Sou, e por isto sou passível de penalização


Sou o que minha mente me faz. De cérebro saudável ou com problemas neuronais, sou o que meu cérebro faz de minha mente. Portanto sou sempre passível de culpabilidade por tudo o que faço e por tudo que induzo aos outros a fazerem, ou mesmo por tudo que me negligencio de fazer pelo bem social.
 
Em decorrência da complexidade astronomicamente alta de um circuito cerebral completo, não consigo crer em um cérebro perfeito. Não bastasse a já inimaginável rede neuronal em si, onde apenas um centímetro cúbico de cérebro possui muitos milhões e milhões de conexões neuronais, existe também todo o problema da bioquímica e da físico-química envolvida, para agravar esta complexidade ainda existem as interferências externas, a influência do meio experimentado, da própria alimentação, de remédios e muito outros.  
 
Quando realizo um ato, ou quando me omito de realiza-lo quando deveria, sou eu quem o faço, ou quem abdica do dever de fazê-lo, com a exata mente que tenho, gerada pelo cérebro que possuo. Disfunções mentais existem, como existem disfunções orgânicas, todos em algum nível as temos, não culpabilizar alguém por isto é passar atestado de impunidade a todos, posto que sempre agimos baseado na mente que temos naquele exato momento, o que reflete o estado “físico-químico-biológico” do cérebro também naquele exato instante, desta forma todos seriamos automaticamente inocentados de qualquer ato ou indução. O próprio livre arbítrio na sua essência não existe, posto que é o cérebro, e os muitos de nós que residem em nossa mente, que brigam continuamente por um lugar ao sol, que decidem agir ou nos fazem crer na existência completa de um total livre arbítrio. Não vou me aprofundar no livre arbítrio, ótimos livros sobre neurociência falam muito melhor do que eu neste assunto.
 
O bem-estar social deve ser mandatário e preferencial acima de qualquer bem-estar individual. Aquele bem-estar coletivo deve estar acima das minhas limitações ou disfunções ou mesmo dos meus desvios mentais, e devo assim ser penalizado sempre que cometer atos contra o bem-estar social, ou mesmo sempre que me omitir de realizar algo por este bem coletivo.
 
Entendo que é triste quando falo em penalizar alguém que estaria fora de si, transtornado, ou tomado por algum surto mental, mas no fundo todos somos passiveis destes atos e a sociedade deve ser resguardada acima de tudo. Todos padecemos algum nível de falha cerebral, e nem todos partimos para a realização de crimes ou para a omissão criminosa.
 
Cada um deve ser avaliado antes de ser penalizado, isto é um direito inalienável a todos, mas aquele que praticou atos contra o bem-estar social deve ter seu ato avaliado quanto ao alcance final do mesmo, deve também ser avaliado quanto a probabilidade de repetir tal ato, ou praticar algum ainda pior, e deve ter também avaliada sua capacidade de recuperação, mas jamais devemos permitir que um ato praticado deixe de ser avaliado, e devemos ter a plena convicção que a sociedade é o bem maior a ser respeitado, a assim todos os atos indignos, antissociais ou perversos à vida, ou a omissão quanto a realização de atos que evitassem ou minimizassem os negativos, devem ser sim penalizados, independente da sua condição mental de momento, ou então devemos ter a certeza que todos os atos serão não penalizáveis, por decorrência, uma vez que, repito, agimos, somos e vivemos o que nossa mente é naquele exato momento e esta reflete diretamente o estado da complexidade de nosso cérebro, naquele exato momento.
 
Sinto que eu mesmo, ou aqueles que mais amo, podem acabar sendo penalizados pela minha proposição, mas só me resta lamentar, o social deve ser sempre mais importante que o individual, ou pelo menos esta é a minha forma de ver a humanidade que me cumpre realizar.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 08/04/2012
Código do texto: T3600741
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