A MULHER QUE VIVIA DA MORTE.
Conheci na semana passada uma mulher que tem um negócio inusitado: crematório de animais. Fiquei pensando como alguém decide montar algo assim. Porque não deve ser fácil lidar com a dor da perda de um bicho querido e muito menos ter que manusear corpos frios e inertes, muitas vezes em péssimas condições por conta de doenças, maus tratos, atropelamento, etc. Se formos ver pela lógica, é bem melhor transformar o corpo do bichinho em cinzas, num prazo de duas horas, do que deixar os vermes se banquetearem da sua carne em putrefação. A mesma carne que um dia fez parte de um corpo que deu tanta alegria, companheirismo e afeto sem fim. Mas imaginar o nosso cachorrinho sendo cremado, também é uma imagem difícil de digerir. Tenho uma cachorrinha, Mel, uma basset muito querida, que é muito especial para a nossa família. Tenho ciência de que o tempo de vida de um cachorro é bem menor do que o nosso e que, mais dia, menos dia, ela nos deixará. Teremos que decidir na hora o que fazer e qualquer um dos caminhos possíveis será difícil de escolher. Voltando para a dona do crematório, fico pensando como ela deve acordar numa manhã de segunda-feira. Imagino que deverá estar cheia de ânimo, acreditando que será um dia produtivo e isso implicará em lidar com choro, corações feridos e muita dor. Diferente, por exemplo, do ator de teatro que receberá muitos aplausos, do obstetra que trará alegria para pais e mães ou do padre que trará conforto para seus fiéis. É possível que encare como um negócio qualquer, sem quaisquer rebarbas emocionais, talvez assim consiga lidar com as nuances tristes e inquietantes do seu trabalho com menos sofrimento, com menos envolvimento emocional. Vai saber.
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