OBSERVAÇÕES SOBRE O TEXTO ACADÊMICO E O LEITOR COMUM

Fora dos meios científicos - isto é, no mundo dos leitores comuns - impera uma certa ideia que afirma serem os textos acadêmicos suficientemente enfadonhos a ponto de conseguirem manter distantes de si esse tipo de leitor, ou seja, aqueles habituados no dia a dia apenas com a leitura de jornais, revistas e livros de literatura e que não se sentem muito à vontade com textos que abordem pesquisas de cunho metodológico a respeito de algum tema ou assunto específico. Na ótica, porém, do autor do presente ensaio, o que ocorre é que o texto científico possui uma série de características que podem realmente levar o leitor comum a experimentar dificuldades bem maiores em sua leitura do que aquelas experienciadas pelo leitor especializado. Algumas destas características podem ser definidas como sendo: a existencia de um tipo especial de linguagem utilizada em cada disciplina ou área do conhecimento acadêmico; o uso frequente da citação de nomes de autores, ideias e/ou conceitos expressos em obras de referência e dos quais o leitor comum muitas vezes não tem qualquer conhecimento prévio; e, finalmente, o fato de que uma parcela dos textos acadêmicos sejam produzidos sem que haja da parte do autor nenhum tipo de relação amorosa ou interesse pessoal em relação ao tema escolhido.

Observe-se inicialmente que um texto acadêmico tem como leitor natural aquele do tipo especializado, ou seja, um estudante ou pesquisador da mesma área do conhecimento para a qual tenha sido produzido. Portanto, são costumeiramente utilizados nestes textos palavras e conceitos bastante específicos e direcionados a determinadas áreas do conhecimento, com termos característicos que se constituem, se definem e se impõem com um linguajar próprio para cada disciplina. Tomando-se como exemplo o caso do curso de Letras do CEFET-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais), poderiam ser citados termos próprios dessa área de estudos, como: linguagem, língua e fala. Para o leitor comum, distante de tais significados e conceitos, existirá sempre uma maior dificuldade de entendimento do texto.

Atrelada a esta questão inicial, faz-se também notória nos textos acadêmicos a citação de autores e/ou ideias estudadas/desenvolvidas por eles. Da mesma forma como foi explicitado no parágrafo anterior, é possível que aqui também o leitor comum não tenha experienciado qualquer tipo de contato anterior com os referidos autores e/ou suas ideias e conceitos, tornando-se bastante perceptível a real necessidade de que o leitor de um texto acadêmico seja igualmente possuidor de uma razoável quantidade dos conhecimentos específicos que embasam as pesquisas e os pesquisadores.

Tomando-se outra vez como exemplo o curso de Letras do CEFET, num estudo sobre a aquisição de linguagem decerto que se farão essenciais os conhecimentos sobre autores como Ferdinand Saussure, Piaget, bem como os conceitos por eles abordados, como a aquisição da linguagem ou o aparelho sensório-motor, respectivamente.

Finalmente, uma parcela dos textos acadêmicos são escritos apenas em função de certa obrigatoriedade estudantil. Ocorre muitas vezes então que os autores sequer tenham efetuado uma pesquisa mais detalhada ou profunda e sobre temas que realmente apresentem relevância para eles. É por este motivo então que, não raro, são elaborados trabalhos com pouca criatividade, de leitura cansativa e nos quais se percebe de imediato a falta de conteúdo.

Concluindo, vê-se que algumas das dificuldades que permeiam o texto científico para o leitor não-acadêmico - tais como a presença de palavras e conceitos diversos e a citação de autores relativos a cada área do conhecimento, bem como a ausência de uma relação mais íntima e pessoal do autor do texto com o tema sobre o qual vai escrever – são condições bastante significativas para a promoção da atração ou do afastamento do leitor comum. Percebe-se então que o autor de um texto acadêmico pode e deve efetivamente buscar alternativas e soluções que visem tornar o seu escrito mais agradável e inteligível para o leitor comum. E é provável que o que faça a grande diferença nesse sentido em qualquer espécie de texto seja o fato do autor inicialmente se dedicar a escrever sobre um assunto pelo qual realmente se sinta enamorado. A partir da escolha pessoalíssima de seu tema de estudos e de uma pesquisa suficientemente bem elaborada, poderá o autor construir um texto realmente interessante, criativo, simples e legível para qualquer espécie de leitor.

Referências

Martins, José Eduardo. Encontro oportuno. 13 de ago. 2011. Disponível em

http://blog.joseeduardomartins.com/index.php/Tags/teses/ Acesso em 21 de mar. 2012.

Oliveira, Thiago. Como escrever um texto acadêmico. 12 de out. 2009. Disponível em

http://solblogged.blogspot.com.br/2009/10/como-escrever-um-texto-academico.html

Acesso em: 22 de mar. 2012