O dia em que a presidente chorou.
O Estadão de hoje, sábado, estampou na primeira página: "Dilma chora, fala do "fardo" de governar e pede união a aliados".
Suponho que o inusitado da atitude da nossa presidente, e que motivou a capa do jornal, foi o fato dela chorar.
Como se chorar não fizesse parte do cotidiano das mulheres e como se ela, ocupando o principal cargo político do país, não pudesse ter uma reação frugal e nada espantosa como de chorar.
Como se ela, do alto do Olimpo, estivesse com seus sentimentos blindados, acéfalos e desprovidos de quaisquer sinais de vida.
Como se ela, tendo que reger esta orquestra falha e defeituosa, a máquina administrativa federal, não pudesse sentir dor na sua alma
e simplesmente deixar as lágrimas brotarem dos seus olhos, sem que isso deixe ninguém estupefato.
A Dilma é uma guerreira. Não cabe nesta afirmação quaisquer conotações partidárias ou ideológicas.
Ela é uma guerreira porque conseguiu galgar o topo da pirâmide de um país que ainda cultua a verve machista, de um país abundante em preconceitos e que, a rigor, rejeita quem não fizer parte do modelo "padrão", refiro-me à figura da mulher casada, tendo sempre o seu consorte à tiracolo.
Conversei há algum tempo com humorista português que comentou que na sua terrinha faziam piadas mil da nossa presidente explorando a sua suposta opção sexual, como se isso fosse impeditivo para que fizesse um bom governo e conduzisse os rumos do país com justiça, transparência e a melhor das intenções.
Curiosa esta forma de abordagem dos nossos irmãos portugas, porque no Brasil, seja por respeito, seja por desconhecimento, seja lá o que for, nunca levantou-se esta bandeira que entendo como inadequada, nociva e que não leva à nada.
Certamente não foi esta a última vez em que a presidente chorou.
Seu coração de mãe, talvez um tanto endurecido pelos percalços que a vida lhe brindou, deve sentir pena dos brasileiros que passam fome, deve sentir repulsa daqueles que roubam e matam sem a menor culpa, deve sentir asco por ver tantas crianças de pé no chão e fora da escola.
Certamente seu coração de mulher deve purgar-se diante da forma como estamos destruindo tantos recantos de um país com natureza privilegiada como o Brasil.
Deve sentir ânsia de vômito diante da ineficiência do sistema de saúde, da falta de mais postos de trabalho, do descaso de governantes municipais, estaduais, deputados e senadores com relaçâo ao uso do dinheiro público, que são manipulados como se fossem deles. E fazem isso com a cara de pau que Deus lhes deu.
Tudo isso, e uma infinidade de outras coisas mais, devem fazê-la sentir o peito apertado e uma vontade desenfreada de mudar tanta coisa desse mundo, tanto coisa nesse nosso mundo chamado Brasil.
Querida presidente Dilma, chore o quanto quiser, o quanto precisar, o quando lhe der na telha. Você tem todo esse direito.
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