Da verborragia
Toma-se comumente o falar compulsivo como
desmanzelo do espírito. Então:
verborrágico=desequilibrado
Porém, no dizer de Antonin Artaud, "quem tem
o direito de medir o espírito?" E, mais especificamente,
o espírito por trás do falar, compulsivo ou não?
Ocorre que há o provérbio "Silêncio é ouro".
Não seria, talvez, ouro de tolo? Muitos não deixariam
de falar por pura covardia?
*"quan-
do as pessoas falam pouco elas se tornam
desinteressantes? soltar a voz, correr esse ris-
co e arriscar na nota seguinte como se fosse
um salto mortal triunfante. ponto por ponto.
num trigal entre sorrisos e beijos."
** "Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar."
Mas falar por falar não seria um esboço, ou
seja, o armar no ar um figura, do falar preciso, ou
daquilo de que se pode falar? Se o peixe morre pela
boca, definitivamente, é também através dela que nas-
ce. Admitiamos este ciclo como sendo bastante natu-
ral: nascer voz e morrer letra.
<vida=morte=vida>
E a isso tudo poderíamos chamar de um elo-
gio do falar compulsivo, digo, verborragia, por mais vo-
zes soltas no ar, a priori, e, prensadas no papel, a pos-
teriori. Por mais vida e morte, oxigênio e celulose.
* de Jorge Salomão, do livro "Mosaical", pg 55
** de Ludwig Wittgenstein, do livro "Tractatus Logico-Philosophicus, pg 281