Casinha Velha
Ele caminhava pela rua deserta, era meio da tarde e o sol escondido nas nuvens dava espaço a sombra e o vento forte, gelado, que vinha do mar. A consequência de seu pensamento era parecido com o que deitar-se na cama e bater aquele papo sincero (e um tanto cruel) com o travesseiro. Sozinho, as casas pareciam sussurrar em seus ouvidos o que ele não queria ouvir. O projeto de vida parecia um tanto inviável se comparado ao cenário que tinha no momento. Como o chinelo de dedo, surrado, sujo de tantas passadas em aguas sujas e lama iria dar lugar ao sapato caro e bem engraxado? A abobora só se tornava carruagem na Disney.
Lembrou-se das promessas que havia feito há muito tempo, antes das preocupações de hoje, antes de perceber que as coisas não vem no esticar dos braços, as mãos, ainda que abertas, estarão vazias se ele não der também largas passadas. Promessas sinceras e carregadas de esperança, carregadas de amor puro, o amor da criança, branco, imaculado. O futuro parecia tão fácil naquela época. Hoje, o futuro esta perigando.
Hoje sente que promessas jogadas ao vento, como aquelas, vão embora e não voltam mais, como uma pipa estancada num dia de ventania, pode-se vê-las dançando no céu, rodopiando e então caem longe, talvez nas mãos de algum garotinho armado com um grande tronco de bambu esperando para capturar a primeira promessa-pipa que der. Tomara que faça bom uso delas.
A rua vai anunciando o próprio fim, ele pensa se a rua representa sua vida, beirando o precipício e lançando-se ao grande mar. As casas cruéis ficaram pra traz e uma nova, humilde, na esquina. A casinha falou de coisas novas e de esperança, não há necessidade de se preocupar agora, é jovem e a vida é longa e repleta de emoções e mudança. As promessas de antigamente eram validas antigamente, hoje, a cabeça era mais inocente. Agora é bem diferente, a cabeça madura pensa melhor, avalia consequências e tem decisões acertadas.
A casa fala mais, fala daqueles que a construíram ali, numa esquina. O terreno era abandonado e coberto por mato, fora construída por um casal muito simples que a ergueu sozinho, desde o primeiro tijolo e morou lá por muitos anos ate que morreram de velhice e ela ficou la, abandonada. Porem, agora era refugio de uma serie de animais que encontram a morte pelas ruas, sente-se feliz por, de uma certa forma, fazia parte da natureza e não mais uma forma artificial.
Disse que a vida foi feita pra dar certo e dar atenção demais a aspectos negativos é amarrar nas pernas grossos grilhões fixados a bolas pesadas de ferro, talvez com força possa-se andar, mas será difícil e devagar. Se a casa da frente é mais bonita, tem janelas grandes, é bem pintada e decorada, talvez abrigue uma família problemática, enquanto a humilde barraca abriga uma mãe amorosa com seus filhos. Não há perfeição.
A rua terminou e lá estava o mar, porem, ele notou que a rua faz uma curva e continua seguindo, refrescada pelo vento e agora, repleta de pessoas. Ainda havia esperança e novas promessas pra fazer.