NA ERA EM QUE O MUNDO PIROU!
Sentada na sala ela, inquieta, aguardava a sua vez de falar.
"Há algo de estranho na vida de hoje" reclamou ao colega que lhe acompanhava.
Aquele "algo de estranho" me tocou a atenção porque já faz certo tempo que observo algumas transformações sociais, às vezes tão rápidas e tão profundas, que penso serem ficções do meu sentimento.
Então começamos a conversar sobre o assunto e ela, apesar de bem jovem, falava com tanta desenvoltura sobre "mercado de valores atuais" que me convenceu de que minha incômoda sensação das mudanças é bem realística.
É de se admirar quando os conflitos das gerações atravessam o seu individualismo para alcançar a visão centrada da extensa fragmentação dos valores sociais que ocorreu nos últimos anos.
FRAGMENTAÇÃO DOS VALORES: eis a gênese dos conflitos aterrorizantes de hoje em todos os setores da vida social.
Sequer os mais jovens, porém bem conduzidos pelo meio e antenados no todo, conseguem no presente momento coabitar recompensados com a qualidade de mundo atual, tão fragmentado.
O mundo pirou! dizia ela, dentro duma convicção que há muito me habita.
De fato há uma "piração geral", uma inquietação globalizada, uma insatisfação subdiagnosticada, uma perda dos parâmetros e do rumo da vida que faz sentido.
A resultante violência humana, então, está por aí, a assustar nas esquinas e a eclodir até nos campos de futebol.
Paralelamente o registro das estatísticas das doença sócio -mentais explode entre nós, por todos os cantos do mundo, mesmo nas Nações de primeiro mundo.
Fato é que também globalizamos nossas mazelas humanas tão desumanizadas, a incoerência da nossa crescente insensatez que o progresso tecnológico não consegue resolver.
Criamos um meio inóspito ao Homem e temos muita pressa de seguir para um rumo desconhecido. Desejamos desejar a maioria do que não precisamos.
Nos nossos computadores curtimos e compartilhamos uma vida online com extrema avidez porque na verdade perdemos a capacidade de enxergar nossa vida real "otimizada" com a mesma velocidade que existimos na vida virtual. Longe de ser mais segura.
Somos seres paralisados pelo medo da nossa moderna realidade.
No nosso habitat já não há mais gentileza, solidariedade, respeito, educação, consideração. Seres andróides, 'maquinizados" e fragmentados, deflagrados por botões que acionamos pela nossa discutível e paradoxal inteligência.
Enlouquecemos por pura fragmentação da felicidade existencial.
É certo: há algo de muito estranho além desse recente céu que enxergamos e que já não nos é mais o limite.
Porque para além dele perdemos o limite da nossa própria dimensão.