Alegoria da Caverna de Platão x Espiritualidade

O Mito da Caverna apresenta a dialética como movimento ascendente de libertação do olhar intelectual que nos livra da cegueira para vermos a luz das idéias. Mas descreve também o retorno do prisioneiro para convidar os que permaneceram na caverna a sair dela, ensinando-lhes como quebrar os grilhões e subir o caminho. Há, assim, dois movimentos: o de ascensão (a dialética ascendente), que vai da imagem à crença ou opinião, desta para as matemáticas e destas para a intuição intelectual e a ciência; e o do descenso (a dialética descendente), que consiste em praticar com outros o trabalho para subir até às idéias.

O relato da subida e da descida expõe a paideia como dupla violência necessária para a liberdade e para a realização da natureza verdadeira da alma (ao meu ver, essa subida e descida da caverna seria o ciclo reencarnatório): a ascensão é difícil, dolorosa, quase insuportável; o retorno à caverna, uma imposição terrível à alma libertada, agora forçada a abandonar a luz e a felicidade. A dialética, como toda técnica, é uma atividade exercida contra uma passividade, é um esforço para obrigar uma pessoa a se atualizar, um trabalho para concretizar um fim, forçando um ser a realizar sua própria natureza. No Mito da Caverna, a dialética leva a alma a ver sua própria essência ou forma, isto é, conhecer, vendo as essências ou formas, para descobrir seu parentesco com elas, pois a alma é parente da idéia como os olhos são parentes da luz.

Nesta maravilhosa alegoria, Platão nos narra a história de um homem, que sai do mundo onde vive, uma caverna, abandonando seu povo, para ir atrás da luz, e lá chegando descobre que o mundo que conhecia até então, não passava de um reflexo do mundo real. E que tudo que entendia como real, não passava de mero reflexo. Atingindo o mundo real (mundo da luz), vê como as coisas são realmente belas, e como a caverna era escura, precária e limitada; e que não passava de um prisioneiro nela. No entanto, não pode evitar sentir pena de seu povo, e decide voltar para contar-lhes do que viu, e convencê-los a libertarem-se também. De volta à caverna o prisioneiro fica cego novamente, mas, agora, por ausência de luz. Ali dentro, é desajeitado, não sabe mover-se direito nas sombras nem falar de modo compreensível para os outros, não sendo acreditado por eles. Torna-se objeto de zombaria e riso, e acaba sendo morto pelos que jamais se disporão a abandonar a caverna.

Achei incrível como um texto escrito acerca de 400 anos antes de Cristo, possa tão perfeitamente exemplificar seus ensinamentos. Vendo a caverna como a terra, nós o povo na escuridão, acreditando que o materialismo e os prazeres mundanos, são a única realidade que há; o homem que escala a caverna atrás da luz, é um homem como nós, que percebeu que existe algo além da caverna, e a escala (passagem esta que faz lembrar de Buda, um homem como nós, que atingiu a iluminação). E como se escala a caverna? Através do trabalho, do estudo, do conhecimento. Ao sair da caverna chega a um mundo iluminado, onde vê as coisas como realmente são, ou seja, ao mundo dos espíritos. Um mundo melhor que o nosso, e de onde todos nós viemos. Entendo Jesus um homem como nós, com vidas passadas terrenas, que se elevou, e viu a verdade, e tomado de amor e caridade, decidiu retornar a caverna, e nos mostrar a verdade, contar das coisas lindas que viu; ou seja seus pensamentos e ensinamentos. E o que fizemos quando Cristo esteve na terra para nos ensinar a quebrar os grilhões e subir o caminho? Desacreditamos; rimos e zombamos; e por fim o matamos, como fez o povo da caverna no conto de Platão. Os exemplos estão aí, as historias já foram contadas por diversas vezes, seja por Platão, Buda ou Cristo, a verdade será sempre a mesma, queira você acredite ou não. A subida é árdua, e difícil, mas é o único meio de vermos a verdade, caso contrario apenas passaremos o restante de nossa existência no fundo de uma caverna escura nos aprazendo com sombras.

FSantana
Enviado por FSantana em 16/03/2012
Reeditado em 16/03/2012
Código do texto: T3557304