Photonostalgia

Em alguns momentos olhei pra trás para recordar certos momentos. Penso como as coisas se modificaram e, ainda assim, persistem em ser as mesmas. Lembro de cada folha deixada a mofar em gavetas, lembro da posição dos móveis em determinado período em determinadas casas. O passado tosse seu vento mofado em mim, e eu me entorpeço. Ah, minhas velhas caixas de sapato onde insistia em guardar coisas que creditava valores futuros, mas que nunca de fato usei. Lembro-me das invenções inacabadas, desenhos por fazer... Músicas que nunca fiz, sentimentos que jamais ousei me aproximar em certa idade.

Danço com o passado diversas vezes. Lembro-me, então, de como já me senti algo melhor do que realmente fui. Hoje, noto o quão comum posso ser. Apenas mais um ser provido de certa capacidade intelectual (dizem) a mais que os (outros) animais.

Todos pereceremos, de uma forma ou de outra, mas enquanto isso não ocorre, não posso deixar de sentir meu coração sufucar a cada dia ao sentir que os dias se passam com velocidade absurda.

E aí me cercam olhares que eu gostaria de esquecer, palavras ditas que não deveriam nunca ter se feito ouvir, palavras não ditas que certamente mudariam o curso de águas turvas.

Quando a nostalgia vem para jantar, eu a ofereço um lugar para passar a noite. Sua companhia me recorda o penoso fato de que talvez o que mais me angustie é que palavras jamais transfigurarão sequer um terço de toda a vivacidade de meus devaneios. Por isso amo os símbolos.

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 01/02/2012
Código do texto: T3474761
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