A MAÇONARIA NOS ANOS QUARENTA
Mogi nos anos quarenta
No início dos anos quarenta, o município de Mogi das Cruzes tinha 48.322 habitantes, segundo o censo realizado em 1-9-1940. A maioria, 26.004 habitantes, morava na zona rural. Nesse cômputo estão somados os habitantes de Biritiba Mirim, Itaquecetuba, Poá e Suzano, que ainda nessa época eram províncias pertencentes ao município de Mogi. [1]
Mogi era uma das cidades mais progressistas da região. A indústria e o comércio estavam em franco desenvolvimento como mostra o trabalho realizado pela ACIMC. Por ser a primeira parada obrigatória do trem que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, muitos comerciantes da capital começaram a ver nesta cidade oportunidades de bons negócios e vieram para cá montar seus estabelecimentos comerciais.[2]
O mundo estava em guerra nessa época. O conflito, que começara em 1º de setembro do ano anterior, com a invasão alemã na Polônia, ainda não havia chegado ao Brasil, que só entraria formalmente nele em 1942, e efetivamente em 1944 com o envio de uma Força Expedicionária. Mas já projetava seus reflexos no Brasil, e particularmente em Mogi das Cruzes, grande centro produtor de alimentos, o bloqueio dos portos europeus começava a prejudicar a exportação dos nossos produtos.
São Paulo, que desde o início dos anos 20 havia assumido a condição de cidade mais rica do país, sobrepujando o Rio de Janeiro, no início dos anos quarenta contava com cerca de um milhão e quatrocentos mil habitantes e já era, nessa época, o maior centro industrial da América Latina, com 4.000 fábricas. [3]
Essa prosperidade que se via na capital começava também a beneficiar Mogi das Cruzes. Uma prosperidade que seria ainda mais acentuada com o início das operações de uma das maiores usinas siderúrgicas do país, a Mineração Geral do Brasil, inaugurada em 24 de agosto de 1944.
Fechamento da União e Caridade IV
Na política, vivia-se a primeira era Vargas, época do chamado Estado Novo, e o estado de São Paulo estava sob intervenção federal, sendo interventor o Sr. Adhemar de Barros, que mais tarde, em 12 de dezembro de 1949, seria iniciado maçom. Por aqui o os comerciantes se viam às voltas com o apetite sempre voraz do fisco. A Associação Comercial da cidade, fundada em 1920, trabalha, junto ao interventor Dr. Adhemar de Barros, para que se defina uma política fiscal que não estrangule tanto o comércio, já bastante comprometido em razão das dificuldades impostas pela guerra. Pontificam nessa luta os Irs .’.Francisco Franco e Salim Elias Bacachi.
Em Mogi das Cruzes o prefeito é o Dr. Renato Granadeiro Guimarães. Desde o dia 21 de abril de 1938, até o dia 9 de fevereiro de 1940, a União e Caridade IV permaneceria fechada tendo em vista o Decreto emitido pelo Presidente Getúlio Vargas, que proibiu a atividade de todas as Lojas maçônicas no país. As Lojas maçônicas foram vistas como “fração de pensamento”, núcleos de rebelião e disseminadora de doutrinas antipáticas à ditadura que ele impôs ao país, inadmissível para um regime que se pretendia integrador da vontade nacional. Contribuiu bastante para isso a pressão feita pela Igreja Católica, que na constituinte de 1934 conseguiu eleger uma grande maioria de deputados católicos.
Dessa forma, a separação formal e ideológica entre a Igreja e o Estado, que havia sido aprovada na Constituição liberal de 1891, foi revivida na Carta autoritária de 1937, sendo o catolicismo promulgado como religião oficial do Estado. Inicia-se o processo de favelização nas grandes cidades, forçado principalmente pelas ondas migratórias do sertão nordestino em direção aos grandes centros urbanos. Na pauta uma grande revolução nos costumes: começa a luta efetiva pela emancipação feminina. Essa tendência, que começara durante a Primeira Guerra mundial, quando as mulheres foram forçadas a abandonar as tarefas do lar para substituir os homens nas fábricas, nos hospitais, no serviço público e nas demais unidades de produção e da vida social, se acentuou de tal forma durante a segunda guerra, que não pode mais ser revertida. O direito de voto elas já haviam conquistado em 1932. As esposas dos maçons, que até essa época eram mantidas completamente estranhas ao movimento, começam, a partir dessa época, a participar ativamente dos trabalhos de filantropia praticados pelos irmãos.
Reabertura da Loja
Em 1940, o governo fascista de Getúlio Vargas permite a reabertura das Lojas maçônicas, naturalmente sob uma estreita vigília. É nessas condições que, em 9 de fevereiro de 1940, a União Caridade IV volta a operar. Para o cargo de V Ir.’. M Ir.’. da Loja foi reeleito, nesse ano, o irmão Gumercindo Coelho, conceituado professor na vida profana. Esse Ir Ir.’. dirigiu a Loja durante os anos de 1940/41 e seria reeleito para o biênio 1944/45. Voltaria a portar o primeiro malhete nos biênios 47/48, permanecendo até 1952, e novamente em 54/55. Foi um dos irmãos que mais vezes e tempo exerceu a Venerança da Loja.
No biênio 1942/43 foi eleito V .’. M .’. o Ir.’. Pascoal Grande, no biênio 45/46, o Ir.’. José de Souza Boigi, e no biênio 46/47 a Loja foi dirigida pelo Ir.’. Galdino Alves Pereira.[4]
Desde 1º de setembro de 1941, entretanto, quando os Estados Unidos entraram oficialmente na guerra, o governo fascista de Getúlio Vargas já estava numa saia justa. Embora se desconfiasse que ele era simpático às ditaduras de Hitler, Mussolini e Franco, Getúlio sempre ficou em cima do muro, mantendo um neutralismo eqüidistante, só observando para que lado a vitória penderia. Mas o Brasil estava na órbita política e econômica dos Estados Unidos e logo seria obrigado a escolher um lado. Foi assim que em 28 de janeiro de 1942, o país rompeu relações com os países do Eixo e no mês de fevereiro daquele ano começaram as agressões da marinha alemã contra os navios brasileiros. A guerra contra as potências do Eixo foi oficialmente declarada em 22 de agosto de 1942. Mais de 600 pracinhas mogianos foram convocados para o serviço nas forças armadas, inclusive vários sobrinhos.[5]
A redemocratização do país iniciou-se após a queda de Getúlio, provocando uma grande ebulição nos meios políticos do país. As Lojas maçônicas, recentemente reabertas, sempre foram um tambor dos movimentos revolucionários, e nesse caso não fez diferente. Os acontecimentos pelos quais passava o país refletiam, naturalmente, nos trabalhos da Loja. Uma intensa movimentação política toma conta de Mogi das Cruzes, com a fundação de diversos partidos políticos, nos quais é possível perceber a presença de inúmeros irmãos.
Assim é que encontraremos em diversas Atas de reunião registros de discursos inflamados de irmãos contra o nazismo e o fascismo; várias alusões ao extermínio a que estavam sendo submetidos os judeus, moções de agradecimento e louvor aos pracinhas mogianos que faleceram no conflito e aos que retornaram vitoriosos. Nota-se também, pelas falas dos Ir Ir.’. em Loja, o grande apoio prestado às idéias de redemocratização do país e principalmente à Eleição de uma Assembléia Constituinte, que foi marcada finalmente para 2 de dezembro de 1945.
Nota-se também o maciço apoio dado ao General Eurico Gaspar Dutra para as eleições presidenciais daquele ano.
A guisa de curiosidade citamos as seguintes Atas que se referem a assuntos relacionados com o conflito europeu e a participação de mogianos nela: Ata 118 - 23/03/45 recebe oficio da loja Rei Salomão de São Paulo lamentando o extermínio de 5.000.000 de judeus pelos nazistas; Ata 119 -: propõe um minuto de silencio pelo falecimento do presidente dos USA, Franklin Delano Roosevelt : Ata 122, registra uma seção de comemoração, com hasteamento das bandeiras nacional e da Loja pela vitória dos aliados : Ata 133 – Seção de homenagem ao filho do irmão Galdino Alves, que juntamente com outros expedicionários da FEB, residentes em Mogi, retornaram vitoriosos e foram homenageados pela Loja; Ata 138 , comunicando que o GOB proibiu por ofício que as Lojas do seu Oriente admitam profanos de origem alemã, e que aqueles que fossem membros de alguma Loja da sua potência e professassem doutrinas nazistas fossem afastados dos quadros dessas Lojas; Ata 140; o GOB orienta as Lojas para não aceitarem profanos que defendem o credo comunista.[6]
Digno de nota também o fato registrado na Ata nº 111 de 01 de dezembro de 1944, em que a União e Caridade IV construiu o seu primeira Templo, situado à Rua Moreira da Glória, nº 218, onde ficaria até se mudar para a atual sede, na Rua Ipiranga.
Outros fatos dignos de nota foram: Iniciação do Ir.’. Antonio Nogueira, que seria mais tarde prefeito de Mogi das Cruzes(1944); Em 1941 a iniciação de vários Ir.’. muito conhecidos na cidade e que fizeram história na Loja, tais como Ari de Barros, José Inácio dos Santos Bicudo, Ângelo Pereira Passos Nesclar Faria Guimarães e José de Souza Boigi, José Colela, Albano Rodrigues e Garibaldi Rose.
.Atividades dos Irmãos
Nos anais da História de Mogi das Cruzes, iremos também encontrar vários maçons valorosos atuando ativamente na vida política, econômica e social da cidade, promovendo o seu desenvolvimento e engrandecendo a Maçonaria. Assim temos o Ir Ir.’. José de Souza Boigi sendo nomeado interventor do município em 31 de maio de 1943, cargo que ocuparia até ser substituído por Cicero Alves dos Anjos. Vários maçons participam da fundação da Sociedade Amigos de Mogi, cujo primeiro presidente foi o Ir.’. Isidoro Boucalt. Essa sociedade iria ter uma intensa participação na vida social e política da cidade nos anos quarenta. Vários irmãos da Loja participam também da fundação da Liga Humanitária de Mogi das Cruzes, conhecida como “Vila dos Pobres”, instituição destinada a abrigar pessoas carentes da comunidade. O irmão Gabriel Pereira Filho é nomeado o primeiro diretor do Grupo escolar Aprígio de Oliveira. Os irmãos Salim Baccach e Galdino Alves Pereira, presidem o União Futebol Clube; o Irmão Pascoal Grande assume como primeiro diretor do SENAI em Mogi; o irmão Antonio Martins Coelho, eminente professor e jornalista, Venerável Mestre nos biênios 1927/28 e 28/29, falece em Mogi, deixando uma grande lacuna nos quadros da Ordem. O irmão Amilcar de Mello, professor, é diretor da Escola de Comércio Brás Cubas; No dia 15 de setembro de 1950, a Loja adquire o terreno da Rua Ipiranga, esquina com a Rua Lara, para a construção da sua sede. Imediatamente começa a campanha para a construção do Templo.
Veneráveis nos anos quarenta
Ocuparam a Venerança da Loja nos anos quarenta os seguintes irmãos: Gumercindo Coelho (1940/41, 1944/45, e 1947 até 1952); Gabriel Pereira Filho (1942/43); Francisco Franco de Souza (1943/44); José de Souza Boigi (1945/46); Galdino Alves Pereira (1946/47). Em 1947 o Ir.’. Gumercindo Coelho assumiu o cargo de V .’. M .’. e o conservou até 1952, quando o entregou ao Ir .’. José de Souza Boigi.
[1] Isaac Grimberg- História de Mogi das Cruzes, citado.
[2] Robson Regato e Vanice Assaz- Histórias do Comércio Mogiano, ACIMC, 1988
[3] Nosso Século- Brasil 1910-1930. Abril Cultural, Ed. Clube do Livro, São Paulo, 1985
[4] Atas 65 a 173, anos de 1940 a 1946.
[5] Isaac Grimberg: História de Mogi das Cruzes, citado
[6] Informações coletadas pelo irmão J. Brito Castro.
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RESUMO DO CAPÍTULO IV DO LIVRO "CEM ANOS DE MAÇONARIA"- LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E CARIDADE IV- EM CONSTRUÇÃO. QUALQUER INFORMAÇÃO SOBRE OS FATOS E PESSOAS CITAMAS ACIMA ´PODERÁ SER POSTADA NESTE SITE SOBRE A FORMA DE COMENTÁRIO OU ENCAMINHADA DIRETAMENTE PARA O email jjnatal@gmail.com
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