Apertado

Ontem fui dormir e me deitei tranqüilo, assisti um pouco de televisão, qualquer programa, era preciso apenas espairecer do dia que passou. Mas um pensamento sem controle veio. Dormi mal.

O problema é que um pensamento desse nunca vem sozinho, sempre carrega consigo fatos (nem sempre reais) que aconteceram recentemente, sempre com alguém importante, nunca tem como alvo coisas.

De manhã não pensei no bom dia que seria, não agradeci a Deus por mais um dia, não comecei com o pé direito. De manhã, a primeira coisa que fiz foi pensar, repetir o pensamento que me tirou o sono.

Parece brincadeira mas naquele momento uma mão grande começou a espremer meu coração. Ele pesou, pesou muito. Não batia mais acelerado mas cada batimento era murro que sentia no peito, tive vontade de arrancá-lo, mas não podia.

Me restou apenas conviver com isso, as tarefas, as obrigações do dia não iriam me liberar por conta de qualquer angustia, caminhei devagar os primeiros passos do dia e deixei a mente na cama, pensando, repensando, mastigando aquele pensamento que trouxe a aflição nos braços.

De verdade, queria me curvar para suportar o peso no peito, mas seria ridículo e não teria nenhuma efetividade. Fui a praia quando pude, mas o mar não me pareceu interessante naquele dia, eu não conseguiria afogar este sofrimento sem me afogar antes.

Todos os meus sorrisos naquele dia foram verdadeiros, mas todos poderiam ter sido mais abertos, poderia ter gargalhado mais, não chorei, mas sinto que se chorasse, o faria na medida certa, mas eu não reservo minhas lagrimas a meus amigos, meu orgulho tampa meus olhos para esse tipo de fraqueza.

O aperto continuava, as pernas não paravam nem quando deitado, alias, não havia posição boa para deitar, não havia postura correta na cadeira, não havia nada na geladeira que me ocupasse o tempo e desviasse o foco.

Foco, naquele aprendi a ter foco, não aprendi a controlá-lo. Foquei todos os minutos em uma coisa que não poderia solucionar sozinho, algo que talvez eu mesmo não tinha idéia do tamanho, poderia ser ínfimo mas a importância que dava o tornava um gigante com um bastão e eu, de mãos vazias.

O dia se arrastou, pareceu ter o dobro de horas de um dia comum, todas as janelas por onde a solução podia entrar eram observadas, o celular que acende antes de começar a tocar era observado minuto a minuto e cada toque fazia a mão apertar mais e ainda mais quando não tinha a resposta que queria. Alias, parece que naquele dia tudo resolveu fazer contato, menos quem devia.

Eu não pude fazer nada naquele sábado, o dia acabou e eu não resolvi, tentei deixar pra lá, falei que deixaria pra lá. Não deixei.