informa acerca dos fatos, acontecimentos e processos que ocorrem, ocorreram ou ocorrerão no mundo imaginário. A “informação factológica” geralmente é transmitida por signos verbais altamente explícitos, não se perde no processo perifrástico de substituição do texto poético por outro prosaico.

A informação conceitual manifesta o conceito que o autor forma enquanto as relações existem entre os fatos descritos no nível da informação “factológica”, transferindo-a, ao seu modo, para a sua concepção de mundo com o qual o autor procura expressar a ideia que tem de qual deve ser ou não dever ser tal mundo. Este tipo de informação se reveste, por excelência, de um caráter implícito e que se objetiva em cada texto concreto, ao materializar-se nele mesmo através de signos verbais discretos, direcionados ao destinatário “ideal”, possuidor da “chave poética” adequada. Este destinatário ideal não é um destinatário comum, assim como alguém íntimo para quem se envia uma carta, um bilhete. Esse destinatário ideal corresponde à ideia que faz o autor de seu leitor, um leitor coletivo. Um poeta, por exemplo, pode idealizar alguém que lê o seu poema, mas esse leitor tem um rosto que encerra em sua fisionomia diversos rostos. Até mesmo quando se trata de uma musa, ela é idealizada, independentemente de sua existência no mundo real. Neruda cantou o grande amor de sua vida, Matilde, mas na cantiga poética, essa amada pertencente ao mundo real surge na imaginação do poeta e em sua obra na qualidade de um ser ideal: “Tu eras também uma pequena folha/que tremia no meu peito./O vento da vida pôs-te ali./A princípio não te vi: não soube/que ias comigo,/até que as tuas raízes/atravessaram o meu peito,/se uniram aos fios do meu sangue,/falaram pela minha boca,/floresceram comigo”.

De certo, a informação se realiza no processo de interação que se produz entre os significados verbais e os conhecimentos básicos do ouvinte/referente ao tempo em que percebe e interpreta a mensagem.

Serguéi é taxativo em dizer que somente o referente ou leitor que tenha certa preparação cultural é capaz de extrair do texto o tipo de informação, aquela veiculada pela mensagem poética. Inclusive reforça sobre um pormenor de importância, a de que a mensagem deve ser interpretada com as técnicas da hermenêutica e somente um leitor preparado pode alcançar este fim e depois de varias leituras do texto até conseguir uma informação conceitual mais ou menos completa.

“Considerando alguns estudiosos na área da hermenêutica, pode-se chegar a algumas concepções sobre sentido, que é definido por Ricoeur como sinônimo de significação, o processo constante de atualização do discurso. O sentido esconde-se sob as palavras e a partir do desvelamento percebe-se a realidade. Esta é a função da Hermenêutica para Ricoeur: interpretar, atribuir significância a um sentido proposto e através da linguagem. O sentido se produz em acordo com o trabalho do leitor através da leitura de textos literários”. (Cristófano, 2009, p. 9)

Nos ensinamentos de Serguéi, consta que até se pode descobrir certa similitude entre este tipo de informação e as que carregam implicitamente os textos práticos que descrevem uma situação-signo em representação de outra situação, cuja interpretação constitui o verdadeiro propósito do ato de comunicação definido e que se deduz ou se associa àquela. Ao mesmo tempo há uma linha de separação insolúvel que se interpõe entre a informação conceitual de um texto literário e aquilo que é informação implícita de um texto prático. Em primeiro lugar, a informação conceitual surge com base em associação entre a informação conceitual de um texto literário e o que é a informação implícita de um texto prático. Em primeiro lugar, a informação conceitual surge à base de associações não automatizadas; em segundo, na maioria dos casos esta informação não é unívoca; terceiro: esta não se extrai diretamente do contexto situacional externo e nem do contexto verbal limitado, senão do texto íntegro e com a ajuda de técnicas de interpretação e de conhecimentos especiais na matéria; quarto: a informação conceitual não se presta a procedimentos perifrásticos, estritamente falando, nem, em geral a uma verbalização completa. Cada fábula vai além do que diz sua lição de moral. Também se costuma dizer que se a imagem literária fosse traduzível para a linguagem da lógica, a ciência poderia plenamente substituir a arte. Por outro lado, não é mesmo certo que se a linguagem da arte fora absolutamente intraduzível na linguagem da lógica, não existiria a crítica da literatura e da arte. Na realidade, a imagem tanto é traduzível quanto intraduzível. Quando se diz que ela é intraduzível, equivale a dizer que se trata de decifrar o que sobra de significado e que impulsiona o estudioso a efetuar uma análise. Quando se diz que a linguagem é traduzível deve-se ao fato de que, ao se penetrar, cada vez mais, no conteúdo da obra, progressivamente também se vai descobrindo e completando os diferenciados aspectos do significado conceitual e estético da linguagem. Desse modo é que a informação conceitual é congênere da ideia principal (da concepção) do texto poético, representando uma espécie de sinopse da ideia semântica profunda do mesmo.

Entretanto, como bem o diz Serguéi, é difícil encontrar para essa ideia formas explícitas adequadas, porque não se tem veículos verbais diretos/objetivos capaz de representá-la. E, em vista disto, o estudioso considera que o resultado aponta para o ideal da semântica “factológica” (factual) se apresente como forma material do conteúdo conceitual de uma obra. Assim ele afirma que a informação conceitual do texto poético se desenvolve em uma escala em que a informação “factológica”, uma vez na consciência do ouvinte/leitor, aquele que identifica a situação descrita dentro do plano “factológico” da comunicação. Isto ainda inclui que, o leitor pouco preparado ou aquele que trabalha de forma precipitada não perceberá qualquer outro aspecto informativo.

Serguéi conhecia profundamente os estudos linguísticos, era uma sumidade. Entretanto, conforme declarou, seu sonho maior era ser lembrado como um grande poeta. O desejo dele suscita em seu leitor significados relativos à consciência que tinha o linguista quanto à grandiosidade e quase que impenetrabilidade da linguagem poética, tão sutil, subjetiva e única.

REFERÊNCIAS

http://cvc.cervantes.es/lengua/hieronymus/pdf/01/01_063.pdf

http://es.wikipedia.org/wiki/Serg%C3%A9i_Goncharenko

http://www.youtube.com/watch?v=XvX1iM-rPsk

http://132.248.9.1:8991/hevila/Formayfuncion/2009/vol22/no1/9.pdf

http://www.hispanismoruso.com/es/sergueigoncharenko.html

http://www.arteducacao.pro.br/Cultura/cordel/cordel.htm#Cordel e Cordelista

http://www.faccrei.edu.br/gc/anexos/diartigos37.pdf

taniameneses
Enviado por taniameneses em 24/04/2012
Reeditado em 24/04/2012
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