REVOLTA DE BÚZIOS/CONJURAÇÃO BAIANA/ REVOLTA DOS ALFAIATES/REVOLTA DAS ARGOLINHAS/INCONFIDÊNCIA BAIANA...
A História pode ficar escondida dentro da própria História.
Quando se nomeia um mesmo movimento ou fato histórico com vários nomes diferentes, fragmenta-se a informação e cria-se uma certa confusão na cabeça dos que menos se aprofundam no tema,a final, montar um quebra-cabeças onde as peças vem semeadas em várias caixas diferentes não é tarefa das mais lúdicas ou agradáveis.
Talvez por isso a Inconfidência Mineira, cuja importância não se pode negar, sobreponha-se tão amplamente aos demais movimentos libertários que ocorram em nosso País.
Verdade é que os principais inconfidentes mineiros pertenciam todos, talvez com exceção do Tiradentes, único executado (segundo a lenda sobre a qual hoje existem controvérsias), pertenciam a segmentos abastados da sociedade Mineira que ao fim ao cabo foram poupados de punição.
Já no movimento baiano, muito mais amplo e multissonante, as massas de negros forros e brancos pobres desempenharam o que poderíamos chamar de papel principal no evento.
A maioria dos conjurados era composta de escravos, soldados e alfaiates, além de pequenos comerciantes e empregados em outras funções, incluindo-se ai um bom número de mulheres.
A luta sócio-política dos revoltosos não era apenas pela independência do Brasil, incluía a abolição da escravatura e um governo onde a liberdade, igualdade e fraternidade não se restringisse a alguma cor de pele, mas abrangesse a todos de igual modo, dando condições àqueles que tivessem mais dedicação e inteligência ascendessem a qualquer cargo ou posição social independente da cor de sua pele ou de seu berço.
Não podemos dizer que o movimento fosse uníssono pois vários de seus líderes tinham idéias diversas sobre a condução da utópica sociedade.
A verdade é que os manuscritos iluministas, traduzidos para o português, contrabandeados para cá pela Loja Maçônica dos Cavaleiros da Luz e os livros em Francês de alguns dos intelectuais do movimento que, segundo a investigação "não participaram ativamente do mesmo" deram o mote para a Conjuração Baiana, também chamada de Revolta das Argolinhas, Revolta dos Búzios, Revolta dos Alfaiates, Conjuração dos Alfaiates, Inconfidência baiana, Conspiração dos Búzios e etc...por aí e vê como fica complicado reunir as informações e montar um cenário palpável já que os menos avisados hão de pensar tratar-se de vários fatos isolados.
O movimento em si, sequer chegou a ser realmente iniciado e ficou resumido à distribuição estratégica de 11 manuscritos conclamando a sociedade a unir-se a eles em busca da liberdade a que todos tinham direito.
Os manuscritos foram pregados naquele domingo, dia 12 de agosto ,em pontos de grande circulação de pessoas na antiga Cidade da Bahia como por exemplo:
Esquina da Praça do Palácio, atual Praça Tomé de Souza;
Nas Portas do Carmo, no Carmo;
No Açougue da Praia, no bairro da Conceição da Praia;
Na igreja da Sé, hoje Praça da Sé e
Na Igreja do Passo, na subida da Ladeira do Carmo
É preciso notar que a população da Salvador daquela época era composta por cerca de 60.000 pessoas em sua maioria analfabetos ou precariamente alfabetizados, fossem eles negros ou brancos. Portanto hão de ter sido muitos poucos os que leram o manifesto sem grande dificuldade. O que valeu para propagar o acontecimento foi que as pessoas se reuniam em volta e alguém lia e muitos ouviam e os boatos e fragmentos do que ouviram iam se espalhando.
Naquele momento o povo sabia que existia um movimento que buscava a liberdade de todos da escravidão imposta por Portugal.
As autoridades, essas sim leram, e muito bem lidos os manuscritos e trataram de dar fim ao problema ainda em seu nascedouro. Identificaram os que consideraram líderes do movimento, o primeiro a ser preso foi Domingos da Silva Lisboa, mulato, escrevente e nascido em Portugal.Em sua casa foram encontrados manuscritos vistos como comprometedores à ordem estabelecida e a comparação das letras com os apócrifos sediciosos indicava sua culpabilidade.
No dia 22, quarta feira nova leva de manuscritos foram jogados por baixo das portas da população e acabaram por prender como seu autor a Luiz Gonzaga das Virgens, soldado de milícia.
Ao total foram 41 prisões, das quais 33 chegaram ao final da devassa.
Desses todos apenas 4 foram condenados à morte por enforcamento e posterior esquartejamento conforme a sentença declara:
" E, pela dedução dos fatos descritos e suas convincentes provas, o que tudo visto, e mais dos autos, condenam os réus
Luiz Gonzaga das Virgens, pardo, livre, soldado,
solteiro 36 anos;
Lucas Dantas de Amorim Torres, pardo, liberto, solteiro, 24 anos;
João de Deus Nascimento, pardo, livre, casado, alfaiate, 27 anos;
Manoel Faustino dos Santos Lira, pardo, forro, alfaiate, 22 anos [...]
a que com baraço e pregão, pelas ruas públicas desta cidade, sejam levados a Praça da Piedade, por ser também uma das mais públicas dela, onde, na forca, que, para este suplício se levantará mais alta do que a ordinária, morram morte natural para sempre, depois do que lhes serão separadas as cabeças e os corpos, pelo levante projeto, pelos ditos réus, chefes, a fim de reduzirem o continente do Brasil a um Governo Democrático." (TAVARES,1994, p.75)
Seus nomes e memória tornados “malditos” até a terceira geração. Os corpos dos quatro enforcados foram esquartejados e expostos nos lugares públicos, à época, intensamente freqüentados.
A cabeça de Lucas Dantas ficou espetada no Campo do Dique do Desterro.
A de Manuel Faustino, no Cruzeiro de São Francisco.
A de João de Deus na Rua Direita do Palácio, atual Rua Chile.
A cabeça e as mãos de Luís Gonzaga das Virgens
ficaram pregadas na forca exibida na Praça da Piedade.
13 de novembro – Em decorrência do mau cheiro e do cenário macabro, foi procedida
a retirada dos despojos após 05 dias expostos.
A retirada se fez com a interferência da
Santa Casa de Misericórdia, que os sepultou em local até hoje não identificado.
Sete foram condenados a ser jogados na costa ocidental da África, fora dos domínios de Portugal.
Era uma outra forma de condenação à morte.
José de Freitas Sacota e Romão Pinheiro, deixados em Acará, domínio da Holanda;
Manuel de Santana, em Aquito, domínio da Dinamarca;
Inácio da Silva Pimentel, em Castelo da Mina;
Luís de França Pires, em Cabo Corso;
José Félix da Costa, em Fortaleza do Moura;
e José do Sacramento, em Comenda, domínio da Inglaterra.
Cada um deles recebeu quinhentas chibatadas no pelourinho, que estava, naquele tempo, no Terreiro de Jesus, e levados depois para assistirem ao suplício de Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luís Gonzaga e João de Deus, por ordem expressa das execuções.
Pedro Leão de Aguilar Pantoja foi degredado por dez anos no presídio de Benguela.
O escravo Cosme Damião Pereira Bastos, a cinco anos em Angola.
Os escravos Inácio Pires e Manuel José de Vera Cruz foram condenados a quinhentos açoites, ficando os seus senhores obrigados a vendê-los para fora da Capitania da Bahia.
Outros quatros tiveram penas que variavam do degredo à prisão temporária.
José Raimundo Barata de Almeida foi degredado para a ilha de Fernando de Noronha.
Para espiarem as leves imputações que contra eles resultavam dos Autos, como escreveu para Lisboa o governador D. Fernando José de Portugal.
Os tenentes Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja e José Gomes de Oliveira Borges permaneceram na cadeia, condenados a“uma prisão temporária de seis meses”.
Preso no dia 19 de setembro de 1798, Cipriano José Barata de Almeida foi solto em janeiro de 1800.
in "Revolta de Búzios ou Conjuração Baiana de 1798: uma chamada para liberdade - Marli Geralda Teixeira"
Em resumo, apenas a "canalha escrava" como lhes chamava Cipriano Barata, sofreu penas severas e a morte.
O que nos lembra a Inconfidência Mineira, onde a corda apertou (?) apenas o pescoço do alferes Joaquim José da Silva Xavier e os demais saíram ilesos ou quase.
O que a história nos mostra, ou pelo menos a mim demonstra a cada pesquisa que me apraz fazer é que os pobres e os menos abastados, serviram/servem desde sempre como massa de manobra ou "bois de piranha" dos movimentos libertários.
No frigir dos ovos assumem o papel de bodes expiatórios quando as coisas não correm bem, oferendas humanas a Azazel sobre as quais são depositados os pecados de todos os demais.
Ao longo de nossa história os mesmos fatos se repetem, usam-se as massas para encorpar movimentos, como as diretas já, os caras pintadas e etc.
No entanto, tão logo tais movimentos tem sucesso são personificados e atribuídos aos líderes políticos e os operários e estudantes são prontamente esquecidos.
Já quando os movimentos dão com os burros n'água, os mártires sãos sempre os mais miseráveis e menos favorecidos.
Por certo que seria muito difícil aos escravos e aos negros forros geralmente analfabetos, terem acesso à literatura iluminista, não fosse ela lhes repassada por membros da elite branca e intelectual.
Se por caso a Conjuração baiana ou a Inconfidência Mineira lograssem êxito, não se ouviria falar nem do alferes e nem dos alfaiates e soldados martirizados em ambas as revoluções.
No caso da Revolta Baiana, cujos líderes foram apontados como pardos e negros, a história é ainda mais madrasta pois poucos são os que já ouviram falar do incidente com alguma profundidade. Se algum branco tivesse sido enforcado e esquartejado teria ele mil monumentos e logradouros com seu nome assim como o Tiradentes.
Só mui recentemente tem-se dado atenção devida a outros movimentos ocorridos em território nacional.
Não sou historiador, mas gosto de examinar fatos passados para ver como são ainda hoje bastante atuais.
O caldeirão de Santa Cruz do deserto, o fogo de 1951, os campos de concentração no Ceará, o Almirante Negro, são alguns dos temas que já avaliei e sobre os quais escrevi no intuito de tirá-los do esquecimento e jogar alguma luz sobre os fatos.
Por certo muito há ainda a ser dito sobre a Balaiada, a Sabinada, a Revolta dos Malês e até mesmo sobre Canudos, mas tudo isso envolve uma pesquisa para não se cair na leviandade.
De resto vou jogando a semente da curiosidade e esperando que, de algum modo ela se desenvolva em outras pessoas.
Se isso não ocorrer paciência eu ao menos nada perco por aprender.
Salvador, 24 de fevereiro de 2012
A Revolta dos Búzios, Revolta dos Alfaiates ou Revolta das Argolinhas, como ficou conhecido o movimento, recebeu estes nomes devido ao fato dos revoltosos usarem um búzio preso à pulseira para facilitar a identificação entre si, por usarem uma argola na orelha com o mesmo fim e também por que alguns dos conspiradores eram alfaiates. presume-se que os búzios seriam usados como moeda na nova república já que os búzios era moeda correntes em muitos lugares da África Foi formada por pessoas de várias etnias e classes sociais, desde escravos, negros livres, soldados, oficiais militares, sapateiros, carpinas, comerciantes, padres, etc., que aderiram ao Partido da Liberdade.
A História pode ficar escondida dentro da própria História.
Quando se nomeia um mesmo movimento ou fato histórico com vários nomes diferentes, fragmenta-se a informação e cria-se uma certa confusão na cabeça dos que menos se aprofundam no tema,a final, montar um quebra-cabeças onde as peças vem semeadas em várias caixas diferentes não é tarefa das mais lúdicas ou agradáveis.
Talvez por isso a Inconfidência Mineira, cuja importância não se pode negar, sobreponha-se tão amplamente aos demais movimentos libertários que ocorram em nosso País.
Verdade é que os principais inconfidentes mineiros pertenciam todos, talvez com exceção do Tiradentes, único executado (segundo a lenda sobre a qual hoje existem controvérsias), pertenciam a segmentos abastados da sociedade Mineira que ao fim ao cabo foram poupados de punição.
Já no movimento baiano, muito mais amplo e multissonante, as massas de negros forros e brancos pobres desempenharam o que poderíamos chamar de papel principal no evento.
A maioria dos conjurados era composta de escravos, soldados e alfaiates, além de pequenos comerciantes e empregados em outras funções, incluindo-se ai um bom número de mulheres.
A luta sócio-política dos revoltosos não era apenas pela independência do Brasil, incluía a abolição da escravatura e um governo onde a liberdade, igualdade e fraternidade não se restringisse a alguma cor de pele, mas abrangesse a todos de igual modo, dando condições àqueles que tivessem mais dedicação e inteligência ascendessem a qualquer cargo ou posição social independente da cor de sua pele ou de seu berço.
Não podemos dizer que o movimento fosse uníssono pois vários de seus líderes tinham idéias diversas sobre a condução da utópica sociedade.
A verdade é que os manuscritos iluministas, traduzidos para o português, contrabandeados para cá pela Loja Maçônica dos Cavaleiros da Luz e os livros em Francês de alguns dos intelectuais do movimento que, segundo a investigação "não participaram ativamente do mesmo" deram o mote para a Conjuração Baiana, também chamada de Revolta das Argolinhas, Revolta dos Búzios, Revolta dos Alfaiates, Conjuração dos Alfaiates, Inconfidência baiana, Conspiração dos Búzios e etc...por aí e vê como fica complicado reunir as informações e montar um cenário palpável já que os menos avisados hão de pensar tratar-se de vários fatos isolados.
O movimento em si, sequer chegou a ser realmente iniciado e ficou resumido à distribuição estratégica de 11 manuscritos conclamando a sociedade a unir-se a eles em busca da liberdade a que todos tinham direito.
Os manuscritos foram pregados naquele domingo, dia 12 de agosto ,em pontos de grande circulação de pessoas na antiga Cidade da Bahia como por exemplo:
Esquina da Praça do Palácio, atual Praça Tomé de Souza;
Nas Portas do Carmo, no Carmo;
No Açougue da Praia, no bairro da Conceição da Praia;
Na igreja da Sé, hoje Praça da Sé e
Na Igreja do Passo, na subida da Ladeira do Carmo
É preciso notar que a população da Salvador daquela época era composta por cerca de 60.000 pessoas em sua maioria analfabetos ou precariamente alfabetizados, fossem eles negros ou brancos. Portanto hão de ter sido muitos poucos os que leram o manifesto sem grande dificuldade. O que valeu para propagar o acontecimento foi que as pessoas se reuniam em volta e alguém lia e muitos ouviam e os boatos e fragmentos do que ouviram iam se espalhando.
Naquele momento o povo sabia que existia um movimento que buscava a liberdade de todos da escravidão imposta por Portugal.
As autoridades, essas sim leram, e muito bem lidos os manuscritos e trataram de dar fim ao problema ainda em seu nascedouro. Identificaram os que consideraram líderes do movimento, o primeiro a ser preso foi Domingos da Silva Lisboa, mulato, escrevente e nascido em Portugal.Em sua casa foram encontrados manuscritos vistos como comprometedores à ordem estabelecida e a comparação das letras com os apócrifos sediciosos indicava sua culpabilidade.
No dia 22, quarta feira nova leva de manuscritos foram jogados por baixo das portas da população e acabaram por prender como seu autor a Luiz Gonzaga das Virgens, soldado de milícia.
Ao total foram 41 prisões, das quais 33 chegaram ao final da devassa.
Desses todos apenas 4 foram condenados à morte por enforcamento e posterior esquartejamento conforme a sentença declara:
" E, pela dedução dos fatos descritos e suas convincentes provas, o que tudo visto, e mais dos autos, condenam os réus
Luiz Gonzaga das Virgens, pardo, livre, soldado,
solteiro 36 anos;
Lucas Dantas de Amorim Torres, pardo, liberto, solteiro, 24 anos;
João de Deus Nascimento, pardo, livre, casado, alfaiate, 27 anos;
Manoel Faustino dos Santos Lira, pardo, forro, alfaiate, 22 anos [...]
a que com baraço e pregão, pelas ruas públicas desta cidade, sejam levados a Praça da Piedade, por ser também uma das mais públicas dela, onde, na forca, que, para este suplício se levantará mais alta do que a ordinária, morram morte natural para sempre, depois do que lhes serão separadas as cabeças e os corpos, pelo levante projeto, pelos ditos réus, chefes, a fim de reduzirem o continente do Brasil a um Governo Democrático." (TAVARES,1994, p.75)
Seus nomes e memória tornados “malditos” até a terceira geração. Os corpos dos quatro enforcados foram esquartejados e expostos nos lugares públicos, à época, intensamente freqüentados.
A cabeça de Lucas Dantas ficou espetada no Campo do Dique do Desterro.
A de Manuel Faustino, no Cruzeiro de São Francisco.
A de João de Deus na Rua Direita do Palácio, atual Rua Chile.
A cabeça e as mãos de Luís Gonzaga das Virgens
ficaram pregadas na forca exibida na Praça da Piedade.
13 de novembro – Em decorrência do mau cheiro e do cenário macabro, foi procedida
a retirada dos despojos após 05 dias expostos.
A retirada se fez com a interferência da
Santa Casa de Misericórdia, que os sepultou em local até hoje não identificado.
Sete foram condenados a ser jogados na costa ocidental da África, fora dos domínios de Portugal.
Era uma outra forma de condenação à morte.
José de Freitas Sacota e Romão Pinheiro, deixados em Acará, domínio da Holanda;
Manuel de Santana, em Aquito, domínio da Dinamarca;
Inácio da Silva Pimentel, em Castelo da Mina;
Luís de França Pires, em Cabo Corso;
José Félix da Costa, em Fortaleza do Moura;
e José do Sacramento, em Comenda, domínio da Inglaterra.
Cada um deles recebeu quinhentas chibatadas no pelourinho, que estava, naquele tempo, no Terreiro de Jesus, e levados depois para assistirem ao suplício de Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luís Gonzaga e João de Deus, por ordem expressa das execuções.
Pedro Leão de Aguilar Pantoja foi degredado por dez anos no presídio de Benguela.
O escravo Cosme Damião Pereira Bastos, a cinco anos em Angola.
Os escravos Inácio Pires e Manuel José de Vera Cruz foram condenados a quinhentos açoites, ficando os seus senhores obrigados a vendê-los para fora da Capitania da Bahia.
Outros quatros tiveram penas que variavam do degredo à prisão temporária.
José Raimundo Barata de Almeida foi degredado para a ilha de Fernando de Noronha.
Para espiarem as leves imputações que contra eles resultavam dos Autos, como escreveu para Lisboa o governador D. Fernando José de Portugal.
Os tenentes Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja e José Gomes de Oliveira Borges permaneceram na cadeia, condenados a“uma prisão temporária de seis meses”.
Preso no dia 19 de setembro de 1798, Cipriano José Barata de Almeida foi solto em janeiro de 1800.
in "Revolta de Búzios ou Conjuração Baiana de 1798: uma chamada para liberdade - Marli Geralda Teixeira"
Em resumo, apenas a "canalha escrava" como lhes chamava Cipriano Barata, sofreu penas severas e a morte.
O que nos lembra a Inconfidência Mineira, onde a corda apertou (?) apenas o pescoço do alferes Joaquim José da Silva Xavier e os demais saíram ilesos ou quase.
O que a história nos mostra, ou pelo menos a mim demonstra a cada pesquisa que me apraz fazer é que os pobres e os menos abastados, serviram/servem desde sempre como massa de manobra ou "bois de piranha" dos movimentos libertários.
No frigir dos ovos assumem o papel de bodes expiatórios quando as coisas não correm bem, oferendas humanas a Azazel sobre as quais são depositados os pecados de todos os demais.
Ao longo de nossa história os mesmos fatos se repetem, usam-se as massas para encorpar movimentos, como as diretas já, os caras pintadas e etc.
No entanto, tão logo tais movimentos tem sucesso são personificados e atribuídos aos líderes políticos e os operários e estudantes são prontamente esquecidos.
Já quando os movimentos dão com os burros n'água, os mártires sãos sempre os mais miseráveis e menos favorecidos.
Por certo que seria muito difícil aos escravos e aos negros forros geralmente analfabetos, terem acesso à literatura iluminista, não fosse ela lhes repassada por membros da elite branca e intelectual.
Se por caso a Conjuração baiana ou a Inconfidência Mineira lograssem êxito, não se ouviria falar nem do alferes e nem dos alfaiates e soldados martirizados em ambas as revoluções.
No caso da Revolta Baiana, cujos líderes foram apontados como pardos e negros, a história é ainda mais madrasta pois poucos são os que já ouviram falar do incidente com alguma profundidade. Se algum branco tivesse sido enforcado e esquartejado teria ele mil monumentos e logradouros com seu nome assim como o Tiradentes.
Só mui recentemente tem-se dado atenção devida a outros movimentos ocorridos em território nacional.
Não sou historiador, mas gosto de examinar fatos passados para ver como são ainda hoje bastante atuais.
O caldeirão de Santa Cruz do deserto, o fogo de 1951, os campos de concentração no Ceará, o Almirante Negro, são alguns dos temas que já avaliei e sobre os quais escrevi no intuito de tirá-los do esquecimento e jogar alguma luz sobre os fatos.
Por certo muito há ainda a ser dito sobre a Balaiada, a Sabinada, a Revolta dos Malês e até mesmo sobre Canudos, mas tudo isso envolve uma pesquisa para não se cair na leviandade.
De resto vou jogando a semente da curiosidade e esperando que, de algum modo ela se desenvolva em outras pessoas.
Se isso não ocorrer paciência eu ao menos nada perco por aprender.
Salvador, 24 de fevereiro de 2012
A Revolta dos Búzios, Revolta dos Alfaiates ou Revolta das Argolinhas, como ficou conhecido o movimento, recebeu estes nomes devido ao fato dos revoltosos usarem um búzio preso à pulseira para facilitar a identificação entre si, por usarem uma argola na orelha com o mesmo fim e também por que alguns dos conspiradores eram alfaiates. presume-se que os búzios seriam usados como moeda na nova república já que os búzios era moeda correntes em muitos lugares da África Foi formada por pessoas de várias etnias e classes sociais, desde escravos, negros livres, soldados, oficiais militares, sapateiros, carpinas, comerciantes, padres, etc., que aderiram ao Partido da Liberdade.