O outro lado da tragédia com Jet Sky em Bertioga e no brinquedo do Hopi Hari: fatalidade, negligência e impunidade.
Muito já se falou sobre os dois tristes episódios destes últimos dias. Sabemos o quanto estamos sujeitos aos imprevistos e fatalidades. Podemos pegar um ônibus que, desgovernado, cairá numa ribanceira porque seu motorista teve mal súbito. Ou sermos intoxicados por uma maionese que não tinha sido devidamente armazenada no freezer.
Mas os dois acontecidos em Bertioga e no parque de diversões de Vinhedo revelam outra cruel faceta do nosso cotidiano: o descaso dos responsáveis por questões básicas, como não permitir que menores e inabilitados possam fazer uso de um veículo que chega à velocidade de 80 quilômetros em 2,9 segundos ou deixar de fazer a checagem individual para saber se os ocupantes de um brinquedo estão devidamente seguros para subirem à uma altura de 30 metros e depois descerem em alta velocidade.
Nos dois casos, desculpas e justificativas para "tirar o seu da reta" não faltaram. Nem faltarão. Advogados são pródigos para orientar seus clientes no que dizer, no que enfatizar, no que omitir. O que pesa de fato é a dor destas famílias, cuja alegria foi esfacelada para sempre de um modo infitivamente cruel.
Quem é pai como eu, sabe o quanto preocupa estes exemplos de descaso e desrespeito humano, porque nossos filhos estão diuturnamente expostos às situações de risco.
Quanto mais que os orientemos, ou nos esforcemos para orientar, e quanto mais fortes forem as nossas preces para que nada de mal os atinja, o fantasma de um acidente nunca pendura suas chuteiras nos nossos corações.
Pensar que tudo isso não vai dar em nada, tortura de forma implacável, porque sabemos o quanto a nossa justiça é lenta, falha, vulnerável e nada imparcial como, em tese, deveria ser. E como a nossa justiça trata diferente pobres e poderosos, estabelecendo privilégios absurdos para as castas mais abonadas, deixando que as pessoas comuns apodeçam nas cadeias, enquanto os ricos se safam da história quase como os mocinhos da história, com aquele deprezível riso de escárnio.
Esta inversão de valores faz a nossa alma virar do avesso, dá nojo e ânsia de vômito constatar que se conseguirá achar um jeito de provar que o jet ski saiu andando sozinho e que o brinquedo do Hopi Hari estava em plenas condições de segurança.
Chega de querer tirar o corpo fora, chega de fugir da raia como um verme covarde diante do seu feitor.
Se errou, seja lá quem for, que pague pelo seu erro.
Que os nossos governantes tenham a capacidade e a decência para rever as regras do jogo jurídico, de forma que a punição ocorra da forma que deve ser, com toda sua amplitude, urgência e envergadura.
Hoje foram aqueles pais que tiveram que enterrar seus pequenos filhos.
Amanhâ poderá ser eu ou você.
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