A Quaresma de antigamente que na minha alma ainda é presente!
Como bem sabemos a Quaresma, este peculiar período de reflexão, nos trás momentos de intensa comunhão e de interiorização. Pois, é ela que representa, em todos os tempos, a travessia, o transpor, do velho para o novo que nos leva sempre à reafirmação da Antiga Aliança com o Supremo Criador.
È este um período de recolhimento e, também, de renascimento, a chamado ressurreição, como queira os cristão. Ou libertação, para os povos judeus, filhos da Antiga Tradição!
De qualquer forma, esta fase quaresmal é uma caminhada... Uma jornada de Alma, uma via interior para os mais sensíveis, despertos à evolução. E, especialmente, para os dispostos à comunhão, independente de crença ou até mesmo de religião.
Ao menos esta é minha compreensão, seja verdade ou não!
Assim, o tempo vai passando em meio a tantas celebrações.
Veja você, o tempo voou e já estamos perto da grande comemoração. Do Sábado da Aleluia, o dia de malhar o Judas, e do Domingo de Páscoa ou da Divina Confraternização!
Não importa muito as razões de nossas comemorações. Sejamos budistas, maometanos, judeus ou cristãos, contanto que nossas ações sejam sempre uma forma de devoção e promova entre os homens um pouco do espírito do perdão.
Aqui, acolá. Nas igrejas, nos templos, nas mesquitas ou nas sinagogas, mas sempre com amor ao próximo e de profunda veneração.
Ainda, de respeito pelo sagrado. E, também, por tudo que foge um pouco da nossa racional compreensão, já que tudo que neste período se encerra diz muito mais aos nossos corações.
Devo confessar que minha à Alma já meio antiga, pelo passar das idades, vem lembranças dos tempos de criança, lá no interior, quando a Quaresma, para todos, era um intenso período de respeito e devoção.
Muitas coisas eram proibidas. Comer carne, nem pensar. Cantar então, só se fosse as mais simples músicas que lembrassem as orações.
E, quer vocês acreditem ou não, até as rádios, nossos principais meios de comunicação, faziam nesta época especiais programações.
Tudo era quieto, quase parado. Não havia vendavais. Mas, ao longe entre as árvores ou mesmo próximo, nos jardins, todo mundo ouvia o canto intenso e constante das cigarras, com curiosidade e muita atenção!
Nesta época, minha mãe, a velha e dura senhora, dizia com convicção que era o choro de lamento dos animais, entristecidos pela infeliz lembrança da grande traição.
Hoje, como já não sou menino, sei que era o período do acasalamento, da procriação.
E o roxo, esta cor que não me sai da mente desta época de recordação, estava por todos os lugares em que faziam preces e se exaltava o perdão.
Era esta cor que impedia o olhar da gente de contemplar as imagens dos santos. Menos daquelas, em forma de pequenos quadros ao longo das paredes, que retratavam as significativas passagens da Paixão.
Mãe dizia, logo cedo quando eu acordava: “Menino cuidado! Não vá pescar no ribeirão, nem ande sozinho pelo mato, em busca de frutas ou de estilingue na mão, você pode avistar uma assombração! Pois, é chegada hora de muita emoção e das lembranças da dor causada pela Crucificação”.
Ela insistia, quase todos os dias: - “Cuidado, para não cometer mais pecado! Pois, este mundo danado é feito para a nossa expiação. Aproveita então, menino levado, para se livrar dos erros, fazer preces e caridade de montão!”.
Pobre de mim ou rico de mim, que nasci no tempo em que tudo isto era uma bela tradição!
Certo é que se aqui cheguei com a Alma rica de lembranças e gratidão, foi por que, quando menino, ainda havia muito respeito por todas as Leis da Criação, as pessoas se cumprimentavam nas ruas, os vizinhos com os outros se preocupam e o nosso maior medo era de cachoro louco, mula sem-cabeça ou mesmo de assomabração. E a Quaresma então, em especial, era para todos um intenso momento de Paz e Devoção!