Ribeira Grande: primórdios do futebol e primeiros futebolistas Breve historial V

Primeiras equipas da Ribeira Grande: Amarelos e Verdes

A provar o interesse que o novo desporto despertava na terra, sigamos dois acontecimentos. Primeiro, já pelo menos a 21 de Maio de 1899, a exemplo do que se passara em Ponta Delgada com os grupos azul e vermelho, formara-se na Ribeira Grande duas equipas: os amarelos e os verdes. Seguramente para introduzir um motivo competitivo, tal como fora feito em Ponta Delgada. Segundo, a imprensa divulgava. São vários os meios de comunicação a dar a notícia: por que razão? A importância que o novo jogo alcançara? Muito provavelmente. A novidade das duas equipas? Certamente.

Voltando às cores: por que terão escolhido o verde e o amarelo para os seus teams? Em Ponta Delgada existiam já os vermelhos e os azuis, pelo que, desnecessário será dizer que os teams da Ribeira Grande não poderiam escolher o vermelho e o azul. Parece um simples exercício de lógica. Ainda que a História não seja uma actividade (Arte ou Ciência) lógica. Mas, de todas as outras cores possíveis, por que motivo terão preferido o verde e o amarelo? Poderiam ter escolhido, por exemplo, o preto ou o branco.

Veja-se o resultado entre as duas primeiras equipas que a Ribeira Grande teve: ‘os amarelos haviam levado a melhor sobre os verdes. O resultado final fora de dois a zero. José Carvalho era capitão dos amarelos e Francisco de Paula dos verdes. A reforçar ainda mais o interesse dos da terra pelo futebol, com ou sem exagero, o jornal acrescentara ter havido numerosa concorrência de senhoras e de cavalheiros . Mesmo que nem sempre nos devamos fiar nestas notícias, não há maneira de o confirmarmos, esta pode continuar a lida ainda como uma prova do genuíno interesse que o público nutria pelo futebol? Talvez. Ou pela novidade? Talvez.

Ribeira Grande: quem foram os primeiros candidatos a aprender regras?

Depois de nos termos ocupado do quando e do onde, vamos falar de quem, dos protagonistas. Que se saiba, do lote inicial de atletas da Ribeira Grande, fazem parte, seguindo a ordem da crónica do jornal que dá a notícia do jogo de 6 de Janeiro de 1899: ‘(…) Jacintho Moniz, Francisco de Paula Velho de Mello Cabral Jr (…).’ Jacinto e Francisco de Paula, muito provavelmente, são dois dos principais responsáveis pela vinda de Aires Jácome Correia, James Darlymple e José de Carvalho à Ribeira Grande. Seriam, como dissemos, pouco depois, os capitães das equipas amarela (o primeiro) e verde (o segundo). A ordem pode indicar o grau de importância dos dois primeiros. Outros dois dos participantes iniciais, foram‘(…) Diogo Tavares Velho de Mello Cabral, Humberto Borges (…)’. Diogo desistiria logo a seguir a este encontro. Humberto, talvez por ser nado e criado na terra, ser da idade de potenciais atletas e conhecer gente da sua idade, foi o escolhido para recrutar novos praticantes? É provável. Jacinto era de fora da terra, não conhecia os cantos da casa e já ia adiantado na idade, ia na casa dos vinte bem entrados. Além do mais, era o mais ocupado de todos: era casado e tinha a farmácia. Contando três dos dezassete elementos iniciais, torna-se clara a importância da família Velho Cabral na introdução do futebol na Ribeira Grande.

Os restantes treze, foram: ‘(…) António de Sousa Nuno, Hermínio de Mello, Manuel Rodrigues, Manuel d’Arruda, António de Sousa Cavaco, Dinis Tavares de Mello, José de Sousa Nuno Jr., Silvano Machado Carneiro, Luís Gonzaga Rapozo, José Duarte, Manuel Ignacio Lopes, João da Ponte e José Jacintho Jacome (…) .

Dois Velho Cabral, são irmãos, Francisco de Paula era irmão de Humberto, sendo, por seu turno, primos direitos de Diogo. Francisco de Paula teria 25 anos, o irmão Humberto, talvez perto dos 19, e o primo Diogo, teria 23 anos de idade. Jacinto da Silva Moniz era o mais velho com 26 anos feitos. Dos restantes: António Sousa Nuno andaria à volta de 28; Hermínio de Melo, cerca de 18; Dinis Tavares de Melo, cerca de 30, Silvano de Melo Carneiro, 16; Manuel Inácio Lopes cerca de 17 anos e João da Ponte andaria nos 48.

Este jogo de ensaio, em que o mais jovem participante tinha 16 anos e o mais velho 48, com uma média de idade de 25, pela variedade de idades, lembra o primeiro grupo conhecido que jogou futebol em Cascais onze anos antes em 1888.

Achamos que provamos com alguma probabilidade

Que teremos provado? Que a primeira notícia conhecida de futebol moderno na Ribeira Grande, do jogo com regras e método, data de 6 de Janeiro de 1899. Mas insinuámos que já se jogaria um futebol espontâneo. Que a segunda notícia, do primeiro jogo a sério, data de 21 de Maio de 1899. Insinuámos, igualmente, a probabilidade de ter havido jogos antes deste de 21 de Maio. Que o primeiro jogo de prospecção decorreu no campo das reses e o primeiro jogo a sério decorreu no campo Luís de Camões. Mas, poderão ter existido outros locais, por exemplo, as Caldeiras da Ribeira Grande. Que as duas primeiras equipas de futebol que existiram na Ribeira Grande, foram os Amarelos e os Verdes. Que os principais protagonistas do futebol com regras são: o farmacêutico Jacinto da Silva Moniz, nascido em São Pedro de Ponta Delgada, mas filho de pais da Ribeira Grande, o proprietário Francisco de Paula Velho Cabral, nascido e morando na Conceição da Ribeira Grande, Humberto Velho Cabral, o angariador de novos atletas, e o treinador José Carvalho, guarda-livros, natural da Maia a residir em Ponta Delgada. Que James Darlymple, o introdutor do futebol moderno m São Miguel e talvez nos Açores, orientou de Ponta Delgada José Carvalho na Ribeira Grande. Mas que os protagonistas do futebolistas do futebol espontâneo poderão ser: irmãos Silva Melo, Armando Carneiro ou mesmo os Velho Cabral. Tal como aconteceu com o grupo de Kopke Ayala em Ponta Delgada, sem prova documental, o primeiro presumível grupo da Ribeira Grande, também sem prova documental, está envolto em sombra. Até que a luz incida e nos afaste a escuridão.

Mário Moura
Enviado por Mário Moura em 27/01/2012
Código do texto: T3464348
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.